Mercado de açúcar sob influência macroeconômica
06-11-2024

Após chuvas no Centro-Sul e falta de novidades, preço do açúcar mantém suporte elevado, mas depende de fundamentos externos

Com recentes chuvas na região Centro-Sul e ausência de novidades significativas, o mercado de açúcar mantém preços estáveis, mas está cada vez mais vulnerável a influências macroeconômicas, como preços de energia e cenário global. Durante o mês de outubro, o mercado mostrou-se mais lento, com menor volatilidade e redução de interesse especulativo, afetando principalmente o contrato de março, que segue negociado 500 pontos acima da média histórica de acordo com a Hedgepoint Global Markets.

As exportações brasileiras do mês passado provavelmente superaram 3 milhões de toneladas (Mt), mantendo o suporte de preços. Com a oferta nacional esperada para reduzir no fim de 2024, há uma expectativa de recuperação das cotações, especialmente se a Índia restringir suas exportações. Para a temporada 2025/26, a produção de cana-de-açúcar no Centro-Sul foi revisada para 600 Mt, dependendo do regime de chuvas, sugerindo um possível suporte aos preços até 2025.

A recente queda nos preços da energia – incluindo uma desvalorização de 5% no petróleo e uma correção de 10% no gás natural – pressionou o mercado de açúcar, que vinha apresentando estabilidade. A analista Lívea Coda, da Hedgepoint Global Markets, comenta que o colapso no complexo de energia e a remoção de prêmios de risco relacionados a conflitos geopolíticos afetaram o preço do açúcar, principalmente em outubro, um mês considerado lento para o contrato de março. Segundo Lívea, a relação negativa entre açúcar e dólar vem se intensificando, sinalizando a influência dos fatores macroeconômicos, em meio à ausência de novos fundamentos que impulsionem o mercado.

Mesmo com a pressão, os preços ainda são altos. No patamar de 22,5 centavos por libra-peso, o contrato de março mantém um prêmio superior a 500 pontos sobre a média histórica para o período, assim como outros contratos futuros que oferecem um prêmio médio de 400 pontos. "Para uma reação mais expressiva dos preços, novas movimentações nos fundamentos são essenciais", aponta a analista.

Segundo Lívea, a movimentação de exportação de açúcar pelo Brasil em outubro foi forte, com a nomeação de embarques ultrapassando os 3 Mt, superando o desempenho de 2023, quando chuvas atrasaram os carregamentos. Esse bom ritmo ajuda a manter um prêmio reduzido no porto de Santos e estabiliza os preços do açúcar bruto. Com a proximidade da entressafra, projeta-se uma redução significativa da disponibilidade brasileira, abaixo da média histórica para o primeiro trimestre de 2025, o que pode contribuir para uma recuperação dos preços, especialmente se a Índia optar por limitar suas exportações.

"A nossa expectativa é de que o Centro-Sul exporte cerca de 31,5 Mt de açúcar na temporada 2024/25, uma queda de 5,3% em comparação com 2023/24", afirma. Apesar disso, a previsão de chuvas durante o verão pode beneficiar o desenvolvimento da safra 2025/26, embora possa interromper as operações portuárias e limitar o ritmo de exportação.

À medida que se aproxima a nova safra, o comportamento dos preços depende das chuvas de verão, que podem influenciar a produção e a oferta. A previsão inicial para a produção de cana no Centro-Sul foi revisada para 600 Mt, com base em cenários semelhantes de safras passadas, como 2016/17, quando o El Niño e atrasos no plantio geraram um efeito semelhante no mercado. Essa revisão para baixo sugere um impacto menos negativo nos preços a partir do segundo trimestre de 2025, com potencial de manter uma faixa de preço elevada e uma correção mais contida, caso as chuvas de verão sigam o esperado.