Inseticida no corte de soqueira ou junto à vinhaça: qual método funciona melhor contra o Sphenophorus?
24-10-2025
Estudo do IAC revela qual técnica se sai melhor no controle da praga — e por que o clima pode mudar tudo
Durante a 6ª Reunião do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar, realizada no dia 21 de outubro, a Pesquisadora Científica Leila Luci Dinardo-Miranda, do Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC), trouxe dados e reflexões sobre um dilema recorrente no manejo de uma das principais pragas da cultura. Afinal, qual a melhor estratégia para aplicação de inseticidas para o controle do Sphenophorus levis: corte de soqueira ou junto à vinhaça?
Segundo Leila, embora ambas as técnicas apresentem vantagens e limitações, a eficiência dos produtos é geralmente baixa, girando entre 30% e 40% em média, independentemente da forma de aplicação. No entanto, as condições climáticas, especialmente a umidade do solo e a turgescência das plantas, têm papel fundamental no desempenho da modalidade de aplicação escolhida.
Nos ensaios conduzidos pelo IAC, realizados em anos de clima mais seco — como 2020 e 2023 —, a aplicação via cortador de soqueira superou a feita em drench. A explicação está na turgescência da planta. Durante a estação seca, a planta está menos hidratada e, portanto, absorve menos os produtos aplicados via solo, como ocorre na aplicação de vinhaça localizada. Já no corte de soqueira, o inseticida é inserido diretamente na touceira, aumentando a chance de contato com o rizoma — mesmo que de forma limitada. “Se o ano for seco, aplicação com corte de soqueira é ruim. Mas com vinhaça é pior ainda”, frisou a pesquisadora.
Por outro lado, em anos mais chuvosos, as diferenças de eficiência entre as duas formas de aplicação diminuem. Ensaios realizados nesse cenário mostraram que, com a cana mais túrgida, tanto a aplicação no corte quanto via vinhaça alcançaram eficiências similares, por volta de 40% a 50%. Em casos pontuais, a vinhaça chegou a apresentar resultados ligeiramente melhores, especialmente quando a palha foi desenleirada, facilitando a penetração do produto no solo.
Leila alertou também que é um erro comum acreditar que o volume de vinhaça, por si só, melhora o controle. "Já testamos aplicações com até 50 m³/ha, e o resultado foi semelhante a volumes menores. O que realmente faz diferença é a umidade do solo no momento da aplicação”, explicou.
Além da eficiência técnica, questões operacionais influenciam a decisão. A aplicação com vinhaça elimina a necessidade de uma operação adicional — o corte de soqueira —, reduzindo o consumo de diesel e o desgaste de maquinário. Por outro lado, em soqueiras mais nobres, como o primeiro corte, a pesquisadora recomendou priorizar a aplicação via cortador, sobretudo em anos mais secos.
Outro ponto importante é a compatibilidade dos produtos com a vinhaça. Segundo Leila, nem todos os inseticidas mantêm sua viabilidade quando diluídos, principalmente os biológicos. Ela também chamou atenção para outra constatação preocupante: o uso de vinhaça — mesmo em volumes baixos como 15 a 20 m³/ha — pode favorecer o Sphenophorus, ao criar um ambiente mais úmido e rico em matéria orgânica. Estudos de longo prazo mostraram que áreas com maior aplicação de vinhaça tendem a apresentar maior infestação da praga. “É uma realidade que precisamos encarar. A vinhaça tem benefícios agronômicos, mas também cria condições propícias para o inseto”, alertou.
Por fim, a pesquisadora reforçou que não existe uma solução única. Em anos secos, o corte de soqueira tende a ser mais eficaz. Em condições mais úmidas, ambas as estratégias podem ser equivalentes, sendo a escolha guiada por aspectos operacionais e econômicos. Entretanto, é fundamental manter o monitoramento, ajustar o manejo conforme o tipo de solo, palhada e variedade e, sobretudo, ter expectativas realistas sobre a eficiência dos inseticidas disponíveis no mercado.

