Morre Dona Edilah, a matriarca da família Biagi
21-02-2022
Dona Edilah foi muito mais que a esposa de Maurilio Biagi e a mãe do Maurilinho, teve vida própria
Luciana Paiva
Se o setor sucroenergético fosse uma monarquia, sua rainha seria Edilah de Lacerda Biagi, a matriarca de uma das famílias mais icônicas do setor, a de Maurílio Biagi, um dos maiores empreendedores da história do Brasil. Nascida na cidade paulista de Franca, filha de fazendeiros, sempre teve contato direto com a agricultura, mas tornou-se professora, fez o chamado Normal e depois ingressou na Escola Superior de Educação Física de São Paulo, não terminou o curso, pois aos 20 anos casou-se com Maurílio, isso em 1941.
Casou e nem teve lua-de-mel, foi direto para a usina Santa Elisa em Sertãozinho. Contou-me dona Edilah em uma das entrevistas que me concedeu, onde salientou a paixão e o conhecimento do marido pela atividade sucroenergética. “O Maurílio só pelo barulho sabia como estava o funcionamento da usina, entendia muito da parte industrial, mas era um apaixonado pela área agrícola, dizia que era no campo que se produzia o açúcar”. Após dez anos de casados, quatro filhos e sem nunca terem realizado uma viagem, Maurílio falou para a esposa que eles mereciam umas férias “premium”, e tiveram, passaram seis meses na Europa, os filhos ficaram, afinal, era a lua-de- mel atrasada.
Os negócios foram aumentando, veio a criação da Zanini, a parceria com a Coca-Cola, mas a usina era quem mais demandava trabalho. “O Maurílio dizia que a fábrica de refrigerantes era refresco na vida dele, duro mesmo era lidar com os negócios da cana”, diz dona Edilah, reconhecendo que, apesar do trabalho árduo, a Santa Elisa foi a “célula-mater”, e a partir dela tudo o mais se tornou possível.
A família morou por 15 anos na Santa Elisa. “Meus quatro filhos mais velhos foram alfabetizados na escola da usina”, observou. No total tiveram oito filhos. Maurílio faleceu em 1978. Dois anos após a morte do marido, dona Edilah dividiu as terras entre os seus filhos. Anos depois dividiu as ações. “Estava na hora de cada um investir em seus negócios”, comentou.
Mas dona Edilah sempre fez questão de participar das reuniões do conselho familiar, dos conselhos das empresas e era muito sabedora dos assuntos do setor. “É um absurdo o que falam de que o etanol concorre com os alimentos. O etanol é algo fantástico. Não podemos perder essa tecnologia. Acredito que parte do lucro das empresas deve ir para o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia”.
Para dona Edilah, um dos principais méritos do marido, está sintetizado em uma de suas frases: “A tarefa mais importante de uma empresa é formar pessoas.” Essa tarefa ela seguiu à risca, possibilitou a formação e qualificação de muitas crianças e jovens.
O dinamismo era uma de suas marcas. “Hoje, quem corre está parado, quem está parado é atropelado”, brincou a empresária, que tinha como uma de suas paixões visitar feiras de tecnologias como a Agrishow e a Fenasucro, mesmo com mais de 90 anos. “Vou todos os anos à Agrishow, admiro a inteligência humana que desenvolve aquelas máquinas.”
Dona Edilah também arrumou tempo para ser pecuarista: produzia, engordava e comercializa bois e carneiros. Dedicou-se também às boas ações. Junto à filha, Bia, oferecem às crianças da Apae de Sertãozinho a oportunidade de realizarem por meio do hipismo, a equoterapia. “Esse contato com os cavalos faz muito bem às crianças”, observou com satisfação.
Neste último sábado, 19, próxima de completar 101 (seria em 10 de março), dona Edilah faleceu. Mas deixa o importante registro da participação feminina do setor, pois definitivamente, dona Edilah foi muito mais do que a esposa de Maurílio Biagi e a mãe do Maurilinho.
Parta em paz, dona Edilah e obrigada pelo pioneirismo.
Fonte: CanaOnline

