Melhoria da pluviosidade em 2023 não deve ser utilizada como pretexto para paralisar projetos em irrigação
13-06-2023
Consolidada, irrigação por gotejamento proporciona benefícios até mesmo em anos chuvosos. Investir agora também implica na criação de um “seguro” contra safras mais secas, que inevitavelmente retornarão
Leonardo Ruiz
Após algumas safras de alto déficit hídrico, a alta pluviosidade do primeiro trimestre - ocasionada pelo enfraquecimento do fenômeno La Niña e pela instalação de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) – foi um alento para os canavieiros do Centro-Sul do país, que vem observando um melhor desenvolvimento de suas áreas e apostando em uma melhor produção para a safra atual.
O consultor associado da Canaplan, Nilceu Piffer Cardozo, observa, porém, que as chuvas que atingiram boa parte do Centro-Sul do país neste início de ano não foram acima da média. Nós é que estávamos acostumados com a seca. “A pluviosidade nesse período figurou muito próxima às médias históricas. Mas, como enfrentamos três ou quatro anos de oscilações climáticas bastante adversas, tivemos esse sentimento de abundância, quando na verdade, apenas voltamos ao padrão.”
De qualquer modo, o profissional prevê impactos bastante positivos para a safra atual, mesmo que algumas heranças negativas dos últimos ciclos ainda possam ser observadas. “A boa notícia é que o ruim deste ano será bem melhor do que o médio dos anos anteriores.”
Dados da primeira estimativa da Canaplan para a safra 2023/24 projetam uma moagem entre 593 mi/ton e 595 mi/ton, com uma produtividade próxima das 80 toneladas por hectare (TCH). “Mesmo no pior cenário, devemos ter aumento nos volumes de matéria-prima processada e de produtividade agrícola, fruto dessa melhor oferta hídrica durante o principal período de desenvolvimento dos canaviais.”
Canaplan estima moagem próxima das 600 milhões de toneladas para safra 2023/24
Fonte: Canaplan
No entanto, Cardozo alerta para os produtores e unidades bioenegéticas não se acomodarem, pois inevitavelmente haverá safras mais secas no futuro. “Não podemos repetir os mesmos erros do passado, quando abandonamos projetos em irrigação por conta de um ou dois ciclos climaticamente mais favoráveis.”
Na sua visão, não é hora de deixar esse assunto esfriar, pois a irrigação foi a tecnologia que melhor conseguiu frear os prejuízos ocasionados pelas severas e prolongas estiagens dos últimos anos. “O projeto de irrigação implica em ganhos no longo prazo. Pode ser que não seja tão rentável no primeiro ano, mas definitivamente será de grande valia quando houver baixa oferta hídrica ou mesmo em anos de alta pluviosidade, mas com distribuição irregular, uma vez que seu principal benefício é entregar as quantidades ideias de recursos hídricos de acordo com as fases de cada cultivo, no momento certo e diretamente na raiz das plantas.”
Nilceu Cardozo: “Não podemos repetir os mesmos erros do passado, quando abandonamos projetos em irrigação por conta de um ou dois ciclos climaticamente mais favoráveis”
Foto: Divulgação Canaplan
Pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, a Netafim oferece duas modalidades tecnológicas de gotejo para cana-de-açúcar. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros (Cantosi ou Meiosi), é possível instalar os tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. Ambas as soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.
Irrigação por gotejamento pode incrementar TAH dos canaviais
Após várias safras em baixa, a produtividade agrícola dos canaviais do Centro-Sul do país deve retornar a casa das 80 toneladas de cana por hectare (TCH) nesta safra, graças a melhoria das condições climáticas observadas desde o final do ano passado. A última vez que superamos essa barreira foi na safra 2015/16, quando as médias atingiram 83,04 TCH.
Nesta safra, produtividade média do CS deve voltar a casa das 80 TCH
Fonte: Canaplan
Consultor da Canaplan, Nilceu Piffer Cardozo explica esse aumento projetado para a produtividade se tornará ainda mais benéfico para o setor por agir como um compensador para uma possível queda na qualidade da matéria-prima (Brix, POL e ATR), puxada para baixo em função das condições climáticas recentes, bem como a possibilidade da ocorrência de El Niño no segundo semestre deste ano.
“Esses dados mostram claramente que estamos vivendo à mercê do clima a todo momento. Se as condições climáticas forem positivas, teremos produção. Caso contrário, amargamos prejuízos. Precisamos ser os únicos protagonistas do nosso negócio”, sublinha.
Uma das principais ferramentas para nos livrarmos das amarras impostas pelo clima e aumentar, por conta própria, o volume de matéria-prima colhida é a irrigação por gotejamento. Ao aliar baixo volume a alta frequência, essa tecnologia entrega, independente das condições climáticas vigentes, grandes incrementos em produtividade agrícola, especialmente em toneladas de açúcar por hectare (TAH), fator mais assertivo ao se calcular a produção de cana-de-açúcar de uma área.
Irrigação por gotejamento é uma das principais ferramentas para nos livrarmos das amarras impostas pelo clima e aumentar, por conta própria, o volume de matéria-prima colhida
Foto: Divulgação Canaplan
O especialista agronômico da Netafim, Daniel Pedroso, ressalta que a irrigação por gotejamento tem o poder de aumentar de 70% a 80% a produtividade das áreas em safras com alto déficit hídrico. Já em anos de melhor pluviosidade, a ferramenta será capaz de manter alta a produtividade durante toda o ano, inclusive nas canas de meio e final de safra que, por conta da entrada do período seco, acabam tendo sua produção derrubada.
Além dessas vantagens, o profissional destaca os demais pontos positivos que fazem da irrigação por gotejamento a tecnologia mais rentável da atualidade. “Aumento da longevidade das áreas, estabilidade na produção, maior eficiência no uso da água, elevação da cogeração de energia, diminuição da necessidade de ampliação de área ou novos arrendamentos, redução dos gastos com CTT (Corte, Transbordo e Transporte) e maior Nota de Eficiência Energética-Ambiental (NEEA) dentro do âmbito do RenovaBio figuram entre as muitas outras externalidades positivas do sistema”, finaliza.

