ISO prevê déficit recorde na produção mundial de açúcar
08-04-2025

Organização afirma também que tarifas impostas pelos EUA ameaçam desorganizar o fluxo comercial de alimento

A previsão para a safra 2024/25 aponta um déficit recorde na produção mundial de açúcar, com a produção global encolhendo para 175,5 milhões de toneladas – 5,8 milhões de toneladas a menos do que na safra anterior. Essa queda representa a primeira redução na produção mundial desde a safra 2019/20 e é amplificada por uma combinação de eventos climáticos adversos em países produtores-chave como Índia, Paquistão e Tailândia, além de uma estagnação na capacidade produtiva global.

O diretor executivo da International Sugar Organization (ISO), José Orive, que apresentou um cenário desafiador para o mercado global de açúcar no Cana Summit 2025, realizado na semana passada em Brasília - DF, destacou a gravidade do déficit que se aproxima de 4,88 milhões de toneladas, o maior registrado nos últimos 16 anos e pode chegar a 5 milhões. Este déficit resulta principalmente da queda na produção da Índia, um dos maiores produtores globais de açúcar.

Apesar da redução na produção mundial, o consumo de açúcar continua em trajetória ascendente. Para a safra 2024/25, o consumo mundial de açúcar está projetado para alcançar um recorde histórico de 180,4 milhões de toneladas. No entanto, o crescimento desse consumo está desacelerando para apenas 0,25% ao ano, em comparação com a média de 2,2% entre 2021 e 2023.

O consumo está se concentrando em mercados emergentes, como África e China, enquanto na Europa Ocidental e América do Norte, a demanda está retraindo devido a preocupações de saúde com o açúcar nas dietas.

Brasil em evidência: a importância dos pequenos produtores

No evento, José Orive destacou o papel estratégico do Brasil no mercado global, lembrando que o país foi responsável por mais de 50% das exportações de açúcar em 2023/24. No entanto, mesmo com o desempenho sólido, o Brasil também enfrenta desafios climáticos que afetam sua produção. Após uma safra recorde em 2023/24 de 46,5 milhões de toneladas, a produção deve recuar para 42,5 milhões na safra 2024/25.

Outro tema abordado foi a crescente incerteza comercial. Orive alertou sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos, especialmente as medidas adotadas pelo presidente Donald Trump, que ameaçam desorganizar o fluxo comercial de açúcar. A ameaça de uma guerra comercial e o aumento das tarifas sobre importações, como as de 25% sobre o México, intensificam a volatilidade e a insegurança no mercado.

Um ponto crucial na análise de Orive foi o reconhecimento do papel vital dos produtores independentes de cana-de-açúcar, que são frequentemente invisíveis na narrativa da indústria. Segundo Orive, sem a contribuição desses produtores, a indústria sucroenergética global não se sustentaria. No Brasil, aproximadamente 70 mil produtores independentes são responsáveis por 40% da produção nacional de cana. Na Índia, esse número cresce significativamente, com 42,5 milhões de agricultores sendo responsáveis por toda a produção do país. Na Tailândia, cerca de 70% da produção de açúcar também vem de pequenos produtores.

Orive sublinhou que no Brasil, esses produtores frequentemente têm propriedades maiores e atendem a várias usinas, criando um sistema mais estável e resiliente para o setor sucroenergético.

Apesar da previsão de déficit recorde e da queda na produção, Orive apresentou uma visão neutra a otimista para os preços do açúcar até maio de 2025. Fatores como a seca no Centro-Sul brasileiro, chuvas insuficientes na Tailândia durante o período de plantio e o menor plantio de beterraba na União Europeia indicam um cenário desafiador. Contudo, a expectativa de melhores rendimento agrícolas no Brasil para a safra 2025/26 pode ajudar a aliviar as pressões baixistas nos preços.