Etanol ganha centralidade como política de saúde pública em debate recente no SugarCane Global Summit 2025
17-12-2025

Renata Camargo, da UNICA, aponta evidências de saúde, clima e eficiência e defende comunicação mais assertiva do setor

Por Andréia Vital

O etanol precisa ser percebido como instrumento de saúde pública, clima e desenvolvimento. Foi com essa afirmação que Renata Camargo, gerente de sustentabilidade e comunicação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), abriu sua participação no SugarCane Global Summit 2025, realizado recentemente em Campinas - SP. “Quando o consumidor escolhe etanol na bomba, ele compra saúde pública, não apenas um combustível mais limpo”, afirmou. O encontro foi promovido pela Foodchain ID, ProTerra Foundation e LDC e teve a CanaOnline como Mídia Partner.

A executiva destacou que o Brasil já opera com vantagens estruturais na transição energética. Um carro flex comum abastecido com etanol emite entre 30 e 55 g de CO₂ por quilômetro, desempenho menor que o de veículos elétricos médios nos Estados Unidos e, em muitos casos, na Europa. “Temos 84 por cento da frota preparada para um biocombustível de baixa intensidade de carbono que já está disponível”, disse.

Renata reforçou ainda evidências científicas sobre o impacto do biocombustível na saúde. Estudo da USP estima que a retirada do etanol do mercado adicionaria 1.384 mortes anuais nas maiores regiões metropolitanas do país, além de 9 mil novos casos de doenças respiratórias e aumento de R$ 430 milhões nos custos ao SUS. Em outro levantamento, da EPE, a substituição por gasolina pura reduziria a expectativa de vida em São Paulo, enquanto um acréscimo de 10 por cento no uso de etanol evitaria 43 óbitos por ano. “É uma política ambiental que entrega resultado direto na saúde”, afirmou.

A gerente defendeu que o setor precisa comunicar melhor suas externalidades positivas. Ao citar pesquisas de percepção, Renata avaliou que o etanol ainda recebe menos reconhecimento público do que deveria. “Quando o posto aparece como posto de gasolina no aplicativo, já é um nudge errado. Vendemos combustível, não gasolina”, disse.

Ao rebater críticas ao agro, Renata destacou que a cana ocupa cerca de 1 por cento do território nacional e opera sob uma das legislações ambientais mais rígidas do mundo. Citou estudo da Unesp segundo o qual o Brasil é mais eficiente no uso de defensivos do que países como Japão, Alemanha e França quando se considera área e volume produzido. Também lembrou que pesquisas da Embrapa mostram que a deriva em aplicações aéreas corretas permanece bem abaixo dos limites estabelecidos pela legislação. “Produzimos mais com menos produto e dentro de padrões de segurança”, afirmou.

A representante da UNICA mencionou ainda a mudança estrutural da colheita paulista, que passou de 28 por cento mecanizada em 2000 para praticamente 100 por cento na última safra. O avanço eliminou o uso de fogo e reduziu drasticamente o consumo de água na indústria, resultado de práticas consolidadas no programa Etanol Mais Verde, que também soma 54 milhões de mudas nativas plantadas. “Essa transição ocorreu sem subsídios específicos e precisa ser reconhecida como caso de eficiência”, afirmou.

Outro eixo enfatizado foi o potencial da bioenergia. Para cada litro de etanol, são gerados cerca de 12 litros de vinhaça, que viabiliza projetos de biogás e biometano e reduz a dependência de fertilizantes importados. “É uma fábrica de energia renovável e nutrientes que ainda não entra na conta do consumidor”, avaliou.

Na perspectiva regional, representando também a Union de Azucareros Latinoamericanos (UNALA), Renata observou que países da América Latina perseguem maior aproveitamento da cana em açúcar, etanol, biogás, bioprodutos e SAF. Ela destacou que o Brasil segue referência em eficiência industrial e políticas como o RenovaBio, cuja constitucionalidade foi confirmada pelo STF, recentemente. “É o único sistema de crédito de carbono que funciona de fato no país e agora tem segurança reforçada”, afirmou.

Ao concluir, a gerente apontou que dados e comunicação precisam entrar no centro da estratégia do setor. Para ela, resultados acumulados desde a introdução do carro flex têm sido subaproveitados pelo debate público. “Se evitamos emissões equivalentes ao plantio de 5 bilhões de árvores, isso precisa virar ativo de política pública e motivo de orgulho nacional”, disse.