Hedgepoint antecipa tendências para a safra 2025/26
15-10-2025

Novo relatório da empresa deverá ser publicado em novembro

O tradicional relatório de oferta e demanda mensal do USDA (WASDE), previsto para ser divulgado na última quinta-feira (9), não será publicado em outubro devido à paralisação dos serviços do governo dos Estados Unidos por falta de acordo sobre o orçamento federal — o chamado "shutdown". Com isso, é provável que o próximo relatório só saia em novembro, como ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2019. Apesar da suspensão, o mercado manteve expectativas para o relatório de outubro, estimando possíveis mudanças nos principais números de soja, milho e trigo.

"Para tais estimativas, lembramos que o relatório de outubro costuma trazer os dados consolidados de 'fechamento' da safra 2024/25 de soja e milho dos EUA, contemplando os números indicados no relatório trimestral de estoques, divulgado pelo USDA no dia 30 de setembro. Naturalmente, os estoques finais da temporada 2024/25 se tornam os estoques iniciais da temporada 2025/26, podendo trazer alterações importantes para os quadros da nova temporada", explica Luiz Fernando Roque, Coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets.

Estoques

O relatório de estoques trimestrais do USDA (30/set) trouxe estoques acima do esperado para o milho e levemente abaixo do esperado para a soja na posição 1° de setembro.

No milho, os estoques ficaram em 1.532 bilhão bushels, 15% acima da expectativa (1.337 bilhão bushels). Devido a isso, o relatório teve um tom baixista para o mercado.

Na soja, os estoques ficaram em 316 milhões bushels, levemente abaixo (-2%) da expectativa do mercado (323 milhões bushels). Frente a isso entende-se que o relatório teve um tom neutro para o mercado.

De qualquer forma, tanto no milho quanto na soja os estoques ficaram abaixo do mesmo período do ano passado, o que já era esperado.

No trigo, os estoques ficaram em 2.120 bilhão bushels, 4% acima da expectativa do mercado (2.043 bilhão bushels), trazendo um tom levemente baixista.

O USDA revisou também as produções de milho e soja da temporada 2024/25 e trigo da temporada 2025/26 dos EUA.

No milho, a produção 2024/25 foi levemente elevada de 14.867 para 14.892 bilhões de bushels (+0,16%).

Na soja, a produção 2024/25 foi levemente elevada de 4.366 para 4.374 bilhões de bushels (+0,18%).

No trigo, a produção 2025/26 foi elevada de 1.927 bilhão de bushels para 1.985 bilhão de bushels (+3%).

Soja (Neutro)

As expectativas para o relatório de oferta e demanda de outubro do USDA apontavam para possíveis mudanças nos principais números da temporada 2025/26 dos EUA, mas sem grandes ajustes esperados.

No lado da produtividade, o mercado esperava por um corte devido à piora nas condições das lavouras registrada ao longo do mês de setembro. A média das expectativas apontava para uma produtividade de 53,2 bu/acre, com leve queda de 0,6% em relação ao número de setembro (53,5 bu/acre).

Assim, na avalição de Luiz, para a produção, devido à queda esperada na produtividade e frente à manutenção da área a ser colhida, o mercado naturalmente também esperava por um corte no tamanho da safra, que deveria passar de 117,1 milhões de toneladas para 116,2 M tons (-0,7%).

Já no caso dos estoques finais, o mercado esperava por um pequeno corte de 0,3%, com estoques passando de 8,2 para 8,1 M tons, com um possível corte de exportações compensando em parte a redução da produção.

"De uma forma geral, apesar dos cortes esperados, entendemos que o relatório poderia ter um tom neutro, com o mercado ainda depositando dúvidas sobre a demanda pela soja norte-americana no ambiente das desacelerações chinesas e do aumento do conflito entre EUA e China. Diante da ausência do relatório de oferta (por conta do shutdown), as estimativas tendem a se acumular até que mais informações venham à tona", explica.

Milho (baixista)

Em relação ao milho, assim como na soja, eram esperados ajustes nos principais números de oferta e demanda dos EUA da temporada 2025/26. Porém, os ajustes esperados para o cereal deveriam ser mais relevantes que os da soja.

No lado da produtividade, o mercado também esperava por uma redução na produtividade média das lavouras norte-americanas devido à piora nas condições em setembro. A média das expectativas apontava para uma produtividade em 185 bu/acre, com redução de 0,9% em relação ao número de setembro (186,7 bu/acre).

Tal queda na produtividade também deveria levar a uma queda na produção, que deveria passar de 427,1 M tons para 422,8 M tons (-1%).

Já no caso dos estoques, a expectativa do mercado apontava para uma elevação dos estoques finais da temporada 2025/26, com a estimativa apontando para estoques de 56,7 M tons, com aumento de 5,7% em relação a setembro (53,6 M tons). Na avaliação do especialista da Hedgepoint, tal expectativa derivava de um aumento dos estoques iniciais da temporada 2025/26 com estoques maiores sendo trazidos da temporada 2024/25 conforme indicado pelo USDA no relatório de estoques trimestrais. Esses estoques iniciais maiores compensariam o corte na produção, resultando em estoques finais maiores.

"Devido a isso, a expectativa apontava para um relatório com tom baixista, com o aumento dos estoques podendo pesar ainda mais sobre o mercado. Da mesma forma que na soja, a ausência do relatório de outubro acumula expectativas para novembro", ressalta Luiz.

Trigo (Levemente Baixista)

No lado do trigo, o relatório de outubro também poderia trazer alterações em alguns números de oferta e demanda dos EUA, além de mudanças no quadro mundial.

Sem expectativas para os números de produção, o mercado esperava por um aumento nos estoques finais norte-americanos da temporada 2025/26 que deveria se basear em uma redução das exportações. Tal redução poderia derivar de uma perda de parcela no mercado exportador devido ao avanço das exportações russas, que deveriam ser elevadas em um cenário de produção maior e preços mais competitivos.

Os estoques finais norte-americanos da temporada 2025/26 eram esperados em 23,8 M tons, com aumento de 3,7% em relação a setembro (23 M tons). Já no quadro global, a expectativa média do mercado apontava para estoques finais mundiais de 265,7 M tons, com aumento de 0,6% em relação ao número de setembro (264,1 M tons).

"Diante das elevações esperadas nos estoques finais norte-americanos e mundiais, a tendência era do relatório levemente baixista para o trigo, que tende a se acumular para a leitura de novembro diante do atual shutdown do governo dos EUA", avalia o especialista da Hedgepoint.