Indústria de máquinas agrícolas projeta avanço moderado em 2026, aponta ABIMAQ
27-10-2025
Seminário da CSMIA destaca papel da inovação, do crédito rural e da inteligência artificial para sustentar o crescimento do setor
A Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da ABIMAQ apresentou recentemente, durante a 25ª edição do Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial, a projeção de crescimento de 3,4% para o setor de máquinas agrícolas em 2026. O levantamento, baseado em pesquisa com fabricantes, reflete o impacto da alta dos juros e das incertezas internacionais sobre o ritmo de recuperação da indústria.
O dado foi anunciado pelo presidente da CSMIA, Pedro Estevão Bastos de Oliveira, que avaliou o cenário como de “crescimento modesto, coerente com o que os fabricantes observam diante do tarifaço e das condições restritivas de crédito”.
Além das projeções de mercado, o seminário abordou temas que vêm transformando a dinâmica industrial, como inteligência artificial, novos mecanismos de financiamento e cenários macroeconômicos globais, reforçando a importância da inovação e da gestão estratégica para o futuro do agronegócio.
A abertura do evento contou com a palestra de Gustavo Melles, sócio da StartWE Inovação e Comunicação, com o tema “Pense com a IA e acelere seus processos e lucros”. Melles defendeu o uso da inteligência artificial como “inteligência ampliada”, capaz de potencializar a produtividade e acelerar processos de inovação. “As empresas que aprenderem a integrar IA ao dia a dia terão ganhos reais de competitividade e agilidade”, afirmou.
Em sua apresentação, Pedro Estevão destacou que o faturamento da indústria atingiu R$ 62 bilhões em 2024, com expectativa de crescimento de 10% em 2025, chegando a R$ 68 bilhões. Ele alertou, contudo, que a baixa reposição de máquinas nos últimos dois anos poderá gerar um movimento de demanda concentrada no médio prazo.
No crédito rural, o cenário segue desafiador: metade das vendas de máquinas na safra 2024/25 contou com financiamento, mas apenas 36% tiveram juros equalizados, bem abaixo dos 60% de anos anteriores.
O advogado Marcelo Winter, da VBSO Advogados, ressaltou o papel crescente do mercado de capitais no financiamento do agro. Segundo ele, instrumentos como CPR, CRA, LCA e FIAGRO registraram alta de 315% entre 2022 e 2024, tornando-se alternativa para reduzir a dependência de crédito subsidiado. “Transparência, governança e profissionalização são a porta de entrada para captar esses recursos”, observou.
Macroeconomia e desafios globais
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, destacou os riscos decorrentes da instabilidade nos Estados Unidos, da relação comercial com a China e dos efeitos climáticos do fenômeno La Niña. Apesar do cenário global incerto, o economista projetou que o agronegócio continuará sendo um dos principais motores da economia brasileira em 2026, com geração de R$ 1,6 trilhão.
Participaram também do debate o presidente executivo da ABIMAQ, José Velloso, e o primeiro vice-presidente do Conselho de Administração, João Carlos Marchesan, que reforçaram a preocupação da indústria com o custo elevado do financiamento e com os impactos das tarifas norte-americanas sobre as exportações brasileiras.
No painel de encerramento, o analista Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, apresentou as tendências que devem moldar o futuro do setor: expansão dos biocombustíveis, recuperação de pastagens degradadas, aumento da eficiência logística e redução da dependência de fertilizantes importados, hoje responsável por 90% do consumo nacional.
Cogo defendeu que a integração entre sustentabilidade, inovação tecnológica e acesso a crédito diversificado será o caminho para manter a competitividade brasileira.

