FAEP celebra 60 anos e reafirma raízes técnicas do agro paranaense
19-12-2025

Evento resgata a trajetória do Sistema Plantio Direto e destaca o papel do Museu de Mauá da Serra na preservação da inovação agrícola

Ao completar seis décadas de atuação, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná reforçou, durante o Encontro de Líderes Rurais realizado no último dia 5, no Expotrade, a sua missão histórica de impulsionar o agronegócio estadual. O evento reuniu mais de 4 mil produtores e lideranças do campo e transformou a comemoração em um espaço de valorização da trajetória que consolidou o Paraná como um dos principais polos de produção de alimentos do país.

Mais do que celebrar resultados, a programação conectou o presente aos marcos técnicos que sustentaram essa evolução. Um dos destaques foi a integração entre a história da FAEP e o desenvolvimento do Sistema Plantio Direto, tecnologia que redefiniu a agricultura paranaense a partir da década de 1970. Como reconhecimento dessa contribuição, o Museu do Plantio Direto, de Mauá da Serra, participou da celebração, levando ao público um acervo que evidencia as bases técnicas e coletivas que moldaram o modelo produtivo do estado.

Conhecer o passado para sustentar o futuro

A presença do museu no evento simbolizou a convergência entre representação institucional e inovação agronômica. Segundo o gerente de Relações Sindicais do Sistema FAEP, João Lázaro Pires das Neves, a iniciativa partiu da presidência interina da entidade com o objetivo de valorizar uma prática que transformou estruturalmente a agricultura estadual. A conexão, segundo ele, é direta, já que o avanço do Plantio Direto e a consolidação da FAEP caminharam juntas no fortalecimento do setor.

O Plantio Direto, cuja primeira experiência brasileira ocorreu no Paraná em 1972, tornou-se referência ao reduzir a erosão, preservar o solo e elevar a produtividade. Em regiões como Mauá da Serra, a técnica representou uma virada frente às perdas causadas pelas chuvas intensas e pela degradação do solo, estabelecendo um novo padrão de manejo agrícola que se mantém atual.

Representando o Museu do Sistema Plantio Direto, a engenheira química Celina Uemura levou ao encontro um acervo que retrata a construção coletiva dessa tecnologia. Para ela, a visibilidade em um evento estadual amplia o alcance da história do Plantio Direto, ainda pouco conhecida por parte dos produtores, e fortalece o reconhecimento do legado das famílias pioneiras.

Manter essa memória viva, no entanto, exige investimentos. A proposta do museu é avançar na interatividade e dialogar com as novas gerações, incorporando não apenas a dimensão técnica, mas também os desafios sociais, ambientais e econômicos que acompanham a evolução da agricultura. A aproximação com a FAEP, segundo Celina, amplia as possibilidades de apoio e de inserção do tema no debate nacional.

Para o professor Ricardo Ralisch, da Universidade Estadual de Londrina, o convite ao Museu Regional do Plantio Direto representa um reconhecimento institucional à importância dessa tecnologia para a agropecuária paranaense e brasileira. Ele avalia que o Plantio Direto marcou uma mudança conceitual ao associar produtividade, conservação ambiental e cooperação entre agricultores.

Em um contexto de alta tecnificação e crescente individualização do setor, Ralisch destaca que as lições do cooperativismo e do compartilhamento de riscos, presentes na origem do Plantio Direto, seguem atuais. A organização do acervo do museu, mantido pela própria comunidade, reforça esse espírito coletivo e contribui para que jovens produtores compreendam os desafios do passado e evitem erros já superados.

O pioneirismo do Plantio Direto no Paraná, iniciado em Rolândia e rapidamente difundido pelo estado, consolidou-se como um movimento plural. Para Marie Bartz, uma das referências na preservação dessa história, o museu de Mauá da Serra evidencia que a inovação não surgiu de forma isolada, mas do esforço conjunto de agricultores visionários.

O reconhecimento do Plantio Direto como patrimônio cultural e tecnológico ainda avança de forma gradual, apesar de iniciativas legais e institucionais. Para Marie, preservar esse legado material e imaterial é fundamental para inspirar novas gerações. A trajetória do sistema demonstra que a inovação nasce da coragem, da persistência e da cooperação, valores que seguem essenciais para a construção da agricultura do futuro.

Redação com informações da FEBRAPDP