Governo garante verbas do Novo PAC para concluir fábrica de fertilizantes em MS
21-10-2025

Segundo a Casa Civil da Presidência da República, licitação deve sair em dezembro, para obra no 2º semestre
Por Viviane Monteiro, de Brasília
Apesar do encolhimento dos recursos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) destinados ao Estado, a Casa Civil da Presidência da República conformou a retomada do projeto da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados, a UFN-III, em Três Lagoas, sob o comando da Petrobras. Travado desde 2014, o empreendimento é considerado estratégico para reduzir a dependência nacional da importação de insumos agrícolas e deve atender majoritariamente, além do próprio Estado, os mercados de Goiás, Mato Grosso e São Paulo.
Em resposta a questionamentos do Campo Grande News, a Casa Civil informou em nota que a UFN-III integra a carteira de investimentos do PAC e está em “fase de preparação” para a retomada das obras no segundo semestre de 2026. A expectativa é de geração de cerca de 5 mil empregos diretos e indiretos durante o pico das atividades no município, localizado no Vale da Celulose.
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Mesmo com a pressão fiscal, o governo federal manteve o projeto, embora tenha reduzido os recursos do Novo PAC para Mato Grosso do Sul, de R$ 44,7 bilhões para R$ 24,2 bilhões, praticamente a metade do valor anunciado em 2023.
A Petrobras informou que o projeto se encontra em fase de licitação para a conclusão da unidade, com 11 editais em andamento e previsão de recebimento das propostas até o final de dezembro deste ano.
As licitações abrangem drenagem, pavimentação e rede de água e combate a incêndio; prédios administrativos, laboratórios e oficinas; seccionamento da linha de transmissão e subestação de entrada; interligações; águas e efluentes; energia; amônia e estocagem de amônia; ureia fundida e granulação; estocagem e expedição de ureia; sistema de manuseio de ureia e pacote de automação.
Segundo a estatal, a aprovação formal da retomada deve ocorrer em 2026, seguida pelo início da nova fase de execução. A pré-partida operacional está prevista para 2028. A Petrobras ressaltou que o projeto possui todas as licenças ambientais necessárias e que foi “desenvolvido com foco na otimização do consumo de água e energético”.
A companhia não deu detalhes sobre como seriam usados os recursos do Novo PAC, mas destacou que o projeto “possui incentivos municipais e busca ainda incentivos estaduais e federais”. Os investimentos finais serão definidos após a análise das propostas das licitações.
Há um ano o Conselho de Administração da Petrobras havia aprovado a retomada das obras de implementação da UFN-III, com investimento estimado em R$ 3,5 bilhões.
Polo industrial do Centro-Oeste
A retomada da UFN-III reforça o papel econômico e logístico de Três Lagoas, consolidando o município como polo industrial do Centro-Oeste. A localização estratégica, próxima aos principais mercados consumidores e com infraestrutura consolidada, contribui para a viabilidade do empreendimento.
O setor de fertilizantes é considerado fundamental para o crescimento do país, por impulsionar a produtividade agrícola e fortalecer a segurança alimentar. “Possui, portanto, relevância estratégica para a Petrobras e para o Brasil, ao reduzir a dependência da importação”, destacam técnicos da Casa Civil.
Com a escassez de mão de obra qualificada na região, marcada pela forte presença do setor de celulose, a Petrobras pretende desenvolver programas de capacitação profissional.
“A Petrobras está estudando formas de ampliar a capacitação local”, informou a companhia, que já patrocina dois projetos sociais no município: o ‘Gerando Futuro’, voltado à qualificação de jovens e adultos em situação de vulnerabilidade, e o ‘Centro de Referência Esportiva’, focado em inclusão social por meio do esporte.
Capacidade e operação
De acordo com a Casa Civil, o projeto compreende unidades de produção de amônia e ureia, além de estruturas complementares, com capacidade nominal de 3.600 toneladas diárias de ureia e 2.200 toneladas de amônia, parte desta utilizada internamente na produção de ureia e o restante destinado ao mercado.
A Petrobras estima uma produção anual de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia.
A unidade consumirá em média 2,2 milhões de metros cúbicos diários de gás natural, principal matéria-prima, abastecido pelo Gasbol (gasoduto Bolívia-Brasil). A estatal ressalta que o projeto prioriza eficiência energética e hídrica, sem impactos ambientais relevantes.
Localizada próxima aos principais mercados consumidores do país, a UFN-III atenderá majoritariamente Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo. “A localização estratégica traz mais confiabilidade em relação às alternativas de suprimento, cuja demanda por ureia fertilizante apresenta tendência de crescimento. Além disso, a unidade já tem o gasoduto conectado”, destaca a Petrobras.
Impacto nacional
Quando entrar em operação, a unidade deverá suprir cerca de 15% do mercado nacional de ureia, reduzindo a dependência brasileira de importações. Considerando as quatro fábricas da Petrobras, Camaçari, na Bahia, Laranjeiras, em Sergipe, Araucária, no Paraná e UFN-III, em Três Lagoas-MS, a capacidade de produção de ureia chegará a cerca de 35% da demanda nacional.
“Essa estratégia visa reduzir a vulnerabilidade externa e o impacto de oscilações globais; reforçar a segurança alimentar nacional ao garantir o suprimento de insumos críticos à agricultura; aproveitar sinergias com a cadeia de gás natural; e gerar empregos e valor industrial no país”, afirmou a companhia.
Atualmente, a demanda brasileira por ureia é estimada em 7 milhões de toneladas, supridas principalmente por importações da Rússia. O insumo é amplamente utilizado em lavouras de milho, cana-de-açúcar, café, trigo e algodão, além de aplicações na alimentação de bovinos.
Fonte: Campo Grande News