Medo de escassez faz Brent subir mais de 6%
22-03-2022

Os contratos futuros do petróleo fecharam em forte alta ontem, com os investidores avaliando os temores de escassez de oferta da commodity, em meio à possibilidade de novas sanções da União Europeia (UE) contra as exportações de petróleo russo e após um ataque de rebeldes houthi do Iêmen na Arábia Saudita.

O contrato do Brent para junho fechou em alta de 6,51%, a US$ 111,92 por barril em Londres, enquanto o do WTI para maio subiu 5,95%, a US$ 109,23 por barril em Nova York. O analista-chefe de mercados da CMC Markets em Londres, Michael Hewson, disse à "Dow Jones Newswires" que os preços do petróleo foram impulsionados pela expectativa de que a UE pode impor embargo às importações de petróleo russo, apesar dos danos que a medida poderia impor à economia europeia, conforme a invasão da Ucrânia continua.

"O ataque no fim de semana de rebeldes houthi na infraestrutura de produção de petróleo saudita também não ajudou a confiança", completou Hewson, em referência a uma série de ataques lançados por rebeldes iemenitas, apoiados pelo Irã, que afetaram a produção de petróleo do país.

A Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo do mundo, disse que não pode ser responsabilizada pela alta dos preços dos barris após uma série de ataques de rebeldes apoiados pelo Irã terem afetado parcialmente a produção do país. "Embora nenhum dano grave tenha sido causado, isso deixa claro que as interrupções de fornecimento também são uma possibilidade, o que seria praticamente impossível de compensar no ambiente atual", escreveu o Commerzbank em nota.

Analistas do BofA Global Research disseram também que os estoques de petróleo no principal centro de armazenamento da commodity nos EUA, em Cushing, Oklahoma, podem estar próximos dos "níveis mínimos operacionais", com grande parte das reservas atuais sendo usadas para operações físicas de mistura e como reservas de emergência, não estando disponíveis para entregas de contratos futuros do WTI.

Os estoques de petróleo em Cushing recentemente bateram o menor nível em oito anos, a 22 milhões de barris. Embora os estoques tenham visto surpreendente alta de quase dois milhões de unidades na semana passada, analistas da BofA Global Research dizem que mais quedas são possíveis.

O aviso severo da Arábia Saudita representa uma guinada em relação às declarações tipicamente cautelosas do país, já que as autoridades sauditas sabem que seus comentários podem ter grande impacto sobre os mercados.

O anúncio ocorre enquanto a Arábia Saudita se mantém firme a um acordo firmado no âmbito da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para aumentar gradualmente a produção após os cortes realizados devido à pandemia de covid-19.

Até agora, os países do Oriente Médio resistiram às pressões dos Estados Unidos para acelerar a produção de petróleo, reduzindo o impacto da guerra lançada na Ucrânia e das sanções econômicas implementadas pelo Ocidente em resposta à invasão.

"A comunidade internacional deve assumir sua responsabilidade de preservar o suprimento de energia", acrescentou a nota do Ministério das Relações Exteriores, pedindo que os ataques que comprometam a produção de petróleo do país sejam impedidos.

Amin Nasser, presidente executivo da Saudi Aramco, disse a jornalistas no domingo que adotou planos contingenciais para assegurar o cumprimento de seus contratos, informou o Financial Times. Os ataques ocorrem no momento em que a Arábia Saudita se prepara para sediar negociações entre facções do Iêmen organizadas pelo Conselho de Cooperação do Golfo. Os houthis disseram que boicotarão as negociações.

Arábia Saudita e EAU estão frustrados com o que veem como falta de apoio de aliados como os EUA contra os houthis. Eles pediram ao presidente americano, Joe Biden, que reclassifique os houthis como organização terrorista após ele ter revertido essa designação quando assumiu o cargo. Biden também encerrou o apoio à coalizão no Iêmen e suspendeu vendas de armas ofensivas à Arábia Saudita.

Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA