Mercado aposta na manutenção da meta de 48 milhões de CBios para 2026 após fim da consulta pública
17-11-2025
Geração prevista para 2026 supera demanda individualizada e deve sustentar estoques elevados
Por Andréia Vital
Com o encerramento da consulta pública do decênio 2026-2035 do RenovaBio e sem qualquer sinalização do Ministério de Minas e Energia (MME) sobre alteração das metas de descarbonização, agentes do setor já consideram praticamente consolidada a manutenção da meta compulsória de 48,1 milhões de Créditos de Descarbonização (CBios) para 2026. A avaliação consta em relatório da Consultoria Agro do Itaú BBA, que também atualiza indicadores do mercado até outubro de 2025.
A definição final das metas ocorrerá na reunião ordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) marcada para 3 de dezembro. A tendência de estabilidade contrasta com os ajustes promovidos pelo MME em anos anteriores, quando reduções foram propostas ainda na fase preliminar da consulta pública, influenciando diretamente as estimativas de oferta e demanda do programa.
O processo de consulta recebeu contribuições para elevar a meta, defendidas por produtores de biocombustíveis, e também para reduzi-la, pleito recorrente das distribuidoras, que compõem a parte obrigada. Entretanto, a ausência de qualquer indício de revisão por parte do MME, ao contrário do observado em ciclos recentes, reforça a percepção de manutenção do número.
Para 2025, o Itaú BBA projeta geração total de 41,9 milhões de CBios, frente a metas individualizadas de 49,5 milhões, considerando o somatório das obrigações vigentes, o volume não aposentado de anos anteriores e os descontos dos contratos de longo prazo. O cenário aponta para redução de estoques ao longo do ano, mas com 7,4 milhões de CBios ainda não aposentados até dezembro. Na prática, devem ser aposentados 42,1 milhões de CBios, deixando o estoque final praticamente estável em torno de 16,4 milhões de títulos.
Até outubro, os estoques totais do mercado alcançaram 40,0 milhões de CBios, alta mensal de 971 mil. A parte obrigada detinha 14,49 milhões (+302 mil no mês), enquanto emissores somavam 15,89 milhões (+505 mil). No acumulado do ano-meta, distribuidoras já compraram 35,84 milhões de CBios, incluindo 181 mil aposentados antecipadamente.
Para 2026, a consultoria estima geração de 44,7 milhões de CBios. Com a meta compulsória mantida em 48,1 milhões, e considerando 3,0 milhões de descontos de contratos de longo prazo, a meta individualizada cai para 45,1 milhões — praticamente equilibrada com a oferta prevista.
Esse balanço leva o banco a avaliar que a manutenção da meta é “importante para evitar uma ampliação excessiva dos estoques”, já que, mesmo com o mercado ajustado, o volume estocado permanecerá elevado.
A oferta confortável tem se refletido no comportamento dos preços. Em outubro, o CBio caiu para R$ 35,30, queda de 14% no mês e 42% abaixo da média do ano-meta. A média de 2025 está em R$ 61,00, retração de 25% ante 2024.
A liquidez também perdeu força: o volume negociado em outubro foi de 6,91 milhões de CBios, recuo de 19% sobre setembro e de 33% frente a outubro de 2024. No acumulado do ano, as negociações somam 70,1 milhões de CBios, 7% abaixo do mesmo período de 2024.
Os emissores depositaram 3,99 milhões de CBios em outubro, avanço de 16% sobre setembro, mas queda de 5% em relação ao mesmo mês de 2024. No acumulado até outubro, as emissões somam 35,79 milhões, 2% acima do volume registrado no mesmo período do ano passado.
O relatório recorda que o Decreto 11.141/2022 havia transferido para 31 de março do ano seguinte o prazo para comprovação de metas. Contudo, em 26 de abril de 2023, o MME revogou o ajuste e restabeleceu o prazo tradicional de 31 de dezembro para a aposentadoria anual dos CBios, regra que segue vigente.

