Estudo realizado pelo Pecege Projetos e Consultoria aponta que uso de irrigação por gotejamento aumenta a produtividade e, consequentemente, a quantidade de CBIOs emitidos
19-05-2023

Irrigação por gotejamento diminui pegada de carbono, melhora as notas de eficiência energética-ambiental e incrementa geração de CBIOs. Foto: Divulgação Netafim
Irrigação por gotejamento diminui pegada de carbono, melhora as notas de eficiência energética-ambiental e incrementa geração de CBIOs. Foto: Divulgação Netafim

Incremento ocorre pela diluição do consumo de fertilizantes sintéticos e diesel em uma produção por hectare significativamente maior

Por Leonardo Ruiz

A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou as metas obrigatórias para compra de créditos de descarbonização (CBIOs) para os próximos dez anos. Números que foram vistos com bons olhos pelo setor bioenergético nacional, pois mesmo com o aumento do volume elegível, a emissão anual deverá figurar abaixo dessas metas, resultando em fortes elevações no seu preço. Em 2022, cada crédito foi comercializado em média a R$ 111,63. Para 2030, a expectativa é de um valor unitário três vezes maior: R$ 345.

Diante de um mercado cada vez mais aquecido, as produtoras de biocombustíveis certificadas dentro do âmbito do RenovaBio (Política Nacional de Biocombustível) estão à procura de formas para melhorar suas notas de eficiência energética-ambiental (NEEA) e, dessa forma, impulsionar a emissão e comercialização dos CBIOs.

Um estudo conduzido pelo Pecege Projetos e Consultoria, em parceria com a Netafim, identificou que a irrigação por gotejamento pode ser um grande aliado desse objetivo, uma vez que o aumento da produtividade por hectare proporcionado pela tecnologia permite diluir o consumo de fertilizantes sintéticos e diesel por tonelada de cana produzida, melhorando assim as notas de eficiência energética-ambiental e gerando maior lastro para a emissão de CBIOs.

A analista econômica do Pecege Projetos e Consultoria, Isabela Romanha de Alcantara, explica que o projeto foi conduzido em três etapas. A primeira envolveu uma análise a fundo do comportamento do mercado de CBIOs nos últimos três anos. “Foi identificado que os preços dos créditos de descarbonização têm como base a lei da oferta e demanda, variando conforme as metas definidas pela ANP.”

Dados do Ministério de Minas e Energia (MME) e da ANP mostram que em 2021 foram emitidos 6 milhões de CBIOs a mais do que a meta estipulada para aquele ano, o que derrubou os preços a menos de R$ 40/unidade. “A não ser que ocorra uma mudança das metas para os próximos sete anos, a expectativa é de uma oferta (emissão) abaixo da demanda (meta), fato que elevará fortemente os valores de comercialização.”


Isabela Romanha de Alcantara
Foto: Arquivo pessoal

A segunda etapa consistiu numa análise do banco de dados interno do Pecege Projetos e Consultoria a fim de validar os ganhos em produtividade agrícola entregues pela irrigação por gotejamento. Segundo Isabela, amostras de 72 usinas de diferentes regiões brasileiras atestaram esse aumento na produção.

Já a terceira etapa se deu através de um estudo de caso com base nos dados fornecidos pela Bioenergética Vale do Paracatu (Bevap), usina localizada em João Pinheiro/MG e que possui uma das maiores áreas irrigadas de cana-de-açúcar do mundo. De acordo com a analista econômica, a fim de validar a real contribuição da irrigação por gotejamento no aumento do volume elegível de CBIOs, os dados inseridos na RenovaCalc foram os mesmos para as fases industrial e de distribuição. Na agrícola, foram poucas as diferenças, sendo a principal delas, a produtividade de cada área: 74 Toneladas de Cana por Hectare (TCH) no sequeiro e 167 TCH no canavial irrigado.

Na área com irrigação subterrânea, a nota de eficiência energética-ambiental foi 61,48 para o etanol anidro e 61,13 para o hidratado. Já o sequeiro alcançou 35,28 para o anidro e 34,93 para o hidratado. Superiores, essas notas refletiram positivamente na geração dos créditos de descarbonização.

Considerando uma produção de 85 litros de etanol para cada tonelada de cana-de-açúcar produzida, o Pecege Projetos e Consultoria estimou que o canavial com sistema de gotejamento renderia mais de 155 mil CBIOS, enquanto o de sequeiro, pouco menos de 89 mil. Ao valor praticado no final do ano passado (R$ 94,81 a unidade), a companhia obteria uma renda adicional de R$ 14,7 milhões na área com a tecnologia de gotejamento, ao passo em que o sequeiro resultaria em cerca de R$ 8,4 milhões. Uma diferença de R$ 6,3 milhões.

Área irrigada na Bevap atingiu notas entre 61,13 e 61,48; notas do sequeiro, por sua vez, figuraram entre 34,93 e 35,28

Fonte: Bevap, Pecege e Fundação Espaço Eco

“A verticalização proporcionada pelo sistema de gotejamento foi o que permitiu essa maior geração de CBIOs, pois a NEEA é baseada na quantidade de corretivos agrícolas, insumos nitrogenados e diesel por tonelada de cana produzida. Dessa forma, uma maior produção significa uma diluição desse consumo.”

Isabela ressalta que a possibilidade de utilizar os mesmos equipamentos de injeção de água para a aplicação de moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos implica na redução da necessidade de fertilizantes sintéticos, fato que também impacta positivamente as notas de eficiência energética-ambiental.

Segundo a Analista, não há como cravar qual será o aumento na geração de CBIOs de cada unidade que adotar a irrigação por gotejamento, pois esse percentual dependerá das características regionais de cada empresa. “Por conta disso, estamos ampliando o escopo do estudo, passando a abranger usinas de cana-de-açúcar de várias regiões brasileiras. No entanto, independente do ganho final, é inegável que o uso dessa tecnologia impulsiona a geração de créditos de descarbonização e, consequentemente, a rentabilidade das companhias sucroenergéticas.”