Fórum de Powershoring em Fortaleza debate aceleração de investimentos sustentáveis com Nordeste como polo de transição energética
24-10-2025

Diretor do BNB, José Aldemir Freire - Foto Fernando Cavalcante
Diretor do BNB, José Aldemir Freire - Foto Fernando Cavalcante

Consórcio Nordeste, Banco do Nordeste e Instituto Clima e Sociedade promovem evento com especialistas para mostrar as oportunidades para o desenvolvimento econômico na região

Dois importantes marcos para a transição energética no Brasil foram anunciados no seminário Como Escalar e Acelerar os Investimentos Sustentáveis no Nordeste: As Oportunidades do Powershoring, organizado pelo Consórcio Nordeste, pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) nesta quinta-feira (23), em Fortaleza. O primeiro é a criação do Fórum Interinstitucional de Powershoring, uma plataforma estratégica que visa coordenar esforços para atrair, viabilizar e acelerar cadeias produtivas verdes baseadas no enorme potencial energético da região Nordeste; e o segundo é um acordo de cooperação entre o Instituto Clima e Sociedade (iCS) e o Estado do Sergipe.

"O Nordeste tem um diferencial enorme, não apenas do ponto de vista nacional, mas do ponto de vista internacional, que é a abundância de energia renovável, seja eólica, solar ou biomassa. E este seminário sobre powershoring, ou seja, sobre a possibilidade de atrair investimentos a partir dessa potencialidade natural, é um ponto fundamental para prepararmos nossa região para a virada na matriz industrial. Nós, governadores e governadoras, estamos conscientes de que este momento de transição energética é a principal oportunidade para uma verdadeira industrialização do Nordeste, baseada em nossas vocações naturais”, afirma Rafael Fonteles, presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí.

Presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí, Rafael Fonteles

Foto Fernando Cavalcante

O Fórum atuará como espaço permanente de cooperação entre governos, setor privado, financiadores, organismos multilaterais, centros acadêmicos e sociedade civil. Para isso, contará inicialmente com um Comitê Gestor com função de ancoragem política e institucional; um Secretariado Executivo de coordenação técnica; e Grupos de Trabalho temáticos, com foco em uma gama de temas, como infraestrutura e logística verde; atração de investimentos; cadeias de valor e financiamento.

“Apesar do potencial global das nossas soluções energéticas, é essencial criar cadeias de valor, aumentar a produtividade e gerar retorno para a população do Nordeste. Também precisamos atrair mais investimentos, melhorar a infraestrutura, discutir a armazenagem de energias alternativas e explorar as oportunidades de um setor onde temos grande vantagem competitiva, com recursos humanos e portos estratégicos. Com grupos de trabalho específicos, o Fórum pode ajudar a desenvolver soluções integradas em infraestrutura e investimentos, garantindo a continuidade e a institucionalização dessa agenda a longo prazo”, explica Maria Netto, diretora executiva do iCS.

O acordo firmado entre o iCS e o Estado de Sergipe, por meio da agência de desenvolvimento Desenvolve-SE, visa apoiar a agenda de transição energética e o desenvolvimento industrial verde no estado. Para Milton Andrade, presidente da agência, esse movimento, que inclui instrumentos financeiros habilitadores, representa um grande avanço para Sergipe. "Uma alegria assinar um instrumento tão importante, que toma forma para que possamos seguir na construção do PSDI Verde, o Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial, mas com foco na economia verde, no nosso fundo soberano e na descarbonização da indústria sergipana", afirmou Andrade.

Com o objetivo de atrair e desenvolver novos negócios da indústria de baixo carbono, o evento discutiu a possibilidade de o Nordeste se tornar referência global em soluções climáticas que aliam crescimento econômico, criação de empregos verdes e fortalecimento da governança local com impactos na governança global.

"O BNB é um dos maiores financiadores da transição energética no País e já está definido que vamos reforçar a transmissão, não só com as grandes linhas entre regiões, mas fortalecer a estrutura intrarregional. O Ceará, por exemplo, figura como grande potencial produtor de hidrogênio verde (H2V), mas ainda carece de infraestrutura para essa energia ser consumida e gerar novos negócios dentro do Nordeste", avalia Aldemir Freire, diretor de Planejamento do Banco do Nordeste (BNB).

O seminário abordou ainda os caminhos para concretizar esse potencial, focando em fortalecer um ambiente de negócios favorável, estruturar projetos qualificados e desenvolver instrumentos financeiros inovadores para alavancar investimentos. Um dos temas destacados foi a visão dos investidores, nacionais e internacionais, sobre powershoring, especialmente da China, que hoje é líder na indústria de descarbonização. O executivo Frank Yu, da Envision Energy, ressaltou que o Brasil reúne condições únicas para atrair investimentos e se consolidar como um polo industrial verde, destacando o potencial de integração entre a geração renovável e a produção local. “Ficamos muito impressionados com os recursos disponíveis aqui. Há muita energia hidrelétrica, solar e eólica. No Nordeste, 95% da matriz já é verde — isso significa que a indústria não precisa de nada especial: o produto já nasce certificado como verde”, afirmou

Chen Mingming, CFO da State Grid Brazil Holding, destacou o desafio e a importância da transmissão de energia renovável, o potencial de transformar a infraestrutura energética do país, enfatizando que "o Brasil pode se tornar líder mundial nesse setor".

“O desafio hoje está na transmissão: conectar a energia renovável a uma rede elétrica maior. Nesse sentido, estamos tentando construir a maior linha de transmissão já feita, do Nordeste a Goiás, para levar essa energia renovável da região à rede central do país. O projeto vai exigir R$ 23 bilhões de investimentos, gerar R$ 1,5 bilhão em impostos e criar mais de 30 mil empregos diretos, com capacidade total de 5 gigawatts. Isso representa quase 40% de toda a capacidade de transmissão existente do Nordeste para o mercado brasileiro”, explica Mingming.

O conceito de Powershoring foi criado pelo professor de economia da Universidade de Brasília Jorge Arbache, que se refere à realocação da produção industrial para regiões próximas de fontes de energia renovável abundante e competitiva. Foram debatidos ainda temas como estratégias regionais para a consolidação da agenda, mecanismos de financiamento e o papel dos marcos institucionais para impulsionar o desenvolvimento.

São parceiros do evento o UK Partnering for Accelerated Climate Transitions (UK PACT); o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO); o Instituto E+ Transição Energética; o CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o  Desenvolvimento Sustentável; e o Conselho Empresarial Brasil China (CEBC).