Em 4 anos, crimes geram R$ 40 milhões em prejuízos ao setor de fertilizantes
12-12-2025

De 2021 a 2024, apenas 14% do transporte de fertilizantes no Brasil foi feito por ferrovias. Foto: Adobe Stock
De 2021 a 2024, apenas 14% do transporte de fertilizantes no Brasil foi feito por ferrovias. Foto: Adobe Stock

Cadeia reforça monitoramento diante da escalada de ocorrências e do impacto logístico no transporte rodoviário

O setor brasileiro de fertilizantes está em alerta. Dados apresentados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), durante um webinar com especialistas, apontaram que roubos, furtos e adulterações de produtos causaram perdas que ultrapassam R$ 40 milhões entre 2021 e 2024.

A maior parte dos prejuízos se relaciona a adulterações, que somaram R$ 26,9 milhões no período. Os casos de roubo e furto geraram perdas de R$ 21,7 milhões. O coordenador do Comitê Security da entidade, Rafael Marson, afirma que a combinação entre falhas logísticas, vulnerabilidades no transporte e ações criminosas se tornou um desafio urgente para empresas e transportadoras.

O comportamento das ocorrências oscila ano a ano e, apesar de haver uma tendência de queda, mantém um cenário preocupante. Em 2022, o setor registrou o maior rombo da série recente, com R$ 17,4 milhões. O número recuou em 2023, para R$ 10,9 milhões, e em 2024, para R$ 9,7 milhões.

Nesses quatro anos, foram registrados 248 casos de adulteração. Após queda significativa entre 2021 e 2022, os casos voltaram a crescer, com salto de 57% de 2023 para 2024. A ANDA explica que muitos desses episódios envolvem cargas originárias do Porto de Paranaguá, rota estratégica para o setor. Já os roubos e furtos totalizaram 222 ocorrências, com uma disparada recente: em 2024, o número dobrou, saltando de 29 para 58.

A concentração regional também chama atenção. Maranhão, Pará, Mato Grosso e Paraná responderam por 91% dos roubos e furtos em 2024, com o Maranhão liderando isoladamente — 70% das investidas criminosas ocorreram em cargas ligadas ao Porto do Itaqui.

Com impactos diretos na segurança operacional, nos custos logísticos e até no abastecimento agrícola, empresas da cadeia de fertilizantes ampliam iniciativas para diminuir riscos. As discussões incluem aprimoramento de processos, reforço da rastreabilidade e intensificação da colaboração com órgãos de segurança.

Transportadoras ampliam programas de prevenção

Durante o evento, especialistas destacaram que o mercado de seguros e logística pressiona por estratégias mais robustas de prevenção. Ana Paula Andriolli, da EuroChem, explicou que transportadoras vêm fortalecendo programas de gerenciamento de riscos, com foco em monitoramento de rotas, rastreamento contínuo de veículos e avaliação criteriosa do perfil de motoristas e empresas parceiras.

Tecnologias como telemetria e dispositivos IoT têm se tornado ferramentas essenciais, permitindo acompanhar em tempo real o comportamento dos condutores, as condições da carga e qualquer desvio de trajeto. Segundo Ana Paula, essa combinação reduz sinistros, melhora a eficiência operacional e pode, inclusive, facilitar negociações com seguradoras, já que empresas com processos mais rigorosos tendem a obter prêmios menores.

Além do impacto financeiro, as boas práticas reforçam a credibilidade das transportadoras e estimulam a modernização do setor. Segundo a executiva, cada operação exige análise individualizada, para que o Programa de Gerenciamento de Riscos seja adequado ao tipo de carga e ao nível de exposição.

Dependência do transporte rodoviário aumenta custos e riscos

O debate também abordou entraves estruturais que contribuem para o aumento das ocorrências. Kleyton Bandeira, também da EuroChem, destacou que o Brasil, terceiro maior produtor de grãos do mundo, tem uma demanda crescente por fertilizantes — que subiu 450% nas últimas duas décadas. As importações já representam 80% desse volume, somando mais de 40 milhões de toneladas por ano.

Apesar da relevância estratégica do insumo, o País depende quase exclusivamente do transporte rodoviário. De 2010 a 2024, 86% das cargas de fertilizantes circularam por estradas, enquanto apenas 14% utilizaram ferrovias. Com trechos extensos, vias desgastadas e custos elevados de combustível, o transporte ficou 21% mais caro entre 2010 e 2022, aumentando o risco logístico e a vulnerabilidade a acidentes e desvios de carga.

Para Bandeira, o cenário expõe uma contradição: um dos setores mais importantes para a competitividade agrícola nacional convive com gargalos logísticos e com uma crescente incidência de adulterações e crimes. Garantir a segurança e a eficiência do transporte, afirma o especialista, é tão estratégico quanto assegurar a oferta de fertilizantes no mercado interno.

Fonte: Estadão