Estudo indica que demanda global por biocombustíveis pode quadruplicar até 2050, com biodiesel, etanol e SAF impulsionando investimentos, crescimento sustentável e protagonismo do Brasil no setor
16-12-2025

A distribuição de biodiesel pela Cargill agora atende 18 estados brasileiros — Foto: Cargill/Divulgação
A distribuição de biodiesel pela Cargill agora atende 18 estados brasileiros — Foto: Cargill/Divulgação

Estudo da Bain & Company e Amcham Brasil mostra como biocombustíveis devem acelerar investimentos, impulsionar crescimento sustentável e ampliar o papel do Brasil com biodiesel, etanol e SAF até 2050

Um estudo conjunto da Bain & Company e da Amcham Brasil, divulgado neste mês, aponta que a demanda global por biocombustíveis pode crescer entre 2,5 e 4 vezes até 2050, a depender das políticas públicas adotadas e da capacidade dos países de estruturar cadeias produtivas eficientes. Neste artigo, explicaremos como o Brasil pode caminhar para aproveitar de forma significativa esse crescimento.

Biocombustíveis ganham protagonismo no transporte global

Logo no início, o levantamento destaca um dado central para o setor energético global: mesmo com o avanço da eletrificação, cerca de 44% das emissões do setor de transportes permanecem concentradas em segmentos onde soluções elétricas não são tecnicamente ou economicamente viáveis.

Segundo matéria publicada pelo site Jornal Cana nesta segunda-feira (15), esse cenário abre espaço para combustíveis renováveis como biodiesel, etanol e SAF, que surgem como alternativas estratégicas para reduzir emissões, ampliar a segurança energética e atender metas climáticas.

O estudo aponta que os biocombustíveis deixam de ser solução complementar e passam a ocupar papel fundamental na matriz energética mundial, impulsionando investimentos e criando oportunidades econômicas de longo prazo. Nesse contexto, o Brasil aparece como um dos países mais bem posicionados para liderar esse movimento.

Segundo a Bain e a Amcham Brasil, setores como aviação, transporte marítimo, transporte pesado e parte da logística rodoviária continuarão enfrentando limitações para uma eletrificação completa nas próximas décadas. Por esse motivo, os biocombustíveis assumem relevância crescente como solução de curto e médio prazo.

Esses combustíveis apresentam uma vantagem competitiva importante: podem ser utilizados na infraestrutura existente, reduzindo custos de adaptação e acelerando a adoção em larga escala. Essa característica permite impacto ambiental mais rápido, especialmente em setores intensivos em emissões.

O estudo destaca que, diante desse cenário, países que conseguirem estruturar cadeias produtivas eficientes e sustentáveis terão vantagem estratégica no mercado internacional de energia.

Biodiesel, etanol e SAF impulsionam investimentos globais

O levantamento aponta que a expectativa de crescimento da demanda global deverá estimular investimentos expressivos em produção, logística, inovação tecnológica e certificação ambiental. Esse movimento tende a se intensificar a partir da próxima década, conforme governos ampliem metas de redução de emissões.

O biodiesel e o etanol seguem como pilares no transporte terrestre, especialmente em economias com forte base agrícola. Já o SAF desponta como a principal alternativa para reduzir as emissões da aviação, setor responsável por uma parcela crescente das emissões globais de gases de efeito estufa.

Apesar do potencial, o estudo alerta para desafios econômicos relevantes. O custo do SAF ainda varia entre duas e três vezes o preço do querosene convencional, o que exige incentivos, contratos de longo prazo e previsibilidade regulatória para viabilizar novos investimentos.

Como o Brasil está se consolidando como referência em biocombustíveis

O estudo aponta que o Brasil reúne condições únicas para ampliar sua participação no mercado global de biocombustíveis. O país combina abundância de matérias-primas, experiência regulatória consolidada, capacidade industrial instalada e conhecimento técnico acumulado ao longo de décadas.

Iniciativas como o RenovaBio, a Lei do Combustível do Futuro e o aumento das misturas obrigatórias de etanol e biodiesel reforçam a previsibilidade do setor. Esses instrumentos reduzem riscos, atraem investimentos e fortalecem a confiança do mercado.

Além disso, o Brasil possui potencial para atender simultaneamente o mercado interno e a demanda internacional, especialmente da Europa, dos Estados Unidos e da aviação global, ampliando seu protagonismo no cenário energético mundial.

Crescimento sustentável exige atenção à oferta de matérias-primas

Apesar do cenário promissor, o estudo faz um alerta importante sobre a sustentabilidade da expansão. A partir de 2030, pode haver um déficit global de até 20% na oferta de matérias-primas para biocombustíveis, caso não haja investimentos adicionais.

Para garantir crescimento sustentável, será necessário ampliar o uso de novas culturas energéticas, intensificar o aproveitamento de resíduos agrícolas e industriais e desenvolver rotas tecnológicas alternativas, como biocombustíveis avançados.

Sem avanços nesse campo, os custos dos biocombustíveis podem permanecer elevados, dificultando a competitividade frente aos combustíveis fósseis, especialmente em mercados mais sensíveis a preço.

Investimentos, regulação e desafios do SAF

Outro ponto central do estudo diz respeito aos entraves regulatórios. A ausência de padrões internacionais harmonizados para certificação e cálculo da pegada de carbono, especialmente no caso do SAF, dificulta o acesso ao mercado global.

Essa falta de padronização gera incertezas para produtores e investidores, atrasando projetos e limitando ganhos de escala. A cooperação internacional é apontada como fator decisivo para reduzir custos e ampliar a adoção do combustível sustentável de aviação.

Além disso, o estudo ressalta que instabilidade regulatória ou mudanças abruptas nas regras podem comprometer o fluxo de investimentos, mesmo em países com alto potencial produtivo.

Caminhos para transformar potencial em realidade

De acordo com a Bain & Company e a Amcham Brasil, políticas públicas consistentes, estabilidade regulatória e coordenação internacional serão determinantes para que o setor alcance escala real nas próximas décadas.

Instrumentos bem estruturados podem reduzir riscos, atrair investimentos e acelerar o crescimento sustentável da indústria de biocombustíveis. Nesse contexto, o Brasil se destaca por já possuir mecanismos reconhecidos internacionalmente.

A combinação entre biodiesel, etanol e SAF fortalece a segurança energética, gera oportunidades econômicas e posiciona o país como fornecedor estratégico de energia renovável. O estudo conclui que as decisões tomadas agora serão determinantes para definir quais países liderarão esse mercado em 2050.

Fonte: CPG

Do site: SCA Brasil