Irrigação e matriz do terceiro eixo são chaves para destravar a produtividade da cana-de-açúcar
30-10-2025

Diretor IAC, Marcos Landell destacou a importância de compreender a diferença entre o potencial biológico e o potencial realizado da cultura durante Encontro Técnico do GIFC. Foto: Divulgação GIFC
Diretor IAC, Marcos Landell destacou a importância de compreender a diferença entre o potencial biológico e o potencial realizado da cultura durante Encontro Técnico do GIFC. Foto: Divulgação GIFC

Durante encontro técnico do GIFC, o diretor do IAC, Marcos Landell, destacou que apenas com o uso da irrigação e a adoção de modelos inovadores de manejo, o setor conseguirá reduzir o impacto do estresse hídrico e aproximar o potencial produtivo real do biológico

A expansão da fronteira agrícola da cana-de-açúcar no Brasil — que elevou a área cultivada de cerca de 5 milhões para quase 9 milhões de hectares nas últimas décadas — trouxe consigo novos desafios para o setor, uma vez que grande parte desse crescimento ocorreu em regiões de menor aptidão agrícola, com solos de baixa capacidade de retenção de água e maior exposição ao déficit hídrico. Nesse contexto, o uso racional da irrigação e o desenvolvimento de variedades mais adaptadas tornaram-se fundamentais para garantir ganhos sustentáveis de produtividade.

Foi com esse enfoque que o Diretor do Instituto Agronômico (IAC), Marcos Landell, proferiu sua palestra no Encontro Técnico “Irrigação em cana-de-açúcar e seus desafios: variedades responsivas, produtividade e colheitabilidade” promovido em setembro de 2025 pelo Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-açúcar (GIFC).

Na ocasião, Landell destacou a importância de compreender a diferença entre o potencial biológico e o potencial realizado da cultura. “O potencial biológico representa a capacidade máxima da planta de produzir, enquanto o potencial realizado é o que efetivamente se alcança após a influência de fatores restritivos — bióticos e abióticos — que limitam a produtividade agrícola”, explicou o pesquisador.

Segundo ele, embora a cana-de-açúcar brasileira ainda apresente desempenho notável mesmo em ambientes adversos, é urgente reduzir o gap entre o potencial produtivo teórico e os resultados obtidos no campo. A irrigação, nesse cenário, desponta como ferramenta decisiva, capaz não apenas de elevar os índices de produtividade, mas também de garantir maior estabilidade de produção ao longo das safras. “A irrigação é uma ferramenta de mitigação que modifica a ambiência da planta, permitindo respostas mais eficientes em variedades com alto potencial biológico”, afirmou.

Landell ressaltou, no entanto, que a adoção de tecnologias de irrigação deve vir acompanhada de novas estratégias de manejo, como a “matriz do terceiro eixo”, modelo desenvolvido pelo próprio IAC que rompe com a tradicional classificação de materiais precoces, médios e tardios e adota o conceito de colheita por idade, iniciando a safra com as canas mais jovens e finalizando com as mais antigas.

Evolução do conceito de manejo adotado “matriz tridimensional” – aplicação do 3º Eixo

Fonte: Divulgação Programa Cana IAC/Centro de Cana

O diferencial dessa abordagem está em considerar a evolução do sistema radicular e a maior profundidade de exploração do solo a cada corte, reconhecendo que, com o passar dos ciclos, a planta possui maior capacidade de absorver água e nutrientes. Esse entendimento permite planejar de forma mais eficiente as estratégias de irrigação e mitigação de déficit hídrico, otimizando o uso da água e reduzindo os impactos do estresse fisiológico.

Variedades IAC apresentam alta performance em áreas irrigadas e guiam cana-de-açúcar a uma nova era de produtividade

“O futuro da canavicultura brasileira depende da integração entre manejo inteligente e genética avançada”, afirmou o Diretor do Instituto Agronômico (IAC), Marcos Landell, durante o Encontro Técnico “Irrigação em cana-de-açúcar e seus desafios: variedades responsivas, produtividade e colheitabilidade”, realizado em setembro de 2025 pelo Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-açúcar (GIFC).

De acordo com Landell, o programa de melhoramento genético do IAC — que acumula mais de um século de história, desde o primeiro relatório de ensaios varietais em 1894 — vem investindo fortemente no desenvolvimento de materiais genéticos capazes de responder de forma mais eficiente à irrigação e às variações ambientais. Ele adiantou que novas linhagens, selecionadas em áreas de solos arenosos do Nordeste, já estão em fase de cruzamento e devem originar, nos próximos cinco anos, variedades ainda mais responsivas.

Entre os materiais já disponíveis que vêm se destacando em áreas irrigadas, Landell citou a IACSP95-5094, hoje considerada referência de alta resposta e estabilidade produtiva. Segundo ele, essa variedade tem apresentado ganhos consistentes em relação à média das usinas, inclusive em sistemas de irrigação deficitária.

IACSP95-5094 é considerada referência de alta resposta e estabilidade produtiva

Foto: Divulgação Programa Cana IAC/Centro de Cana

Outros materiais mencionados foram a IACSP01-5503, de porte ereto e boa adaptação a solos de baixa fertilidade; a IACCTC07-8008, reconhecida por sua tolerância ao déficit hídrico e elevada longevidade; e a IACCTC07-7207, de colmos finos e produtividade superior, chegando a registrar mais de 240 toneladas por hectare em alguns ensaios.

O pesquisador destacou ainda a IACCTC05-2562, “filha” de CTC4, que vem apresentando desempenho notável em diferentes cortes e deve ser oficialmente liberada em 25 de novembro, durante a última reunião do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar em 2025.

Ao encerrar sua apresentação, Landell reforçou que o avanço da produtividade da cana-de-açúcar no Brasil depende da convergência entre inovação genética, irrigação eficiente e manejo adaptativo. “Estamos deixando para trás um modelo limitado pelo estresse hídrico e caminhando para um sistema em que a planta encontra condições favoráveis de crescimento durante todo o ciclo. Esse é o caminho para transformar o potencial biológico da cana em produtividade real no campo”, concluiu.