Irrigação por gotejamento eleva longevidade e dilui os altos custos com formação de novas áreas
08-02-2022
Tecnologia da Netafim proporciona melhoria na viabilidade econômica por meio do aumento de longevidade com produtividade
Leonardo Ruiz
Há algumas safras, o custo de formação de um novo canavial girava na ordem de R$ 8.500 por hectare. Em 2021, esse número saltou para cerca de R$ 10,500/hectare. Os valores para este ano ainda não foram 100% compilados, mas estimativas iniciais já apontam que o plantio de cana-de-açúcar ficará ainda mais caro, chegando a R$ 12,500/hectare. A alta vertiginosa dos preços dos insumos no Brasil e o aumento nos custos das mudas seriam os principais “vilões” dessa equação.
O gestor de projetos do Pecege, João Rosa (Botão), explica que a desvalorização cambial, aliada a um contexto de pandemia global, impulsionou os preços dos insumos, que saíram da casa dos R$ 3 mil por tonelada e já chegam a quase R$ 6.000/ton. “Hoje, esse item responde por cerca de 48% dos custos de formação de novas áreas.”
Outro elemento responsável pelo aumento dos gastos com plantio é a muda, que já abocanha uma fatia de 18% dos custos atuais de formação. O motivo seria a alta dos preços do kg do ATR (Açúcar Total Recuperável), que saíram de R$ 0,81 em dezembro de 2020 para R$ 1,32 no final do ano passado.
João Rosa (Botão): “Provavelmente não veremos uma aceleração [nos preços de formação] tão brusca como a observada nas últimas safras, mas a tendência é de estabilização por um tempo e aumento no futuro”
Foto: Divulgação Pecege
Botão salienta que o setor não deve esperar um recuo desses custos para os próximos anos. “É muito difícil que ocorra uma retração desses valores. Provavelmente não veremos uma aceleração tão brusca como a observada nas últimas safras, mas a tendência é de estabilização por um tempo e aumento no futuro.”
Diante desse cenário nada sedutor, muitos produtores e usinas estão postergando a reforma de algumas áreas que já estavam no cronograma de renovação com o único objetivo de aproveitar ao máximo os bons preços atuais do ATR. Mas se trata de um ganho enganoso.
Na visão de Botão, a margem de contribuição daquele corte extra no sistema econômico será baixa, devido à má produção que será entregue pelo canavial, que em muitos casos se encontra praticamente deteriorado. “A diluição dos custos de plantio passa sim pelo aumento de longevidade, mas desde que esse processo seja feito com sustentabilidade. É vital que os cortes mais longevos produzam bem e de forma linear, sem quedas acentuadas de produtividade.”
Muitos produtores e profissionais de usinas estão descobrindo o poder da irrigação por gotejamento para conquistar a tão almejada longevidade com produtividade
Foto: Divulgação Netafim
Atualmente, o plantio de uma nova área responde por 20% a 25% dos custos totais de produção de cana-de-açúcar. Mas o gestor de projetos do Pecege afirma que, caso o produtor ou usina utilize técnicas e/ou tecnologias que permitam prolongar a vida de um canavial com uma produção que se mantenha elevada ao longo dos anos, os custos serão verdadeiramente diluídos e aquela porcentagem pode despencar para apenas 7%.
Nos últimos anos, centenas de profissionais do segmento estão descobrindo o poder da irrigação tecnificada para conquistar a tão almejada longevidade com produtividade. Entre as diferentes modalidades, a mais eficiente é o gotejo subterrâneo. Daniel Pedroso, Especialista Agronômico da Netafim, empresa pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, salienta que a tecnologia entrega as quantidades ideais de recursos hídricos de acordo com as fases do cultivo, no momento certo e diretamente na raiz da planta, maximizando os resultados.
Outro diferencial do gotejo é a possibilidade de aplicação de moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos através dos mesmos equipamentos de injeção de água. “A Nutrirrigação foi desenvolvida pela Netafim e permite ao agricultor aprimorar sua adubação convencional, aplicando parte dos nutrientes de forma mais parcelada seguindo uma agenda previamente determinada visando suprir a necessidade da planta para seu pleno desenvolvimento e produção. Além de uma cana mais vigorosa, essa prática também reduz custos de aplicação, evita a alta salinidade causada pelo uso excessivo de fertilizantes e impede a lixiviação e, consequentemente, a perda dos produtos aplicados”, afirma Pedroso.
Tecnologia de irrigação por gotejamento da Netafim entrega canavial altamente produtivo por, no mínimo, 12 cortes
Ao longo de sua trajetória no Brasil, a Netafim já entregou inúmeros resultados que comprovam a viabilidade de sua tecnologia. Em 2018, por exemplo, a produtividade das áreas do Centro-Sul irrigadas por seus equipamentos de gotejo alcançou médias de 131,47 Toneladas de Cana por Hectare (TCH), um avanço de 55 TCH frente à média geral da região, que foi de 76,26 TCH naquele ano. No Nordeste, o crescimento foi ainda maior, cerca de 65 TCH a mais do que a média regional.
Irrigação por gotejamento pode entregar aumento de produtividade de 50% em anos “normais” e de 70% a 80% em anos de alto déficit hídrico
Foto: Divulgação Netafim
Além do já comentado aumento de produtividade, que pode chegar a 50% em anos “normais” e de 70% a 80% em anos de maior déficit hídrico, a tecnologia da empresa também entrega resultados expressivos no quesito longevidade. Alguns canaviais irrigados via gotejo já ultrapassam os 10 cortes e seguem altamente produtivos até os dias de hoje. “Com o auxílio da nossa tecnologia, paramos de falar de cana de cinco ou seis anos e começamos a pensar em canaviais de 12 anos”, salienta Daniel Pedroso, reforçando que essa é uma previsão cautelosa, uma vez que a companhia possui quatro projetos que há tempos ultrapassaram essa média, sendo três deles no Centro-Sul e um no Nordeste.
O profissional explica como ocorre esse aumento na longevidade: após a colheita, o sistema radicular da cana-de-açúcar terá pela frente a difícil tarefa de formar uma nova planta. O problema é que, após o corte, essas raízes se encontram bastante debilitadas e, na maioria das vezes, não encontram água no solo, em função da colheita ser realizada majoritariamente no período seco do ano. Sem recursos hídricos, não há absorção de nutrientes. Dessa forma, as raízes terão que gastar suas próprias reservas para formar novos perfilhos, que brotarão com pouco vigor e bastante enfraquecidos.
Mas, caso exista uma irrigação tecnificada naquela área, o sistema radicular terá abundância de água disponível e, consequentemente, de nutrientes. Essa “energia” extra será vital para garantir uma brotação forte e vigorosa.
Daniel Pedroso: “Com um canavial chegando produtivo ao 12º corte, você evita, no mínimo, uma reforma. A R$ 12 mil o hectare, é um ganho muito significativo”
Foto: Divulgação Netafim
Segundo Pedroso, grandes grupos canavieiros já estão enxergando a irrigação tecnificada como principal aliada no aumento da longevidade visando, acima de tudo, diluir os atuais custos de formação. “Com um canavial chegando produtivo ao 12º corte, você evita, no mínimo, uma reforma. A R$ 12 mil o hectare, é um ganho muito significativo.”
Atualmente, a Netafim recomenda o uso da irrigação por gotejamento para canas de meio e final de safra, quando o déficit hídrico é mais acentuado. Além de aumentos de produtividade e longevidade, a tecnologia da empresa ainda possibilita redução de custos operacionais e de produção; ampliação da cogeração de energia, melhor pontuação no Renovabio, 95% de eficiência no uso da água e menor dependência do clima. Diante de tantos benefícios, é estimado um payback de 3,5 anos tomando como base os preços históricos de açúcar e etanol. No entanto, em face dos patamares atuais, esse retorno pode ocorrer em apenas 1,5 ano.
Lembrando que a experiência da Netafim em irrigação é fruto da vivência com a escassez hídrica em seu país de origem, Israel, onde os avanços em irrigação transformaram desertos em lavouras altamente produtivas. Atualmente, a empresa oferece duas modalidades tecnológicas de gotejo para cana-de-açúcar. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros de mudas – plantio convencional ou MPBs –, é possível instalar as mangueiras e tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. Ambas as soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.
ÁREAS IRRIGADAS VIA GOTEJAMENTO NA RAÍZEN ALCANÇAM OITO CORTES COM EXCELENTE PRODUTIVIDADE
Com 35 parques industriais espalhados por diversos estados do Centro-Sul, a Raízen aposta em diferentes técnicas para elevar a produtividade e longevidade de seus canaviais. Uma das apostas que vem ganhando popularidade nas unidades localizadas em regiões de maior déficit hídrico é a irrigação por gotejamento.
O primeiro projeto foi implantado em 2013 na unidade Gasa, localizada em Andradina, noroeste do Estado de São Paulo. Devido aos maiores déficits hídricos da região, os canaviais locais geralmente permitem colheitas apenas até o quinto ano. Após essa idade, a baixa produtividade torna inviável o prolongamento dos cortes. Por outro lado, a lavoura escolhida para testes da tecnologia de gotejo segue produtiva até os dias de hoje. Atualmente no oitavo corte, o canavial vem entregando 30 a 40 toneladas a mais do que as áreas de sequeiro vizinhas.
Em 2013, Usina Gasa sediou primeiro projeto de irrigação por gotejamento da Raízen. Canavial segue produtivo até os dias de hoje
Foto: Divulgação Raízen
O gerente de engenharia agrícola e geotecnologia da Raízen, Fernando Aparecido Benvenuti, afirma que, desde a implantação do primeiro projeto, o gotejamento se estendeu pelas demais usinas do Grupo. Atualmente, 2.280 hectares de canaviais estão cobertos pela tecnologia, que corresponde por cerca de 40% do total das áreas irrigadas. O restante é realizado por meio de pivôs. “Porém, devido a tantos benefícios, o gotejo já responde por quase 70% dos novos projetos de irrigação.”
O profissional explica que, além de ganhos em produtividade e longevidade, a irrigação também implica na diminuição do raio médio do CTT (Corte, Transbordo e Transporte). “Ao produzir mais em uma mesma área, é possível evitar arrendamentos muito distantes da unidade, diminuindo ainda mais os custos de produção.”
Outra vantagem das áreas irrigadas é a menor frustação com o clima. “Mesmo que uma forte seca atinja esses canaviais, a produtividade não será muito diferente da prevista anteriormente, se mantendo equilibrada. Sem falar que em anos de severas estiagens, a queda na produção do setor como um todo eleva os preços. Dessa forma, essas áreas, que seguiram produtivas durante esse período, serão ainda mais rentáveis do que o esperado”, analisa Benvenuti.
A economia de água e a possibilidade de aplicar insumos via sistema de gotejo são outros fatores positivos da adoção da tecnologia. O gerente de engenharia agrícola e geotecnologia da Raízen ressalta que apenas herbicidas e maturadores são aplicados de forma mecânica sobre as socarias desses canaviais. O restante dos fertilizantes e insumos, inclusive a vinhaça, é aplicado utilizando a mesma estrutura da irrigação, acarretando em redução de custos dos tratos culturais.
Fernando Aparecido Benvenuti: “Devido a tantos benefícios, o gotejo já responde por quase 70% dos novos projetos de irrigação [da Raízen]”
Foto: Divulgação Raízen
Benvenuti relata ainda que, quando a reforma realmente se fizer necessária, não será preciso investir novamente em toda a estrutura de irrigação, pois apenas os tubos gotejadores serão trocados, que representam aproximadamente de 30% a 40% do custo total de um projeto. “Os demais itens, como bomba, filtros e adutoras, serão mantidos e permanecerão em uso no novo canavial.”
Com tantos benefícios, fica claro o porquê a Raízen estar investindo cada vez mais na tecnologia de irrigação, na qual o gotejamento é uma das alternativas. “Acreditamos muito nesse sistema, que tem se mostrado muito eficaz em algumas de nossas unidades. A melhoria na viabilidade econômica dessas usinas é visível, principalmente pelo aumento da longevidade com produtividade, que acaba diluindo os altos custos de plantio da atualidade”, finaliza.
Fonte: CanaOnline

