Diretor do Centro de Cana IAC, Mauro Xavier, detalha os avanços em mudas pré-brotadas e o impacto das queimadas de 2024 no canavial
26-05-2025

As inovações tecnológicas no manejo de propagação e plantio mecanizado também foram destaques na palestra do pesquisador

Uma série de inovações e avanços no setor sucroenergético, com foco nas práticas de produção de cana-de-açúcar e, principalmente, na qualidade das mudas utilizadas para o plantio foram temas da palestra do diretor do Centro de Cana IAC, Mauro Xavier, na última reunião do Grupo Fitotécnico.

"Falar sobre a qualidade das mudas é um tema essencial para o futuro da cana-de-açúcar", disse, enfatizando o impacto das queimadas de agosto de 2024, que afetaram várias regiões produtoras de cana. Xavier ressaltou que, em 2025, é esperado um crescimento da área de plantio, o que pode ser impulsionado pela necessidade de reforma de áreas atingidas pelas queimadas.

"Existem áreas que não estavam previstas para reforma, mas que provavelmente entrarão em processo devido aos danos causados pelas queimadas. Isso exige uma atenção ainda maior à qualidade do material de propagação, que é a base para a produção de cana", destacou.

Ele explicou que, além das áreas de cultivo, as queimadas também afetaram viveiros, locais reservados para o cultivo de mudas, o que pode resultar em problemas de qualidade do material utilizado para o plantio. Essa situação, que exige uma reflexão sobre a qualidade das mudas, é especialmente relevante para o setor sucroenergético, que depende da propagação adequada para garantir uma produção eficiente e rentável.

Xavier também abordou a complexidade envolvida no manejo da cana-de-açúcar. O diretor afirmou que, quando se fala em "combo da cana", é necessário compreender a multiplicidade de fatores que influenciam sua produção. "A cana-de-açúcar não é algo simples. Existem interações complexas entre clima, solo, nutrição e manejo que impactam diretamente a qualidade do material de propagação. Para entender e melhorar a qualidade das mudas, devemos considerar todos esses fatores", explicou.

O pesquisador fez um alerta importante sobre a diferenciação entre o material de propagação (mudas) e a cana destinada ao processamento nas usinas. "Embora ambas sejam originadas da mesma estrutura vegetativa, os cuidados com cada tipo de material são distintos. A cana destinada à indústria requer um manejo diferente da que será usada para a propagação", disse.

Xavier também lembrou da questão do consumo excessivo de material de propagação e o impacto disso na disseminação de pragas, como os Sphenophorus, que ainda representam um desafio considerável para o setor. Ele ressaltou que, desde 2012, a utilização de mudas de qualidade duvidosa tem sido um problema recorrente, que pode prejudicar a produção de cana e aumentar o risco de pragas nas lavouras.

Um dos pontos mais destacados pelo diretor foi o lançamento do projeto de "gemas selecionadas", iniciado em 2022, com o objetivo de melhorar a qualidade das mudas pré-brotadas. Este projeto, considerado simples, mas altamente eficaz, busca a seleção das melhores gemas para a produção de mudas, em um processo similar ao utilizado em outras culturas, como soja e milho

"Esse projeto tem como objetivo selecionar as melhores gemas, de maneira semelhante ao que já ocorre com outras culturas. Isso melhora a qualidade do material de propagação, o que impacta diretamente na produtividade das lavouras", destacou. A implementação de gemas selecionadas tem o potencial de beneficiar o plantio mecanizado, pois assegura que as máquinas sejam abastecidas com material de alta qualidade.

"Investir no controle adequado das condições de brotação é fundamental para garantir a qualidade das mudas. Com a sala de brotação, conseguimos produzir mudas mais uniformes, com maior taxa de brotação e menor custo de manutenção", explicou Xavier. Ele também destacou que a utilização dessa tecnologia pode reduzir custos operacionais e aumentar a eficiência na produção de mudas, tornando o processo mais sustentável e menos dependente de recursos externos.

Durante sua apresentação, Xavier compartilhou os resultados obtidos com o projeto de gemas selecionadas e o uso das salas de brotação, apresentando números impressionantes. A taxa de brotação das mudas, que antes estava em torno de 65%, agora alcançou 94%. "Esses resultados são um reflexo da qualidade do trabalho que estamos realizando. A taxa de brotação de 94% é uma grande conquista, pois garante que o material produzido seja de alta qualidade, com grande potencial de sucesso no campo", comemorou.

Além disso, apontou que a melhoria na qualidade das mudas não é apenas uma questão técnica, mas também econômica. "Se conseguirmos aumentar a taxa de brotação de 65% para 80%, por exemplo, estamos agregando valor significativo ao processo. Isso se traduz em uma redução de custos e um aumento na produtividade", destacou.

"Precisamos olhar para o futuro e pensar em soluções inovadoras que possam melhorar a qualidade do material de propagação e, consequentemente, a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar. Isso não é apenas um desafio para o Centro de Cana IAC, mas para todo o setor", concluiu.

A próxima reunião do Grupo Fitotécnico de Cana do IAC acontece nesta terça-feira (27), a partir das 13h, a sua terceira reunião do ano. Em formato híbrido, o evento, acontecerá no auditório principal do Centro de Cana IAC, em Ribeirão Preto - SP.

As inscrições para o evento são gratuitas e podem ser feitas pelo link https://linktr.ee/programacanaiac . No momento da inscrição, os participantes devem informar a modalidade de participação desejada.