ISO prevê déficit global de açúcar recorde na safra 2024/25
26-05-2025
Segundo organização, será o maior déficit dos últimos nove anos
A Organização Internacional do Açúcar (ISO) divulgou recentemente sua mais atualizada edição do Relatório Trimestral de Mercado (Quarterly Market Outlook – QMO), que contém análise do balanço global da safra de açúcar para o ciclo 2024/25. Segundo o relatório, o mundo deve enfrentar o maior déficit global de açúcar dos últimos nove anos, com uma diferença estimada de 5,466 milhões de toneladas entre a produção e o consumo mundial. Esse número representa um aumento significativo de 585 mil toneladas em relação à última revisão feita em fevereiro deste ano, mostrando uma intensificação da escassez no mercado.
A retração na produção global de açúcar para o período 2024/25 foi ajustada para 174,795 milhões de toneladas, o que corresponde a uma redução de 6,469 milhões de toneladas em comparação à safra anterior. Esse decréscimo é explicado principalmente por problemas na produção em países-chave como Índia e Paquistão, que sofreram com condições climáticas adversas, incluindo secas e chuvas irregulares, além de desafios agrícolas que afetaram o rendimento das plantações de cana-de-açúcar e beterraba.
Essas dificuldades ressaltam como a agricultura mundial está cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas e variabilidades ambientais, fatores que podem se tornar frequentes e impactar a segurança alimentar e energética global.
Apesar do quadro de oferta mais restrita, o consumo mundial de açúcar está projetado para atingir um recorde de 180,261 milhões de toneladas na safra 2024/25. No entanto, a taxa de crescimento do consumo desacelerou, registrando um leve recuo de 160 mil toneladas em relação à estimativa anterior, indicando uma expansão inferior a 0,6%. Esse movimento pode ser atribuído a fatores como mudanças nos hábitos de consumo, preocupações crescentes com saúde e obesidade, e a busca por adoçantes alternativos, refletindo um mercado que, embora ainda cresça, apresenta sinais de maturação e maior cautela por parte dos consumidores.
Comércio internacional: volume reduzido e equilíbrio delicado
No âmbito do comércio internacional, o relatório aponta para uma redução expressiva no volume global de açúcar negociado. As exportações projetadas para a safra 2024/25 são de 63,323 milhões de toneladas, abaixo dos 69,342 milhões registrados na temporada anterior. Esse declínio pode refletir não apenas a menor disponibilidade devido à queda na produção, mas também alterações nas políticas comerciais, tarifas e acordos entre países produtores e consumidores.
Por outro lado, a demanda por importações permanece robusta, estimada em 63,133 milhões de toneladas, demonstrando que, apesar dos ajustes no comércio, o apetite global por açúcar não diminuiu substancialmente. Esse equilíbrio delicado entre oferta e demanda no comércio exterior reforça a pressão sobre os mercados nacionais para manter estoques e suprir a demanda interna.
Os estoques nacionais de açúcar deverão atingir o nível mais baixo dos últimos nove anos ao final da safra 2024/25, o que representa um fator de risco importante para a estabilidade do mercado. A relação entre estoques e consumo, indicador utilizado para avaliar a capacidade de absorção de choques na oferta, deve cair de 55,57% para 52,11%, sinalizando uma margem de segurança menor para enfrentar eventuais interrupções na produção ou flutuações inesperadas na demanda.
Além disso, o relatório da ISO inclui uma análise de estoques ajustados, que levam em conta perdas ocorridas durante o processo de refino e atualizações fornecidas pelos países membros da organização. Esses estoques ajustados podem alcançar, em setembro de 2024, o nível mais baixo registrado em 13 safras, reforçando a necessidade de medidas estratégicas por parte dos países produtores para evitar crises de abastecimento e volatilidade excessiva nos preços.
Preços do açúcar: cenário de recuperação e desafios para produtores
Nos últimos meses, os preços globais do açúcar mostraram uma tendência de enfraquecimento. Em maio, o Índice de Preços do Açúcar (ISA) registrou um preço médio diário de 17,74 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o índice ISSO para o açúcar branco ficou em 491,04 dólares por tonelada. Apesar desse enfraquecimento recente, as perspectivas para os próximos meses são de estabilidade a leve alta, sustentadas pelo aumento do déficit global.
Esse cenário coloca uma pressão importante sobre grandes produtores, como o Brasil, que precisa garantir operações eficientes e ininterruptas para cumprir as metas de exportação previstas entre maio e setembro de 2024, período crítico da safra. A capacidade de manter a produção e logística em funcionamento pleno será decisiva para equilibrar o mercado e evitar que a escassez se reflita em aumentos acentuados dos preços para consumidores finais.
Etanol: crescimento constante impulsionado por políticas sustentáveis e demanda crescente
O relatório também dedica atenção ao mercado global de etanol, apontando uma estimativa de produção para 2025 em torno de 120,7 bilhões de litros, representando um crescimento de 1,9% em relação a 2024. O consumo acompanha essa expansão, projetado em 119,5 bilhões de litros. Esse aumento reflete o fortalecimento das políticas públicas globais voltadas para combustíveis renováveis e a redução da dependência de fontes fósseis, mesmo em um cenário econômico desafiador.
Nos Estados Unidos, a produção moderada está estimada em 60,7 bilhões de litros, enquanto o Brasil prevê um crescimento significativo, chegando a 34,48 bilhões de litros, motivado principalmente por uma safra recorde de etanol à base de milho, com volume estimado em 9,5 bilhões de litros. A Índia destaca-se como o mercado com maior potencial de crescimento, planejando atingir 8 bilhões de litros em 2025, com uma meta ambiciosa de alcançar 20% de mistura de etanol na gasolina, com planos de subir para 30% até 2030. Essas iniciativas indicam um movimento global robusto rumo à descarbonização dos transportes e maior sustentabilidade energética.

