Haverá etanol para a demanda atual até a próxima safra?
14-11-2025
Confira artigo de João Chierighini
Em qualquer mercado de commodities, quem trabalha nele já sabe, mas quem não tem essa vivência talvez não tenha a dimensão do quão impactante é a relação da oferta e demanda na formação de seu preço, e vice-versa.
Estamos diante de um mercado de combustíveis sob os holofotes da transição energética, das reduções de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), entre eles o CO2, e o etanol hoje é o centro das atenções, após aprendizado de 50 anos da implantação do Proálcool.
Como responder à questão crucial sobre disponibilidade de etanol até o início da próxima safra em 1º de abril de 2026?
Demanda Otto, GC e HD
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo – ANP, a demanda no Brasil de ciclo Otto, leia-se gasolina-C e etanol hidratado nas bombas, aponta crescimento de 2,7% de janeiro a setembro de 2025 sobre o mesmo período de 2024, o que é um dado positivo para a economia. Contudo, a demanda de gasolina-C cresceu 3,7% no período enquanto o etanol hidratado caiu 0,4%. Por quê?
No Brasil 80% do etanol é produzido a partir da cana-de-açúcar e 20% a partir de milho. Ocorre que a safra atual de cana no CS do país registra uma queda de 2,7%, queda de 3,1% na qualidade (kg atr/tc) e um aumento no mix de produção de açúcar de 48,4% na safra 24/25 para 52,0% nesta safra, na posição 15/out. Isso implica em redução da oferta de etanol total no Brasil de 6,9%.
Projeções no mercado apontam perspectiva de redução de oferta de 6% a 10% de etanol total no Brasil, já considerados os crescentes volumes de etanol de milho que agora agregam na safra do Nordeste também.
As importações poderiam ajudar a resolver esta ponta da equação e estão 89,3% maiores que no ano passado (jan-out), mas com volume médio mensal de 27 mil m3, pouco impacta.
Se consideramos as condições atuais, podemos esperar um déficit significativo de etanol total no Brasil neste ciclo 25/26. Em outras palavras, não haverá estoques suficientes para abastecer o mercado, nessas condições.
Paridade
Resta-nos esperar uma redução de demanda por preço, ou melhor dizendo, espera-se um aumento do preço do etanol hidratado em relação à gasolina-C ao consumidor(paridade) para que haja algum desestímulo ao consumo do renovável.
No CS a paridade de preços ao consumidor (Preço do HD/Preço GC) estável em 71% nas últimas 8 semanas ainda deixa estados da federação numa condição muito favorável à demanda de hidratado, como SP, MT, MS e PR. Na última semana a paridade subiu para 71,4%.
A gasolina
A queda da Gasolina-A em R$ 0,14/Litro no dia 21/10/25 pela Petrobras ajuda, mas não resolve. De 01/10/25 até 08/11/25, segundo dados de pesquisa da ANP, enquanto a GA caiu R$ 0,14/Litro nas refinarias, o repasse às bombas foi de apenas R$ 0,05/L, quando o esperado pelo mercado é de R$ 0,10/L, já que, entre outros fatores, apenas 70% da GC é de GA.
O etanol
Olhando para o etanol hidratado nas últimas quatro semanas, enquanto os preços nas usinas subiram R$ 0,08/L (+3,1%), nas bombas houve queda de R$ 0,02/L (-0,5%), reduzindo a margem de distribuição para o HD. Porque reduzir a margem da distribuição no hidratado?
Esta é uma pergunta a toda cadeia. O preço nas bombas é dado pelas revendas, e sua lógica de precificação, métricas de rentabilização, são próprias. O fator market-share frequentemente prepondera sobre a margem.
Considerações finais
Segundo o MAPA, os estoques de etanol no Brasil em 15/out estão 22,6% abaixo dos registrados na mesma posição do ano passado enquanto as saídas das usinas estão 1,1% abaixo. Para reverter esse ritmo de consumo de estoques e evitar uma ruptura em abril/26, é preciso (1) repasse de preços do hidratado mais próximos aos das usinas, (2) repasse maior da queda de preços da GA para a GC, (3) Importações de etanol, o que é bastante improvável nesse momento.
A menos que as projeções de oferta de todo o mercado estejam equivocadas, que a produção seja maior do que o se acredita, a paridade é a “variável chave” a ser monitorada de perto por toda a cadeia, e o ajuste de estoques se dará pelo preço relativo.
Quanto mais tempo demorar a resposta da paridade, maior será o impacto negativo no mercado de etanol no final da entressafra em abr/26.
João Chierighini é consultor de Logística e Inteligência de Mercado para Commodities

