Mercado global de açúcar amplia pessimismo enquanto etanol ganha tração e fertilizantes recuam
25-11-2025

Relatório do Itaú BBA destaca revisão altista da oferta mundial, menor disponibilidade de etanol na entressafra e mudança no perfil das importações de fertilizantes

Por Andréia Vital

O Agro Mensal do Itaú BBA indica que o mercado internacional de açúcar atravessa uma fase de forte reprecificação. Em outubro, as cotações caíram 10,4%, para USDc 14,43/lb, rompendo o intervalo de USDc 15–17/lb mantido nos últimos meses. Embora os preços tenham recuperado 3,7% na primeira quinzena de novembro, o sentimento dominante continua negativo, efeito direto da “Sugar Week”, série de eventos realizada em São Paulo que consolidou projeções de maior oferta global e reforçou expectativas de safra recorde no Brasil em 2025/26.

Segundo o relatório, consultorias e tradings passaram a trabalhar com uma visão mais otimista para a produção brasileira, apesar do patamar de preços. Esse cenário de oferta abundante se soma à melhora climática na Europa, que elevou a produtividade da beterraba e ampliou a estimativa de produção combinada da UE27 e do Reino Unido para 15,9 milhões de toneladas.

O quadro mais determinante, porém, veio da Índia. O primeiro leilão de compra de etanol pelas petroleiras mostrou forte migração para o etanol à base de grãos, cuja participação subiu de 63% para 72%. Isso reduziu o uso de cana para etanol e aumentou o volume destinado ao açúcar, elevando a previsão de produção indiana de 31,0 para 31,5 milhões de toneladas. A mudança decepcionou parte do mercado, que esperava maior gatilho de retirada de açúcar da oferta global. Mesmo com excedente doméstico, o governo indiano liberou apenas 1,5 milhão de toneladas para exportação, bem abaixo do pedido da ISMA, e a paridade acima de USDc 19/lb mantém o açúcar indiano fora do mercado internacional.

A queda recente dos preços estimulou compras oportunistas de China, Indonésia e refinarias indianas. As exportações brasileiras também avançaram, atingindo 3,6 milhões de toneladas em outubro, recorde histórico segundo a Secex. Esse movimento pode reduzir a demanda global no curto prazo, justamente no período em que tradicionalmente se concentra a demanda asiática, aumentando a dificuldade da Índia em escoar seu excedente.

O Itaú BBA reforça que as leituras de produtividade na Índia e na Tailândia, esperadas entre novembro e dezembro, serão decisivas. Apesar do otimismo inicial, pragas como a white leaf disease na Tailândia podem alterar o balanço de oferta.

O relatório destaca, entretanto, que o etanol pode se tornar um amortecedor importante para o açúcar. O preço do biocombustível em açúcar equivalente chegou a USDc 17/lb em meados de novembro, criando incentivo econômico para que usinas brasileiras ampliem o mix destinado ao etanol, movimento que, se intensificado, poderia levar o mercado mundial de volta ao déficit e reverter parte das perdas do açúcar. A equivalência entre as duas commodities deve seguir como referência de curto prazo.

No mercado doméstico, o etanol hidratado terminou outubro cotado a R$ 2,89/l sem impostos em Paulínia, variação de 2,6%, e registrou nova alta no início de novembro. A redução de 4,9% na gasolina anunciada pela Petrobras, abaixo do esperado, contribuiu para segurar preços, pois limitou pressões baixistas sobre o biocombustível.

Com a sazonalidade da entressafra e previsão de menor produção, o banco projeta recuo de 6% na oferta total de etanol na safra 2025/26, resultado de uma queda de 13% no etanol de cana e crescimento de 16% no etanol de milho. Como as vendas entre abril e outubro caíram apenas 1% ante 2024, o ajuste mais forte deverá ocorrer entre novembro e março, sustentando preços mesmo com menor competitividade frente à gasolina. A tendência, segundo o relatório, é de firmeza moderada nas cotações, ainda que com paridade menos favorável ao consumidor.

O mercado de fertilizantes, por sua vez, entra em fase de acomodação. O MAP caiu 7,2% em outubro, para USD 640/t, menor valor desde março de 2025. A ureia permaneceu em USD 422/t, enquanto o KCl avançou 0,7%, para USD 355/t. Entre janeiro e outubro, o Brasil importou 35,6 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários, 4,6% acima do mesmo período de 2024.

O movimento mais relevante foi a mudança de composição: SSP e TSP cresceram 16%, somando 4,5 milhões de toneladas, ao passo que MAP e DAP recuaram 24%, totalizando 3 milhões de toneladas. A demanda por produtos de menor concentração de nutrientes ganha espaço na estratégia de adubação das lavouras.

O Itaú BBA alerta que a normalização dos nitrogenados está longe de consolidada. No leilão indiano, apenas 600 mil das 2 milhões de toneladas de ureia foram contratadas, e o país deve retornar ao mercado a preços mais altos. Nos fosfatados, a demanda fraca pressiona os preços, mas a forte alta do enxofre, que mais que dobrou no Brasil em 2025, impõe risco altista relevante, já que o insumo é essencial na produção de MAP. O mercado de potássicos segue com demanda internacional moderada, com exceção da região do Estreito de Malaca, sustentada pelos leilões da Indonésia voltados ao cultivo de palma.