Incêndios em canaviais na região de Ribeirão fecham estradas, tornam o ar irrespirável e revoltam a população que culpa as usinas
20-08-2020
Nesta quarta-feira, 19, só a cidade de Ribeirão Preto registrou três grandes incêndios em áreas com cana ao redor da cidade
Cem dias sem chover. Essa é a realidade da região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A estiagem deixa tudo seco, árvores, grama, capim, canaviais. O vento, que é característico dessa época do ano, levanta a terra batida e a transforma em nuvem de poeira que cobre a maior cidade do Nordeste Paulista.
O cenário é propício para que aconteçam incêndios, é o que vem ocorrendo, só nesta quarta-feira, 19, a cidade de Ribeirão Preto registrou três grandes incêndios em áreas com cana ao redor da cidade.
Mas os registros de incêndios não se limitam a Ribeirão, acontecem em toda região, que responde por 60% dos canaviais cultivados no estado de São Paulo. São vários os fatores que fazem dos canaviais o palco perfeito para a propagação de incêndios: área extensa, proximidade com rodovias e cidades, cana com as palhas ressecadas pela ausência de chuvas ou colchão de palha no solo, nas áreas já colhidas.
Ventos fortes dificultaram o controle dos incêndios
Crédito: Sandra Araújo
A fumaça provocada por esses incêndios levou o fechamento de rodovias no Nordeste Paulista, inclusive da Anhanguera, uma das principais vias de acesso da região.
Nesta quarta-feira, a quantidade e a intensidade dos incêndios, a dificuldade para controla-lo, mais a temperatura de 35 graus, a baixa umidade do ar, a nuvem de poeira e a fumaça que tomaram Ribeirão Preto, levaram sua população à revolta. Protestos pipocaram nas mídias sociais e as críticas, muitas delas bastante pesadas, foram dirigidas às usinas.
Fumaça tomou os céus da região
Crédito: Clarissa Corradi Webster
O setor sucroenergético foi eleito o responsável pela situação. A maioria dos comentários nas redes sociais cita queimadas realizadas por usineiros. Onde na verdade, não são queimadas, mas incêndios acidentais, os bombeiros apontam que a maior causa é a bituca de cigarro, responsável por 75% dos incêndios. Que também podem ser criminosos, neste caso, os focos acontecem, normalmente em vários pontos dos canaviais.
Com a colheita mecanizada com cana crua, que acontece em 95% dos canaviais paulistas, a realização da queima foi dispensada. Agora que não queima mais cana, o setor investe quase que o dobro em estrutura e tecnologias para prevenção e controle de incêndios.
Nuvem de poeira tomou Ribeirão Preto, nesta quarta-feira, 19 de agosto
Crédito: Afonso Moretti Santiago
O fogo passou a trazer danos e prejuízo para o setor sucroenergético. Quando ocorria a queima da cana, a operação era controlada, acontecia em horários sem a ocorrência de ventos, com presença da brigada de incêndio, o fogo era rápido, para queimar a palha da cana, não a cana. A cana queimada estava no ponto de corte e a estrutura logística estava preparara para transportar aquela cana.
Já os incêndios acontecem de forma aleatória, queimando canaviais que não estão programados para a colheita, fazendo com que as usinas tenham que mudar seu cronograma de corte.
Mas em muitos casos, não é possível salvar o canavial, pois, o fogo é tão intenso que torra a cana. A temperatura das queimadas controladas fica em torno de 600 graus, já os incêndios alcançam 1200 graus. O calor é tanto que penetra o solo e mata a socaria, por isso, que incêndio em áreas de cana já colhidas podem trazer mais prejuízo, uma vez que leva ao replantio da cana.
Fonte: CanaOnline

