Maior volume de calda no controle de pragas não é sinônimo de eficácia
29-10-2025

Estudos mostraram que aplicações variando entre 100 e 300 litros por hectare resultaram em desempenhos estatisticamente semelhantes. Foto: Banco de dados internet
Estudos mostraram que aplicações variando entre 100 e 300 litros por hectare resultaram em desempenhos estatisticamente semelhantes. Foto: Banco de dados internet

Dose, deposição e cobertura são fatores mais determinantes, apontou Glauberto Moderno Costa durante Reunião do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar

Durante a 6ª Reunião do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar de 2025, realizada no Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC), em Ribeirão Preto/SP, o consultor Glauberto Moderno Costa, da Alvo Tecnologia de Aplicação, apresentou a palestra “Volume de calda no controle de insetos: mitos e verdades”.

Segundo o especialista, ainda é comum a crença de que volumes maiores de calda garantem melhor controle de pragas. Para ele, essa visão precisa ser revista. “A eficiência de uma aplicação depende de diversos fatores — como a deposição adequada, o tamanho correto das gotas, o manejo da palha, a escolha do ingrediente ativo, o momento de aplicação e a integração de métodos —, e não apenas do volume utilizado”, afirmou.

Estudos apresentados por Moderno mostraram que aplicações variando entre 100 e 300 litros por hectare resultaram em desempenhos estatisticamente semelhantes, indicando que aumentar o volume não significa necessariamente melhorar o controle. “O desafio atual vai além de medir litros por hectare. É compreender o comportamento das pragas, o tipo de equipamento e o ambiente físico de aplicação”, destacou.

O controle de pragas subterrâneas, como Sphenophorus levis, é particularmente complexo devido à barreira física imposta pela palha e à dificuldade de atingir o alvo biológico. Nesse contexto, o aleiramento surge como alternativa promissora. “Nossos experimentos mostraram que o afastamento da palha proporciona um ganho de eficácia entre 28% e 40%”, relatou o consultor.

No caso da broca-da-cana, as aplicações aéreas com volumes ultra baixos, entre 3 e 7 litros por hectare, têm mostrado bons resultados quando o tamanho e a densidade das gotas são adequadamente ajustados. Já para pragas de solo, como a cigarrinha-das-raízes, são necessários volumes maiores para garantir a penetração no dossel e o alcance do alvo, geralmente protegido pela palha. A recomendação, segundo o especialista, é ajustar o volume de acordo com o estágio fenológico da cultura: cerca de 20 L/ha para cana baixa e 30 L/ha para cana alta.

Outro ponto polêmico abordado foi o uso da vinhaça como veículo para inseticidas. Embora pareça uma alternativa econômica, o consultor alertou para os riscos de incompatibilidade físico-química entre a vinhaça e certos produtos. “Seu pH ácido e alta matéria orgânica podem degradar os ingredientes ativos de alguns inseticidas, reduzindo significativamente a mortalidade das larvas”, explicou. Em experimentos, após 150 dias, não foram observadas diferenças expressivas entre tratamentos com vinhaça + inseticida e a testemunha.

“A vinhaça não é um veículo adequado para diluição de inseticidas. A incompatibilidade química compromete a eficácia do controle, independentemente do volume aplicado. A água continua sendo o veículo mais indicado”, reforçou Moderno, lembrando que a economia aparente pode resultar em maiores prejuízos a longo prazo.

Também foi discutida a eficácia das aplicações noturnas, especialmente no manejo de Sphenophorus levis, cuja atividade é predominantemente noturna. Monitoramentos com armadilhas mostraram picos de movimento entre 18h e 2h, concentrando 76% dos adultos capturados nesse intervalo. “Durante a noite, há maior exposição da praga, melhores condições ambientais e menor evaporação e deriva. Contudo, é preciso considerar desafios operacionais, como iluminação adequada e equipe treinada, além do risco de acidentes devido à baixa visibilidade”, observou.

Como alternativa, o consultor recomenda realizar as aplicações no final da tarde, entre 16h e 18h, conciliando segurança operacional com o início do período de maior atividade dos adultos.

Encerrando sua apresentação, Glauberto Moderno Costa destacou que o futuro do manejo de pragas na cana-de-açúcar depende de inovação, integração e continuidade das pesquisas, sempre com foco em eficiência e sustentabilidade. “Precisamos abandonar a mesmice e trabalhar de forma colaborativa. Só assim conseguiremos transformar mitos em verdades científicas e avançar na proteção da cana com responsabilidade e precisão”, concluiu.