Especialista da Netafim avalia que próximo salto da irrigação no Brasil será digital, mas ainda há barreiras a vencer
18-12-2025

Foto: Divulgação Netafim
Foto: Divulgação Netafim

A agricultura digital no Brasil vive um momento de consolidação, especialmente no manejo hídrico, onde a integração entre sensores, dados e automação começa a transformar a forma como o produtor rural toma decisões no campo.

Embora a agricultura do país já apresente bons índices de adoção tecnológica, a digitalização especificamente na irrigação ainda é uma fronteira a ser expandida. "Hoje, 84% dos produtores utilizam alguma tecnologia, seja aplicativo, plataforma ou sensor. Mas quando olhamos para o ambiente de irrigação localizada e de precisão, estamos só no início", afirma Danilo Silva, gerente agronômico da Netafim.

Segundo ele, o Brasil possui quase 10 milhões de hectares irrigados, sendo a maior parte focada em soluções menos eficientes do que o gotejamento. "Há baixa penetração de sensores e automação nesses tipos de sistemas. Isso mostra uma oportunidade imensa para crescer e desenvolver, e também um papel crucial da irrigação por gotejamento dentro da agricultura digital."

O aumento da variabilidade climática tem elevado o nível de exigência sobre a gestão da água no campo. "A digitalização da irrigação é uma necessidade estratégica. Os veranicos estão mais longos, e quando chove, as precipitações são intensas e mal distribuídas. Precisamos gerenciar com precisão nossos recursos — e isso só é possível com dados", explica Silva.

A tecnologia digital aplicada à irrigação permite controlar o fornecimento de água e insumos de forma exata, ajustando o manejo conforme a necessidade da planta e as condições climáticas. Esse tipo de controle não apenas aumenta a produtividade, mas reduz custos e torna o sistema agrícola mais resiliente às oscilações do clima.

Os gargalos da transformação digital no campo

Mesmo com o avanço do agtech, a adoção da agricultura digital enfrenta desafios estruturais e culturais. "O primeiro ponto é a infraestrutura e conectividade. Ainda há áreas com baixa cobertura de internet, o que dificulta o uso das plataformas. Outro desafio é a capacitação técnica. Há poucos profissionais aptos a interpretar dados e transformá-los em decisões práticas", destaca Silva.

Além disso, a falta de compatibilidade entre plataformas cria um ecossistema fragmentado. "A maioria das empresas oferecem soluções isoladas. Isso impede o cruzamento de informações e reduz o potencial analítico dos dados. É por isso que sistemas integrados, como o da Netafim, fazem tanta diferença."

Segundo Silva, as barreiras à adoção tecnológica também passam pelo comportamento humano. "Muitos produtores ainda confiam apenas na experiência acumulada. É natural, especialmente entre produtores mais tradicionais. Eles acreditam que o histórico e a observação são suficientes para tomar decisões", explica.

Há também o medo do desconhecido. "O produtor, muitas vezes, enxerga a tecnologia como algo caro ou complexo. E, com margens apertadas, ele evita o que considera arriscado."

Esse cenário, no entanto, vem mudando. A nova geração de produtores, mais conectada e orientada por resultados, tem impulsionado a adoção de ferramentas digitais, principalmente quando consegue visualizar o retorno do investimento.

Evidências de campo: dados que se transformam em resultados

Para demonstrar os ganhos reais, a Netafim tem desenvolvido projetos-piloto em diferentes regiões e culturas. Um dos casos mais emblemáticos vem do Vale do São Francisco, em áreas de uva irrigadas por gotejamento e monitoradas por sensores de umidade e pressão. "Identificamos desuniformidade na pressão dos sistemas, o que comprometia a distribuição de água e insumos. Após o ajuste e uso do monitoramento digital, conseguimos economizar cerca de 33% de água e em média R$ 3.500 por hectare em energia elétrica", relata Silva.

Outro exemplo vem do café em Pedregulho (SP), onde o uso de sensores de umidade de solo e o cálculo de reposição hídrica baseado em evapotranspiração reduziram o consumo de água em 40 a 45%. "Nessa região, a limitação hídrica é um desafio. A economia obtida permitiu irrigar novas áreas e ampliar a produtividade, sem aumento de custo ou demanda hídrica. É um exemplo claro de como a tecnologia digital melhora a eficiência e amplia a sustentabilidade da produção", reforça o gerente.

Integração e automação: GrowSphere como plataforma de decisão

Com o avanço da agricultura digital, a Netafim consolidou o GrowSphere, uma plataforma que integra monitoramento, automação e análise de dados em um único ambiente.
"O sistema permite conectar sensores de solo, planta, clima e hidráulicos, oferecendo uma visão completa do que está acontecendo no campo. Assim, o produtor consegue saber se o sistema está performando bem, se há perda de pressão ou se a chuva foi suficiente para atender a demanda da cultura", explica Silva.

A unidade de monitoramento remoto do GrowSphere opera em redes 3G e 4G, podendo ser instalada mesmo em áreas sem controladores físicos. "Essa flexibilidade é essencial para ampliar o acesso a pequenos e médios produtores. A plataforma também possibilita recomendações automáticas de irrigação e fertirrigação com base em dados reais do campo."

"A Netafim vem intensificando treinamentos para distribuidores e produtores. Nos últimos meses, realizamos oito capacitações em diferentes regiões do Brasil e também na Argentina, mostrando o uso de sensores, automação via rádio e controladores inteligentes", destaca Silva.

O resultado, segundo ele, é um aumento expressivo na demanda por soluções automatizadas, impulsionado também por pressões de mercado. "Exportadores de frutas e café, por exemplo, já exigem comprovação de manejo hídrico eficiente. Isso tem acelerado a busca por tecnologias digitais."

O futuro: integração total e visão holística do campo

Para o gerente agronômico da Netafim, o próximo salto da agricultura digital será a integração total dos sistemas. "O futuro está na convergência entre irrigação, maquinário, análises climáticas, detecção de pragas, imagens de drone e dados de solo. Tudo conectado, gerando recomendações automáticas e inteligentes", projeta.

Ele acredita que o uso combinado de múltiplas fontes de informação permitirá identificar riscos com antecedência, como o surgimento de pragas ou estresses hídricos, otimizando recursos e elevando a produtividade. "Quando o produtor entende o que os dados dizem e age no momento certo, ele reduz custos, usa menos água e energia, e se torna mais sustentável."

A evolução tecnológica também exige um novo tipo de profissional. "O futuro do agro demanda pessoas adaptáveis, capazes de interpretar dados de irrigação, adubação e fisiologia vegetal de forma integrada", defende Silva. Esse perfil multidisciplinar, que une agronomia, tecnologia e gestão de mercado, será determinante para transformar dados em decisões rentáveis. "No fim do dia, eficiência é competitividade. O produtor que entende isso já está um passo à frente."

Com base em resultados mensuráveis e tecnologias que integram campo e dados, a agricultura digital está se tornando o novo padrão de eficiência e sustentabilidade.
Como conclui Silva: "Quando usamos a quantidade certa de água, energia e insumos, na hora ideal, somos mais produtivos, sustentáveis e competitivos. O digital farming não é mais o futuro, é o presente da agricultura que quer continuar crescendo".

 Sobre a Netafim

Fundada em um pequeno kibbutz em Israel há 60 anos, a Netafim é pioneira e líder mundial em soluções para irrigação. Com atuação em mais de 110 países, chegou ao Brasil na década de 1990, com um portfólio completo de produtos e soluções inovadoras de irrigação por gotejamento, que visam contribuir com o eficiente uso da água, aumentando a produtividade na agricultura e trazendo mais tranquilidade ao produtor rural.

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Mariana Cremasco