Mercado de Commodities sofre forte queda em maio com pressão global sobre açúcar, etanol e grãos
17-06-2025
Boletim da FG/A aponta volatilidade generalizada nas cotações e desafios no início da safra 2025/26 no Centro-Sul brasileiro
O mês de maio foi marcado por significativa instabilidade no mercado de commodities agrícolas, segundo o novo Boletim Mensal de Commodities divulgado pelo time de pesquisa da FG/A. A publicação destaca um cenário de forte volatilidade nas cotações, motivado por fatores climáticos, ajustes macroeconômicos e mudanças na dinâmica de oferta e demanda global.
Entre os destaques negativos está o mercado de açúcar, que registrou uma queda expressiva e alcançou o menor valor em quatro anos. A retração foi influenciada pela perspectiva de um superávit global impulsionado por Índia e Brasil, além do aumento dos investimentos em produção no Centro-Sul do Brasil. Já o etanol teve seus preços pressionados após o reajuste negativo no valor da gasolina, o que reduziu sua competitividade no curto prazo, apesar das expectativas de recuperação ao longo da safra.
As commodities agrícolas como soja e milho também enfrentaram desvalorizações expressivas: a soja com colheita recorde no Brasil e plantio acelerado nos EUA, e o milho sob pressão de uma oferta superior à esperada, afetando diretamente os preços internos.
Queda nas cotações e início da safra 2025/26 marcado por atrasos
O início da safra 2025/26 no Centro-Sul do Brasil foi impactado por atrasos no processamento de cana-de-açúcar. De acordo com dados da UNICA, até a primeira quinzena de maio foram processadas 77 milhões de toneladas, volume 20% inferior ao mesmo período da safra anterior. A queda foi causada pelas chuvas intensas da segunda quinzena de abril, que prejudicaram o avanço da colheita em áreas com solo encharcado.
No cenário internacional, o açúcar bruto VHP vem acumulando forte desvalorização nos últimos meses. No final de maio, o contrato futuro mais próximo na bolsa de Nova Iorque foi cotado a 16,7 centavos de dólar por libra-peso, valor mais baixo desde 2021. Esse movimento está diretamente ligado ao ambiente macroeconômico global, marcado pelas rodadas de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, que elevam os riscos de desaceleração econômica e redução da demanda por commodities agrícolas.
Paralelamente, a produção global tende a crescer. Índia e Brasil, os dois maiores exportadores mundiais, devem liderar esse aumento. Só nas últimas duas safras, as usinas do Centro-Sul investiram aproximadamente R$ 3,5 bilhões em expansão da capacidade de produção de açúcar, o que deve refletir em um incremento de 10% na capacidade total. A expectativa para a safra 2025/26, mesmo com menor disponibilidade de cana, é de um mix mais açucareiro e aumento da produção total de açúcar.
Estimativas globais confirmam superávit, mas preços ameaçam sustentabilidade
As estimativas preliminares divulgadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a safra global de açúcar 2025/26 apontam para um superávit expressivo. A produção mundial deve atingir 189 milhões de toneladas, representando um crescimento de 8,5 milhões de toneladas em relação à safra anterior. A principal contribuição vem da Índia, que ampliará sua produção de forma significativa.
Apesar disso, a análise estrutural revela que o atual nível de preço do açúcar — em torno de 16,5 centavos de dólar por libra-peso — se encontra abaixo do custo de produção de vários países exportadores, que operam acima de 20 centavos por libra. Esse desequilíbrio pode pressionar o mercado no médio prazo e tornar o açúcar menos competitivo frente ao etanol, especialmente no Brasil.
Nesse cenário, caso a cotação continue em queda, mais cana poderá ser direcionada à produção de etanol, reduzindo a oferta de açúcar. Atualmente, o etanol hidratado é negociado a cerca de R$ 2,70/litro em Paulínia, o que, convertido, equivale a 15,9 centavos de dólar por libra-peso em açúcar equivalente — um patamar próximo ao mercado internacional do adoçante.
Etanol é pressionado por reajuste da gasolina, mas deve recuperar valor durante a safra
No segmento de biocombustíveis, o etanol apresentou relativa estabilidade nos últimos meses. Segundo o CEPEA, o indicador diário de Paulínia mostra o etanol hidratado sendo negociado a cerca de R$ 2,70/litro. No entanto, no dia 02 de junho, a Petrobras anunciou uma redução de R$ 0,17/litro no preço da gasolina A, o que resultou em uma queda de aproximadamente 5% no preço do etanol hidratado no mercado nas semanas seguintes.
Apesar dessa pressão no curto prazo, a expectativa é de recuperação gradual nos preços médios ao longo da safra 2025/26, sustentada pela menor oferta de cana e maior alocação da matéria-prima para a produção de açúcar. A previsão é de uma redução de 680 mil m³ na produção total de etanol no Centro-Sul, mesmo considerando o avanço do etanol de milho.
Com o avanço da moagem e o consequente aumento dos estoques, os preços devem continuar pressionados nas próximas semanas. Dados da UNICA mostram que, até a primeira quinzena de abril, as vendas de etanol pelos produtores caíram 3,7% em relação à mesma etapa da safra passada. Essa retração é reflexo do aumento da paridade frente à gasolina, que subiu de 65% para 66% em São Paulo — o que reduz a atratividade do etanol na bomba para o consumidor final.

