Irrigação no início, meio ou final do ciclo? Conheça os benefícios da ferramenta em cada trecho da safra
03-06-2025
Principal janela é a de final de safra. No entanto, é possível obter vantagens nos demais períodos do ano
Por Leonardo Ruiz
O déficit hídrico segue como o principal redutor de produtividade agrícola da cana-de-açúcar ao longo do ano. Experimentos mostram que a diferença de produção entre áreas que foram colhidas em abril versus setembro pode chegar a 20% em anos de secas intensas.
A morfologia da cana-de-açúcar explica esses números. Ao se deparar com um estresse hídrico, a planta fecha seus estômatos, estruturas presentes na epiderme vegetal que garantem a realização de trocas gasosas. É como um mecanismo de defesa natural, pois através dele a cana minimiza sua perda de água.
O problema é que o fechamento desses estômatos impede a entrada de dióxido de carbono (CO2) nas células. Esse processo diminui a capacidade da cana-de-açúcar de fazer fotossíntese. Resultando em impactos negativos no crescimento e desenvolvimento da planta e, consequentemente, quedas na produção final.
Nesse cenário, a irrigação desponta como a melhor ferramenta para minimizar esses riscos climáticos, garantindo boa produtividade aos canaviais. O uso da tecnologia oferece uniformidade à produção ao longo do ano, um desafio para as unidades agroindustriais.
“É como se passássemos uma régua nos gráficos de produção. Ainda veremos algumas variações, mas passaremos a trabalhar dentro de uma média elevada. Com isso, uma espécie de segurança empresarial será gerada, permitindo que planejemos nossas compras e contratos com menos riscos, uma vez que a produção não será muito afetada em caso de secas abruptas e severas no decorrer da safra”, afirma René Sordi, presidente do Grupo de Irrigação e Fertirrigação em Cana-de-Açúcar (GIFC).
Embora os maiores benefícios sejam observados no final do ciclo, Sordi ressalta que a irrigação pode entregar ganhos em todos os pontos da safra. “No início, por exemplo, ela se mostra mais interessante no plantio, visando dar melhores condições de brotação, enchimento dos colmos e perfilhamento. Se plantou em fevereiro ou março e secou de repente, a ferramenta irá auxiliar no melhor desenvolvimento dos canaviais.”
No meio de safra, a irrigação atuará na melhoria da concentração de açúcar, enquanto no final irá sustentar a produtividade já acumulada. O final de safra é considerada a principal janela de utilização, pois é quando a planta passa “mais sede” e, consequentemente, responderá melhor ao aporte de água.
“Independentemente da modalidade e do período, a irrigação em cana-de-açúcar acarreta alto Retorno Sobre Investimento (ROI), provando que a tecnologia é preponderante para aqueles que buscam produzir, independente das condições climáticas, cana-de-açúcar com excelência e estabilidade durante toda a safra”, ressalta René.
Em uma área de 5 mil hectares colhida no final de safra, diferença de produção entre canavial de sequeiro e irrigado pode chegar a 350 mil toneladas
Irrigação surge como a principal aliada nos finais de safra, seja para evitar quebras abruptas de produção ou para garantir os volumes já acumulados
Foto: Divulgação Netafim
As maiores quebras de produtividade agrícola em cana-de-açúcar acontecem no trecho final da safra, de setembro a novembro no Centro-Sul. Isso ocorre porque os canaviais de colheita tardia passam pelo período seco do ano quando mais demandam água, levando ao encurtamento dos entrenós e, consequentemente, quedas na produção. Além disso, nos meses finais do ano há uma diminuição do fotoperíodo, fazendo com que o ganho em toneladas por hectare não seja tão alto.
Para solucionar esses problemas, a irrigação surge como a principal aliada, seja para evitar quebras abruptas naqueles anos com secas mais severas ou para garantir os volumes de produção já acumulados.
Um estudo conduzido pela Canaplan em 2022 confirma essa tese. Tendo como base uma produtividade agrícola média de 71 toneladas por hectare (TCH), 5 mil hectares de sequeiro colhidos no final de safra gerariam 275 mil toneladas de cana-de-açúcar. Irrigada, essa mesma área produziria algo em torno de 480 mil toneladas. Diferença de 205 mil toneladas.
Vale ressaltar que, no exemplo acima, a área de sequeiro teria performado bastante bem, uma vez que em anos de secas extremas, como 2021 e 2022, a média dos canaviais de final de safra despenca para 60 TCH. Nesse caso, os ganhos com a irrigação seriam ainda maiores: uma diferença de quase 350 mil toneladas em uma área de 5 mil hectares.
Para René Sordi, estudos como esse provam como a irrigação pode entregar ganhos bem reais, inclusive no Centro-Sul do país. “No entanto, para obtenção do máximo de retorno, é imprescindível dominar o sistema de produção irrigado por completo, que depende mais do que a simples instalação de pivôs, carreteis ou mangueiras de gotejamento. Passa também pelo manejo da fertilidade do solo, seleção correta das variedades e por um rígido controle de pragas, doenças e plantas daninhas.”
Para saber mais sobre os benefícios da irrigação, acesse www.gifc.com.br.

