NovaBio critica discussões para importação de etanol dos EUA
10-09-2025

Associação diz que tarifas sobre açúcar já prejudicam o Nordeste em mais de R$ 1 bilhão e pede equilíbrio nas negociações
Sabrina Nascimento | São Paulo
A possibilidade do etanol voltar à mesa nas negociações comerciais com os Estados Unidos (EUA) deixou o setor sucroenergético brasileiro em alerta. O tema voltou à pauta no início desta semana, durante encontro que reuniu lideranças de diversas cadeias do agronegócio.
Para Renato Cunha, presidente da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), que representa agricultores do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, não há, no momento, movimentação concreta do governo norte-americano para tratar do tema. “Não há sentido em discussões que pressupõem aumento das importações de etanol”, afirmou ao Agro Estadão.
Segundo ele, a entrada de etanol norte-americano no país poderia gerar excesso de oferta e pressionar os preços locais, especialmente no mercado nordestino. Dados da consultoria Datagro reforçam esse argumento: desde 2021, o Brasil importou em média 247 milhões de litros de etanol dos EUA por ano, contra 1,4 bilhão entre 2017 e 2020. Já as exportações brasileiras para os EUA caíram de uma média de 1,02 bilhão de litros por ano (2017-2020) para 309 milhões de litros entre 2021 e 2024.
Ao mesmo tempo, a produção norte-americana de etanol cresceu significativamente, atingindo 7,4 bilhões de litros em 2024, com apenas 1,4% destinado ao Brasil, impulsionada pela baixa dos preços do milho e do gás natural. Enquanto isso, o setor brasileiro enfrenta custos elevados de produção, já que o etanol de cana responde por 78% da oferta nacional, complementado pelo etanol de milho, que representa 22%.
No ano passado, as exportações brasileiras caíram 25%, para 1,88 bilhão de litros, dos quais 16,4% foram destinados aos EUA. Diante do cenário, Cunha ressalta que qualquer negociação deve considerar o equilíbrio entre açúcar e etanol e que o Brasil não possui espaço para importar biocombustíveis desnecessários. “Temos um excedente exportável e precisamos garantir que ele seja destinado de forma racional. Qualquer negociação precisa ser ampla, com bases que contemplem o mercado interno, o mercado externo e a integração da agroindústria”, enfatizou.
Açúcar
O dirigente lembrou que, atualmente, a cota de importação de açúcar destinada pelo mercado norte-americano ao Brasil, maior produtor e exportador mundial, é de apenas 150 mil toneladas. Além da cota, há pouco mais de um mês, os EUA aplicaram uma tarifa de 50% sobre o açúcar brasileiro.
A medida afetou especialmente a produção do Nordeste, gerando impacto de mais de US$ 200 milhões na receita bruta do setor, equivalente a mais de R$ 1 bilhão, de acordo com cálculos da NovaBio. Conforme Cunha, essa situação reflete diretamente nos preços pagos aos fornecedores de cana, já que a remuneração segue a fórmula Consecana (Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol). “Isso está impondo um certo compasso de reorganização no setor”, afirmou.
Fonte: Estadão