Estudos revelam novos padrões ecológicos e de dispersão do Sphenophorus levis
14-11-2025
Pesquisa de Caroline Sakuno amplia o entendimento sobre o comportamento, a movimentação e a diversidade genética da praga dos canaviais
Por Andréia Vital
A pesquisadora Caroline Sakuno, entomologista pela ESALQ-USP, apresentou avanços significativos sobre a ecologia e a dinâmica populacional do Sphenophorus levis, o bicudo-da-cana, praga que causa sérios prejuízos econômicos ao setor sucroenergético. O estudo combina observações comportamentais, análises genéticas e experimentos de campo para redefinir parâmetros usados no manejo da espécie.
Ela apresentou os dados durante o FITOCANA realizado nos dias 5 e 6 de novembro, na Unesp Jaboticabal, com a palestra “Avanços nos estudos ecológicos do Sphenophorus levis.
Um dos eixos centrais do trabalho é a revisão taxonômica das populações presentes no Brasil. Segundo Caroline, análises morfológicas e moleculares confirmaram a presença de três espécies distintas do gênero Sphenophorus —S. levis, rusticus e brasiliensis. A constatação corrige informações equivocadas divulgadas em redes de comunicação, que apontavam erroneamente a presença de espécies típicas do milho norte-americano no país.
A pesquisa também mensurou a capacidade de deslocamento do inseto. Experimentos em campo mostraram que machos de S. levis percorrem até 3,6 metros por dia, o que equivale a meio quilômetro ao longo de sua vida útil, estimada entre 150 e 200 dias. Ensaios laboratoriais indicaram ainda que as fêmeas possuem potencial de voo superior a 1,3 quilômetro, desmistificando a antiga noção de que o inseto tinha movimentação restrita ao solo.
Esses dados alteram premissas históricas da literatura científica, que desde a década de 1980 trabalhava com estimativas de apenas 6 a 11 metros por mês. “Hoje sabemos que o Sphenophorus tem maior mobilidade, o que exige repensar estratégias de controle e a disposição de áreas de refúgio quando houver o uso de tecnologias transgênicas”, explicou Caroline.y
Outro destaque foi o mapeamento da área exata de ataque da praga no colmo da cana. Utilizando um software, o grupo da ESALQ calculou que os danos se concentram em uma faixa de até 8 centímetros acima do nível do solo, com área média danificada de 2,27 cm² e perfurações de 6,47 cm de comprimento. Essas informações auxiliam no direcionamento de proteínas e defensivos ao tecido onde o inseto efetivamente atua.
O estudo faz parte da tese de doutorado de Caroline, que agora avança para o sequenciamento do genoma da praga e a análise da estrutura populacional em diferentes estados produtores — São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. O objetivo é identificar diferenças genéticas entre linhagens e avaliar como a expansão da fronteira agrícola influenciou sua dispersão.
Com esses resultados, a pesquisadora defende que o manejo do Sphenophorus levis precisa incorporar uma abordagem ecológica integrada, aliando conhecimento genético, taxonômico e comportamental. “Entender como a praga se movimenta, onde ela ataca e quais são suas variações regionais é o primeiro passo para construir estratégias de controle realmente eficazes”, concluiu.

