“O Brasil é o único país que pode viver movido a combustível alternativo”, diz Maurílio Biagi Filho
31-07-2025
Empresário resgata a história do setor sucroenergético, defende comunicação forte para o etanol e projeta futuro sustentável para o país na matriz energética mundial
Por Andréia Vital
Com um discurso marcado por emoção, memória e visão estratégica, o empresário Maurílio Biagi Filho emocionou o público durante participou da mesa redonda “Segurança Energética e Inovação: o papel do Brasil no Mercado Global de Etanol”, na Reunião Anual da Fermentec, nesta quarta-feira (30). Um dos nomes mais influentes do setor sucroenergético, Biagi misturou lembranças de décadas de atuação no mercado com análises contundentes sobre os desafios e oportunidades que o Brasil tem diante da transição energética global.
“O Brasil é o único país que pode viver movido 100% a combustível alternativo. Se nos desligássemos hoje do combustível fóssil e usássemos apenas energia limpa produzida aqui, conseguiríamos sustentar o país. Nenhum outro lugar no mundo tem esse potencial”, afirmou.
Biagi revelou que encomendou um estudo que calcula o volume de biocombustíveis necessário para abastecer todo o Brasil apenas com energia renovável, e a área que seria necessária para produzir esse volume. O levantamento fará parte do próximo livro do empresário e deve ser apresentado no setor em breve. “É um exercício teórico, mas com impacto enorme. Mostrar ao mundo que o Brasil pode ser autossuficiente em combustível limpo seria um divisor de águas para a imagem do país”.
Ele ressaltou que a força do Brasil está na integração entre cana-de-açúcar, biomassa, etanol e biogás, além da matriz elétrica com alta participação de fontes renováveis. “A cana é a cultura mais eficiente na conversão de energia solar em carbono. O que temos não é apenas uma commodity agrícola. É um ativo estratégico para a soberania energética nacional e para a descarbonização do planeta”.
O empresário também fez uma reflexão sobre os altos e baixos do setor, lembrando casos de grandes grupos que perderam relevância. “O que derrubou muitas empresas não foi falta de tecnologia, foi falta de gestão. Santa Elisa é um exemplo. O setor precisa olhar para trás e aprender. Temos tecnologia de ponta, mas ela não substitui estratégia e administração profissional”.
Biagi citou ainda a importância de previsibilidade para garantir investimentos: “Energia é investimento de base, de décadas. O setor sucroenergético só vai atingir seu potencial se tiver estabilidade política e regulatória para planejar o longo prazo”, ressaltou.
Em sua fala, Biagi abordou o debate sobre carros elétricos e a política de eletrificação, criticando Ribeirão Preto, capital do agro, apostar em ônibus elétricos. Às vésperas da COP30, a ser realizada em Belém – PA, poderíamos ter feito disso uma vitrine mundial de etanol e gás, mostrando o potencial do país. “Em vez disso, seguimos um modelo importado sem explorar nossas vantagens comparativas”, disse.
O empresário defendeu uma estratégia que combine etanol, biogás e tecnologias híbridas, ressaltando que o Brasil deve apostar naquilo que já domina. “Não se trata de rejeitar inovação, mas de construir um modelo brasileiro. O mundo não precisa que sejamos cópia da Europa. Precisa que sejamos o Brasil, com nossa diversidade energética”.
Comunicação: o ponto fraco que precisa virar força
O empresário fez uma defesa enfática ainda para uma campanha de comunicação robusta para o etanol. “Temos um produto excelente, mas não contamos essa história direito. Comunicação não é custo, é investimento. Coca-Cola não virou o que é porque tem o melhor refrigerante do mundo, e sim porque soube se comunicar. O etanol pode ser a marca do Brasil, mas para isso precisa falar com o consumidor e com o mundo”.
Biagi lembrou que o Brasil foi pioneiro na retirada do chumbo tetraetila da gasolina (um aditivo usado no combustível fóssil para aumentar a octanagem e evitar a detonação prematura do combustível em motores de combustão interna), medida que salvou vidas e reduziu impactos ambientais, mas que poucas pessoas conhecem: “Foi uma das maiores conquistas ambientais do país e ninguém sabe. Por quê? Porque não foi comunicado. O setor precisa aprender que marketing também constrói soberania”.
Apesar das críticas, o tom de Biagi foi de confiança no futuro. “O Brasil está condenado a dar certo. Com toda a diversidade de desafios que enfrentamos, ainda assim crescemos. Se unirmos gestão, inovação e comunicação, o etanol será não apenas um combustível, mas o símbolo de uma nova era energética”.
O empresário encerrou reforçando a importância de união no setor: “Se cada usina investir um pouco, conseguimos construir uma narrativa nacional. O etanol não é apenas um produto agrícola, é uma política de Estado. O mundo vai olhar para nós quando mostrarmos que temos a solução para a descarbonização com escala, custo competitivo e sustentabilidade”.
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