Estratégia de adubação de baixo custo ganha tração no Cerrado e reduz dependência de fertilizantes
25-11-2025

Pesquisa em Unaí - MG valida modelo de restituição com balanço nutricional em solos de alta fertilidade

Por Andréia Vital com informações da Embrapa

Uma pesquisa conduzida ao longo de três safras em Unaí - MG confirma que a adoção de adubação de restituição, baseada apenas na reposição dos nutrientes exportados pela colheita, pode racionalizar o uso de fertilizantes em áreas de Cerrado com fertilidade construída, sem perdas de produtividade. O estudo, realizado em parceria entre Embrapa Milho e Sorgo, Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Fazenda Decisão, aponta economia de insumos, maior eficiência energética e redução da pegada de carbono nos sistemas de produção.

A investigação partiu de um ponto sensível da agricultura brasileira: a elevada demanda por nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) nas culturas de grãos. Esses nutrientes compõem parcela relevante do custo total de produção e representam um dos maiores fatores de risco econômico para soja, milho, algodão, trigo, feijão e sorgo. Embora muitos produtores trabalhem sobre solos já elevados em fertilidade, prevalece a prática de repetir adubações tradicionais por segurança, mesmo quando análises mostram disponibilidade acima dos níveis críticos.

Segundo o coordenador do estudo, o pesquisador Álvaro Vilela de Resende, essa abordagem pode estar ultrapassada. “O acúmulo de nutrientes em áreas consolidadas do Cerrado é uma realidade documentada. Isso abre espaço para estratégias mais racionais, alinhadas ao uso eficiente dos recursos e à sustentabilidade”, afirma.

O experimento avaliou três estratégias: a adubação de restituição de N, P e K; o manejo padrão utilizado pela fazenda; e um controle sem aplicação de NPK. As comparações foram feitas em parcelas de grande escala, em áreas contínuas de plantio direto, com histórico de longa construção de fertilidade e cultivos sucessivos de soja-milho ou soja-sorgo, com e sem consórcio com braquiária.

Os resultados mostram que a soja não respondeu às diferenças de adubação, reforçando que, em solos bem supridos, sua produtividade permanece estável mesmo com redução do aporte de NPK. Para o milho, o nitrogênio se confirmou como o nutriente mais limitante; porém, ainda assim, as estratégias mais econômicas apresentaram desempenho semelhante ao manejo convencional, dentro das condições do talhão avaliado.

Os achados foram publicados na Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB), em edição especial dedicada à COP 30, alinhando-se às agendas de clima, eficiência no uso de insumos e mitigação de emissões. Para a Embrapa, a validação da adubação de restituição em solos de fertlidade construída representa um passo relevante na consolidação de práticas agrícolas de menor impacto e maior estabilidade econômica para o setor.