Novo centro de pesquisa em etanol mira expansão do milho em São Paulo
30-10-2025
Iniciativa da Unicamp busca integrar produção de etanol de milho e cana, promovendo diversificação energética e eficiência no uso do solo
A criação do Centro de Ciência para o Desenvolvimento do Etanol (CCD Etanol) marca um novo passo na agenda paulista de bioenergia. O projeto, aprovado pela Fapesp no âmbito do programa Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), será sediado no Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), da Unicamp, e tem como foco estimular a produção de etanol a partir do milho no Estado de São Paulo — segmento ainda incipiente em comparação a outras regiões do país.
O centro será liderado pelo professor Luiz Augusto Barbosa Cortez, pesquisador colaborador do Nipe e referência em estudos sobre bioenergia. “Sempre trabalhei com o tema do etanol. No início dos anos 2000, realizamos um grande road map do setor, com 25 workshops. Agora, nos 50 anos do Proálcool, o Brasil tem um modelo consolidado e sustentável de etanol, açúcar e bioeletricidade. Mas chegou o momento de diversificar, e o milho é peça fundamental nessa transição”, afirma Cortez.
O pesquisador ressalta que o projeto não pretende substituir a cana, mas complementar sua produção. “Nos Estados Unidos, o milho responde por 60 bilhões de litros de etanol ao ano. No Brasil, produzimos 38 milhões, sendo 75% de cana e 25% de milho. Em São Paulo, porém, ainda não há etanol de milho. A melhor estratégia é unir as duas matérias-primas”, explica.
Enquanto a cana apresenta maior rendimento por hectare — cerca de 7 mil litros de etanol, contra 4,5 mil do milho —, o milho gera coprodutos como o farelo proteico (DDGS), aproveitado na nutrição animal. Para Cortez, isso cria uma sinergia estratégica: “Podemos usar o farelo para reduzir áreas de pastagem. O gado ocupa hoje cerca de 160 milhões de hectares, um quinto do território nacional. Se reduzirmos parte disso, abrimos espaço para mais milho e agregamos valor à pecuária.”
Outro diferencial é a complementaridade operacional entre as duas cadeias. “O milho permite operação contínua das usinas, compensando a sazonalidade da cana. Embora não haja bagaço para cogeração, boa parte dos equipamentos é a mesma, o que exige baixo investimento adicional e aumenta a eficiência industrial”, detalha o professor.
Cortez lembra que o país conta com cerca de 400 usinas de etanol, sendo 170 em São Paulo. Para inserir o milho na matriz local, o CCD Etanol deve promover ações de convencimento e difusão científica junto a produtores e gestores públicos. “As prefeituras serão nossas aliadas. A ideia é mostrar que diversificar matérias-primas não é apenas viável, mas estratégico para a segurança energética e o desenvolvimento regional”, acrescenta.
O centro reunirá dez pesquisadores até o fim do ano e contará com parcerias que conectam governo, ciência e setor produtivo. Entre as instituições envolvidas estão a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA-SP), a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Também participam Embrapa Territorial, Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Instituto de Zootecnia (IZ) e o Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP), que atuarão em temas como planejamento energético, genética, nutrição animal e economia agrícola.
O CCD Etanol pretende transformar o conhecimento técnico acumulado nas últimas décadas em ações práticas de política pública, inovação e investimento privado, posicionando São Paulo como um novo polo de etanol de milho integrado à cana — um passo decisivo para o fortalecimento da bioeconomia e da transição energética brasileira.
Redação com informações do Jornal da Unicamp

