Família vai à Agrishow para incentivar filhos a "gostarem da vida no campo"
02-05-2025

Produtores de café e gado de corte do Sul de Minas Gerais levaram os filhos para a maior feira de tecnologia da América Latina, em Ribeirão Preto (SP)
Por Isadora Camargo — Ribeirão Preto
A viagem de Conceição da Aparecida (MG) até Ribeirão Preto (SP) tem um motivo especial para a família dos dois irmãos Carlos Petronio Silva Cruz e Luciano da Silva Cruz: despertar o gosto dos filhos pelo universo agropecuário, fazendo com que eles gostem cada vez mais do campo.
Mais do que fazer negócios, para eles a Agrishow é um evento que representa uma maneira de incentivar a sucessão das quatro crianças, que serão a segunda geração de produtores de café e gado de corte, no sul de Minas Gerais. O grupo familiar tem 500 hectares de terras, das quais 250 são dedicadas ao plantio de café arábica, e o restante serve para cria e recria.
Frederico e os gêmeos Rafael e Gabriel são filhos de Luciano e a esposa Meira, enquanto a menina Júlia, de apenas seis anos, é filha de Carlos e Thaís. Empolgados com os quadriciclos expostos nos estandes da Agrishow, as crianças estavam uniformizadas com chapéu, bota e a camiseta da Fazenda Reunidas.
As crianças contaram à reportagem o quanto gostam da roça e que, em comemoração do Dia do Trabalho, foram à escola vestidos de fazendeiro e agricultor, como descreveu o pequeno Gabriel, também de seis anos. Júlia, por sua vez, desfilava com seu chapéu preto de amazona, com brilhos em tons de rosa e verde.
Questionados sobre o que sonham para o futuro, a resposta dos quatro é unânime: querem trabalhar na fazenda dos pais. E Gabriel já está de olho nos preços. "Eu gosto mais de café, porque dá dinheiro", disse, e fez todos à sua volta caírem na gargalhada.
O pai, Luciano, mostrou-se orgulhoso ao ouvir o filho e disse que faz questão de envolver as crianças no agro, em especial porque sente que produtores e trabalhadores rurais ainda sofrem com a "falta de valor" na sociedade.
"Nós trazemos as crianças [na Agrishow] para 'apanhar' gosto. Às vezes não é nem negócio, a gente precisa mostrar o nosso ambiente para os filhos e aqui é nosso ambiente. É o nosso quintal”, afirmou.
De olho nas novidades
Assim como os integrantes da família Santa Cruz, o trabalhador rural Aguinaldo Freitas e o filho de 11 anos, Aguinaldo Junior, saíram de Penápolis (SP) para visitar a feira durante o feriado de 1 de maio e estavam encantados com os motores das picapes. E a do adolescente era criteriosa. “O reservatório de água é pequeno para o tamanho desse motor”, explicava ao pai.
Com a mesma motivação de estimular o filho com as novidades de automóveis para o agro, Aguinaldo aproveitou a ida do chefe, Edílson Gomes - que tem produção de cana-de-açúcar e presta serviço de aluguel de colheitadeiras -, para ver os lançamentos de picapes das montadoras na Agrishow.
Já Gomes está de olho nos preços. “Estou em busca de um trator que custa, em média, R$ 800 mil, porque tem GPS e piloto automático integrado. Isso melhoraria o trabalho na lavoura, mas ainda preciso analisar os valores”, comentou. O objetivo da compra é renovar sua frota.
Juros assustam
Mais reticente, o produtor de amendoim e cana-de-açúcar Mauro Minoru Yamauti, que é cooperado da Copercitrus, esteve na Agrishow na última quarta-feira (30/4) para se atualizar sobre as tendências do mercado de máquinas em 2025, atento aos preços e às tecnologias embarcadas nas ferramentas. Entretanto, ele disse que não vai comprar, pois as taxas de juros elevadas e as condições de financiamento do Brasil não dão segurança para produtores que não estão com “sobra no caixa”.
Descendente de uma família de agricultores japoneses que se estabeleceram na agricultura no município paulista de Pirangi, Yamauti se define como um empreendedor e está à procura de variedades novas e mais resistentes às alterações climáticas. Atualmente, ele cuida de pouco mais de 20 hectares, quatro deles dedicados ao amendoim, que plantou recentemente.
Mas o cultivo não se desenvolveu - segundo ele porque a variedade não “foi a adequada para a região”. Yamauti havia gastado aproximadamente R$ 400 mil para implementar o amendoim, e agora, sem sucesso, o produtor decidiu que vai segurar as compras neste ano para poder se recapitalizar. Por isso, neste ano, sua participação na Agrishow ficou limitada à curiosidade, acrescentou.
Fonte: Globo Rural