Fenasucro 2022: empresa coloca em testes dispositivo que move drones a partir do etanol
19-08-2022

Tecnologia converte o derivado da cana em energia elétrica. Sistema pode dar mais autonomia a equipamentos usados na agricultura.

Por Igor Savenhago*, g1 Ribeirão Preto e Franca

Um dispositivo desenvolvido por uma empresa de Sorocaba (SP) é o primeiro do mundo a permitir o funcionamento de drones com etanol. A tecnologia (veja acima), apresentada na 28ª edição da Fenasucro & Agrocana, que vai até esta sexta-feira (19) em Sertãozinho (SP), deve possibilitar maior praticidade e economia nas operações e que o abastecimento seja feito em postos de combustíveis.

A ideia foi do engenheiro mecânico João Vitor Valentin Arruda, de 26 anos. Em 2019, quando ele terminava o curso superior na Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), começou a projetar um sistema de motor híbrido movido a etanol que promete substituir as baterias de lítio e dar mais autonomia a diversos tipos de drones, entre eles os modelos utilizados na agricultura.

A partir de estudos de tecnologia, de problemas apontados por agricultores e da participação em um congresso da Força Aérea Brasileira (FAB), Arruda fundou a Liconic Technology para concluir o desenvolvimento e divulgar o produto: um hibridizador, que converte, por meio de um processo de combustão em um microgerador, a energia do combustível em eletricidade.

Esse dispositivo é conectado aos drones no lugar das baterias, o que dá uma autonomia aos veículos de até quatro horas e, segundo o engenheiro, é capaz de reduzir os custos, em média, em 40%.

O projeto é ousado: promover, aos poucos, a substituição das baterias, que são importadas, pelo combustível nacional.

“O etanol é uma soberania do Brasil. Pensamos ‘poxa, por que não fazer um drone a etanol?’. Um drone de 25 quilos tem, geralmente, de nove a doze minutos de voo. A gente consegue aumentar esse tempo para 13, 15 minutos, ou até, em outras aplicações, sem ancoragem de sensores, até quatro horas”, diz.

Testes

O dispositivo está sendo testado por em usinas sucroenergéticas pela Vibra Energia, empresa que nasceu de uma ex-subsidiária da Petrobras, a BR Distribuidora, que já manifestou interesse em aderir ao etanol de forma definitiva.

A Vibra controla os drones à distância para fazer entregas de peças, mas, segundo Arruda, o veículo também poderia ser utilizado no campo para pulverização, monitoramento de áreas, contagem de gado, além de transportar vários tipos de itens.

Após os testes, uma das propostas é que Liconic produza o dispositivo e o integre a fabricantes de drones. Os agricultores e industriais contratariam os serviços da empresa sorocabana, que ficaria responsável pela operação e manutenção do equipamento alugado,

Além dos drones, a Liconic trabalha com sistemas a etanol para outros setores industriais e para veículos elétricos.

Aviação e bioenergia

O etanol já é utilizado no espaço aéreo brasileiro há algum tempo. A Embraer deu início à empreitada em 2004 com o avião agrícola Ipanema, totalmente movido com o biocombustível. Segundo a companhia, a aeronave foi capaz de reduzir custos de operação e o impacto ambiental, além de que o etanol aumentou o desempenho dela.

Paulo Montabone, diretor da Fenasucro, afirma que o segmento sucroenergético brasileiro demonstra, a cada dia, grande capacidade de produzir novas soluções a partir das demandas ambientais.

“Quando pensamos em uma solução, sempre temos de levar em conta a pegada de carbono dela. Um drone a bateria tem metais pesados e baixa autonomia, o que pode ser resolvido pelo funcionamento a etanol, que ainda é ambientalmente correto. Tem também o avião a etanol da Embraer. Conforme surge uma solução que prejudica o planeta, o setor responde com outra que pode ajudar”.

Veja vídeo em: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/estacao-agro/noticia/2022/08/18/fenasucro-2022-empresa-coloca-em-testes-dispositivo-que-move-drones-a-partir-do-etanol.ghtml

*Colaborou Lucas Faleiros