Matriz econômica afeta pegada de carbono do PIB
29-01-2025
Anuário Estadual de Mudanças Climáticas mostra volume de emissões para cada milhão de reais produzido em cada estado
Por Victoria Netto
Quanto mais diversificada a economia dos Estados brasileiros e mais orientada para serviços e indústrias, mais estável e menor é a intensidade de carbono do Produto Interno Bruto estadual (PIB) ao longo dos anos - isto é, a quantidade de emissões para cada milhão de reais produzido. É o que mostra o primeiro Anuário Estadual de Mudanças Climáticas, antecipado para o Valor.
Desenvolvido pelo Centro Brasil no Clima (CBC) e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) com apoio da Itaúsa, o estudo reúne dados sobre emissões, riscos climáticos, políticas e ações de mitigação e adaptação nos diversos setores da economia nas 27 unidades federativas brasileiras. A partir de 2025, a publicação será atualizada anualmente.
Em 2022, os seis entes da federação que mais emitiram carbono por milhão de reais gerados têm como base econômica a agricultura e o manejo de gado: Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins. Não à toa, estão na Amazônia Legal, onde as maiores emissões vêm do desmatamento e da agropecuária. Amazonas, que também está inscrito nesta zona geopolítica, ficou na nona posição em 2022. As exceções são Roraima e Amapá, que aparecem nas duas últimas colocações do ranking.
Arte Carbono — Foto: Valor
Esses Estados não necessariamente são os principais emissores do país, já que a intensidade de carbono do Produto Interno Bruto considera a relação entre as emissões anuais líquidas de dióxido de carbono (tCO2e) de cada ente federado e o respectivo PIB.
É o caso do Acre, que, apesar de ter um nível de emissões mediano em relação aos demais, lidera o ranking porque apresenta um PIB pequeno. Já São Paulo e Rio de Janeiro, que têm emissões consideradas altas e intermediárias, respectivamente, estavam entre as taxas de intensidade de carbono do PIB mais baixas em 2022 (24ª e 23ª posições), devido ao PIB elevado.
“Quando olhamos os diferentes Estados, percebemos que as matrizes econômicas de cada um deles levam a intensidades de carbono totalmente diferentes e a necessidades de mudança de uso do solo também distintas”, explica o gerente de política climática, instituições e direito do iCS, Walter De Simoni.
Agropecuária
O cenário dos Estados ajuda a explicar o padrão do Brasil, que está entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do mundo. O país tem a maior parte das emissões (cerca de 75%) provenientes de mudanças do uso da terra e da agropecuária.
Diretor-executivo do CBC, Guilherme Syrkis completa que o Brasil tem regiões muito diversas e que as fontes de emissões também variam. “Estados mais pobres acabam tendo emissões mais altas de florestas, de agricultura, enquanto Estados mais ricos têm emissões mais altas de transportes, de indústria e de produção de energia”, comenta.
A pesquisadora e consultora sênior do CBC, Fernanda Westin, observa ainda que a diferença de desmatamento de um ano para o outro influencia “bastante” na intensidade de carbono do PIB dos estados mais dependentes do uso da terra. Roraima é representativo: passou da sexta posição em 2021 para a penúltima em 2022.
Westin destaca que também é possível alcançar emissões negativas por meio da compensação de carbono. “As remoções de carbono acontecem quando há o plantio de florestas, agricultura e pastagem de alto vigor, com a absorção de CO2 durante o crescimento da vegetação”, explica.
Emissão x PIB
O anuário indica ainda que não há uma correlação direta entre o volume de emissões líquidas de carbono equivalente e o tamanho do Produto Interno Bruto de cada unidade federativa. O Estado de Mato Grosso, por exemplo, é o líder nacional de emissões, mas o PIB está em 11º lugar, de acordo com os dados de 2022 apresentados no anuário.
Diretor de projetos do CBC, William Wills ressalta que a proposta do anuário não é criar uma comparação entre os estados - que têm características, histórias e projeções de futuro distintas -, mas demonstrar o que há de políticas públicas sendo implementadas em cada um deles para que a sociedade civil possa acompanhar e reivindicar mudanças. “A gente acaba pressionando um nivelamento para que cada Estado tenha capacidade de enfrentamento das mudanças climáticas”, diz.
O intuito, acrescenta Guilherme Syrkis, é institucionalizar as melhores práticas e mostrar que os Estados que mais recebem investimentos verdes têm políticas climáticas e ambientais estruturadas. É o caso dos sete Estados brasileiros com fundos específicos em funcionamento ou em fase de implementação para o enfrentamento às mudanças climáticas: Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
“Espírito Santo e Mato Grosso do Sul têm se destacado com políticas bem interessantes e estão virando os queridinhos de BID, Banco Mundial, Banco Europeu e BNDES. Há um check-list para esses bancos, olham todo o exercício de plano plurianual, passando por políticas climáticas”, diz Syrkis.
Fonte: Globo Rural

