Na Agrishow, cana, café, algodão e arroz atenuam queda em vendas de máquinas
03-05-2024

Estandes de maquinário na Agrishow. Produtores de culturas como algodão e arroz têm demandado equipamentos — Foto: Divulgação/Agrishow
Estandes de maquinário na Agrishow. Produtores de culturas como algodão e arroz têm demandado equipamentos — Foto: Divulgação/Agrishow

Produtores dessas culturas aquecem a comercialização na feira, em meio a um cenário considerado desafiador pela indústria do segmento

Por Cassiano Ribeiro e Izabel Gimenez — Ribeirão Preto (SP)

Nos corredores da Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola do Brasil, em Ribeirão Preto (SP), sons de sinos e buzinas a gás são ouvidos com frequência por quem caminha pelos mais de 20 quilômetros de ruas. Cada vez que eles tocam, significa que um novo negócio foi fechado pelos expositores. E quem tem feito mais “barulho” são os produtores de cana-de-açúcarcaféalgodão e arroz.

Com a queda nos preços da soja e do milho nos últimos anos, outras commodities agrícolas despontam no evento e atenuam o recuo nas vendas gerais. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquina e Equipamentos (Abimaq), o segmento amarga 44,9% de queda nos últimos 12 meses.

Para Eduardo Kerbauy, vice-presidente da New Holland na América Latina, o cenário positivo para culturas que não são soja e milho mitiga, mas não soluciona o desafio do setor de máquinas para 2024.

“Com os tratores, conseguimos amenizar a queda no volume, porque atende outros setores, como o de café e arroz, por exemplo, além de entrar em licitações governamentais que incentivam as compras. Não resolve, mas ajuda”, disse.

Outra característica que marca esta edição da feira é o novo perfil dos compradores. “A maioria das negociações foram feitas com pequenos e médios produtores, de cana, citros e café, principalmente. São máquinas menores, que, apesar do ticket menor, dão volume”, reforça Ordely Júnior, gerente de vendas da Massey Ferguson.

Nos estandes das marcas do grupo AGCO, incluindo Fendt e Valtra, além de Massey, o clima é de comemoração. Nos três primeiros dias de feira, o número de vendas superou as expectativas, segundo os executivos entrevistados pela reportagem.

O perfil agrícola da região de Ribeirão Preto tem um peso maior na Agrishow. Não por acaso, a Fendt escolheu a feira como palco do lançamento de um trator voltado para lavouras de cana. Rafael Antônio, diretor comercial da empresa, viu o estande lotar de canavicultores.

Na John Deere, a meta é alcançar o resultado do ano passado. “Ótimo seria passar do valor, mas se chegar no ano passado, está bom”, diz Marcelo Lopes, diretor de vendas da marca no Brasil.

O executivo avalia que não há escassez de crédito para compra de maquinários. Mas o custo do dinheiro para o produtor rural está mais alto.

“Com a perspectiva de queda na taxa de juro, ele prefere aguardar. Percebemos uma mudança no humor, que começa a melhorar. [O produtor] Fechou uma safra e já está programando a próxima. Quando faz isso abre uma perspectiva para frente. Estamos vendo isso na interação com os clientes, mas ainda é cedo para falar do resultado”, acrescenta.

Na Agrishow, a empresa iniciou as vendas de um trator cabinado, estreito e com altura reduzida, que atende à cultura do café e também algumas frutas. O cafeicultor Edimar Souza é um dos que decidiu investir em uma nova máquina. A alta dos preços da commodity o incentivou a aumentar a frota no campo.

“Nosso lucro aumentou em 30% neste último ano. Foi muito bom para conseguirmos investir em um novo equipamento, com mais tecnologia. Estava planejando há dois anos”, disse.

Compra necessária

O casal Adalberto e Dilza Stringheta, que cultiva cana em 135 hectares no município de Barra Bonita (SP), decidiu garantir a compra de um trator novo para a fazenda durante a Agrishow. Além do desconto que receberam, a taxa de juros e a necessidade de ter mais um trator na lida de campo foram determinantes para fecharem negócio.

O financiamento começa a ser quitado com uma taxa mais elevada, que vai diminuindo ao longo do tempo, deixando o custo médio do capital mais atrativo. “O preço estava em R$ 395 mil e conseguimos por R$ 335 mil. Era para termos comprado esse trator no ano passado, quando a taxa estava acima de 12%. Hoje, fechamos com uma taxa 7,34% para pagar, em média 7,34%, em cinco anos”, afirma Adalberto.

Segundo eles, com as mudanças no clima, investir em tecnologia é fundamental para agilizar as operações na fazenda. Os produtores colheram 15% menos do que esperavam na última temporada e acreditam que a nova safra, que começou em abril deste ano, também deve sofrer alguma perda pela estiagem e altas temperaturas.

O pecuarista Flávio Silva viajou pouco mais de 300 quilômetros para acompanhar a Agrishow pela segunda vez. O objetivo inicial era comprar uma trincha agrícola, mas as condições especiais da feira permitiram que ele comprasse o trator da Massey R$ 10 mil mais barato.

Fonte: Globo Rural