ISO estima superávit global de 1,625 milhão de toneladas e estoques seguem no menor nível em 15 anos
17-11-2025
Revisão incorpora recuperação de oferta na Ásia e safras mais fortes no Hemisfério Sul, mas preços permanecem pressionados no mercado internacional
Por Andréia Vital
A Organização Internacional do Açúcar (ISO) revisou suas projeções e passou a estimar um superávit global de 1,625 milhão de toneladas em 2025/26, revertendo a perspectiva de déficit apresentada em relatórios anteriores e reduzindo também o déficit previsto para 2024/25, de 4,879 milhões para 2,916 milhões de toneladas. A mudança é atribuída ao avanço da produção em importantes polos do setor, como Índia, Tailândia e Paquistão, além do resultado melhor do que o esperado das safras do Hemisfério Sul, especialmente no Brasil.
De acordo com relatório divulgado nesta segunda-feira (17), a produção mundial deve alcançar 181,77 milhões de toneladas na próxima temporada, aumento de 5,55 milhões de toneladas sobre 2024/25. O consumo global, por sua vez, é projetado em 180,142 milhões de toneladas, crescimento moderado de 0,56%. A entidade destaca que, apesar do superávit, os estoques continuam historicamente baixos: a relação estoque/uso deve cair para 52,74%, o menor patamar em nove anos, e, conforme o cálculo ajustado da própria ISO, que considera perdas de refino e revisões contábeis, o indicador recua para menos de 43%, nível não observado há 15 anos.
Os preços internacionais seguem em tendência de fraqueza. O ISA, referência diária da ISO, opera abaixo de 14 centavos de dólar por libra-peso em novembro, acumulando queda de 9% entre agosto e outubro. No Brasil, o açúcar cristal caiu para R$ 2.299 por tonelada, o menor valor em três anos. Mesmo com a pressão global, mercados como Índia e México registraram leves altas em moeda local, limitadas a 1%.
A ISO avalia que o cenário para os próximos meses permanece neutro, com espaço restrito para recuperação consistente das cotações diante do superávit moderado, da lentidão nas exportações e da incerteza sobre o desempenho da safra asiática.
No comércio internacional, a organização projeta exportações de 64,733 milhões de toneladas em 2025/26, número superior ao estimado anteriormente, enquanto as importações devem somar 62,962 milhões de toneladas, redução frente à última previsão. O resultado mantém um superávit comercial estrutural semelhante ao observado em 2024/25, quando as exportações alcançaram 64,740 milhões de toneladas, gerando excedente marginal de 227 mil toneladas.
O relatório também atualiza as estimativas para o mercado de etanol. A produção mundial deve atingir 120,6 bilhões de litros em 2025, avanço de 1,7% em relação a 2024, enquanto o consumo sobe 2,6%, para 120,5 bilhões de litros. Os Estados Unidos permanecerão como maior produtor, com 61,5 bilhões de litros, enquanto o Brasil deve reduzir sua fabricação para 32,7 bilhões de litros, influenciado pela maior rentabilidade relativa do açúcar. A Índia, em sentido oposto, amplia significativamente seu volume, chegando a 9,5 bilhões de litros graças ao aumento da mistura obrigatória de biocombustíveis e ao uso crescente de grãos como matéria-prima.
Nos mercados de coprodutos, a oferta de melaço permanece limitada em 2025, mesmo com o aumento de 7% nas exportações mundiais entre janeiro e setembro. O consumo asiático caiu 9%, com retração acentuada de países como Tailândia e Filipinas. Para 2026, a ISO prevê melhora na disponibilidade com o fim do imposto de exportação na Índia e volumes maiores na América do Norte, América Central e Sudeste Asiático.
A cogeração também registra recuo: no Brasil, a produção elétrica a partir do bagaço somou 7.076 GWh até junho e 15.558 GWh até setembro, ambos em queda, e a Índia contabilizou redução anual de 6,9%. Na Europa, empresas ampliam investimentos em biometano derivado da polpa de beterraba.
No segmento de adoçantes, a produção de HFCS nos Estados Unidos deve cair para 7,3 milhões de toneladas em 2025 e 7,2 milhões em 2026, acompanhando a menor demanda interna e a redução das importações vindas do México. O relatório aponta fortalecimento da procura por adoçantes vegetais e blends em mercados desenvolvidos, em movimento ampliado pelo avanço do consumo de bebidas de baixo ou nenhum açúcar, tendência reforçada entre usuários de medicamentos GLP-1.
Um novo adoçante proteico produzido por fermentação recebeu classificação GRAS nos EUA, enquanto avança o debate sobre possíveis restrições ao aspartame tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
No campo regulatório e comercial, a ISO observa que as negociações agrícolas da OMC continuam sem avanço significativo, mesmo após 24 anos de discussões, e avalia que mudanças de maior escala são improváveis antes da MC14. Paralelamente, diversos acordos bilaterais e regionais avançaram: a União Europeia concluiu negociações com a Indonésia, o Mercosul firmou pacto com a EFTA, a Índia ratificou seu acordo com a EFTA, e China e ASEAN atualizaram seu tratado.
Já a AGOA expirou nos Estados Unidos sem renovação, e novas salvaguardas foram adicionadas ao acordo entre UE e Mercosul. A União Europeia aprovou ainda um novo regime comercial com a Ucrânia, que limita as exportações de açúcar do país a 100 mil toneladas anuais, apesar de a Ucrânia projetar embarques de cerca de 320 mil toneladas no ano corrente. A ISO destaca que a chamada “Rodada Trump” continua moldando fluxos comerciais, com novos entendimentos envolvendo países asiáticos e o Uzbequistão, além de um acordo parcial com a China.

