O Brasil é protagonista natural na construção de uma economia de baixo carbono, diz ceo da inpasa
19-11-2025
Na série Forbes Agro100 2025, confira o que pensa Eder Lopes sobre os desafios da maior empresa do país em produção de etanol de grãos
Por Vera Ondei
A troca de comando na Inpasa, a maior produtora de etanol de grãos no Brasil, especialmente milho, ocorreu de forma discreta, em agosto deste ano. Eder Odvar Lopes, presidente da companhia no Paraguai e sucessor de José Odvar Lopes, o fundador, tornou-se o CEO da empresa também no Brasil. A biorrefinaria, que nasceu em 2006 no país vizinho, estendeu suas atividades para o país em 2018. Eder Odvar Lopes é uma figura discreta e raramente concedia entrevistas, até assumir a atual posição.
Administrador de empresas com MBA na FGV, ele agora é a figura central de um negócio que no ano passado faturou R$ 13,6 bilhões em 2024, receita 24% acima do ciclo anterior. A Inpasa integra a Lista Forbes Agro100 2025, um ranking mostrado anualmente pela Forbes Brasil onde estão as 100 maiores empresas e cooperativas do país, com resultados financeiros publicados. Nesta edição, o conjunto registrou uma receita de R$ 1,886 trilhão, valor equivalente a 16% do PIB brasileiro.
Lopes, que concedeu entrevista à Forbes Agro, é uma das lideranças que estarão na terça-feira (25), em um encontro no Jóquei Clube, em São Paulo, o Forbes Power Lunch Agro100, que reunirá empresários e lideranças do setor.
A Inpasa vêm fazendo sucessivos anúncios de investimentos nos últimos anos. No ano passado, a empresa destinou R$ 4,9 bilhões ao longo do ano, por exemplo, colocar de pé unidades produtivas em Sinop (MT), Sidrolândia (MS), Balsas (MA) e Rio Verde (GO), e o ousado projeto de uma unidade em Luís Eduardo Magalhães, no coração do Oeste Baiano.
Qual foi o principal motor de crescimento da empresa nos últimos 12 meses?
O crescimento recente reflete a combinação entre expansão industrial, inovação operacional e uma gestão financeira pautada em eficiência, rentabilidade e solidez de caixa, fatores que asseguram a sustentabilidade do modelo de negócios da Inpasa no longo prazo.
Quais são as três prioridades estratégicas para os próximos dois anos?
Queremos concluir e integrar a nossa expansão industrial recente. Em 2026, daremos início à operação da planta de Luís Eduardo Magalhães (BA) e seguiremos com a construção da unidade de Rio Verde (GO), fortalecendo nossa presença no Nordeste e no Centro-Oeste e ampliando a capacidade produtiva nacional. Paralelamente, manteremos os investimentos em melhorias orgânicas nas unidades em operação, com foco em aumentar a produtividade, a eficiência e a competitividade.
Também temos o objetivo de fortalecer governança, ESG e competitividade. A consolidação de práticas de sustentabilidade e redução de emissões, sendo que 99 % das nossas emissões diretas já são biogênicas. E seguir com investimento em projetos de descarbonização e monetização de CBIOs.
A outra prioridade está centrada em inovação e internacionalização do portfólio. Avançamos no uso de novos insumos, como o sorgo, e em parcerias estratégicas que ampliam nossa atuação e fortalecem o posicionamento dos nossos produtos em novos mercados.
Como enfrentar riscos em cenários econômicos cada vez mais voláteis?
A Inpasa atua com gestão de risco integrada e visão de longo prazo. Daí, porque diversificamos mercados e produtos, mantendo disciplina financeira e eficiência operacional como pilares de resiliência.
A arte de descarbonizar o Brasil e o mundo
A descarbonização do transporte está no centro das metas climáticas e passa pela troca gradual de combustíveis fósseis por fontes renováveis. Projetos de etanol de milho e sorgo, como é o caso da Inpasa, além dessa função, também movimentam cadeias locais de insumos, logística e tecnologia, o que amplia o efeito econômico da transição.
Ao mesmo tempo, consumidores começam a associar escolha de combustível à pegada de carbono. Querem produtos que emitam menos, sem perda de desempenho e com preço competitivo. Para o setor produtivo, essa adesão é estratégica porque consolida demanda de longo prazo, incentiva investimentos em biorrefinarias mais eficientes e em certificações ambientais e transforma a agenda climática em oportunidade de negócio, não apenas em obrigação regulatória.
Quais mudanças no perfil do consumidor que mais afetam os negócios hoje?
O avanço da descarbonização e da diversificação da matriz energética amplia as oportunidades para o etanol como combustível de transição. Paralelamente, a alta demanda por proteínas e insumos agrícolas fortalece o valor dos coprodutos da Inpasa, como o DDGS e o óleo de milho, que integram energia, alimento e sustentabilidade.
Como a Inpasa vê a concorrência no mercado nacional e quais movimentos estratégicos estão em curso?
O setor de etanol de milho vive um momento de amadurecimento e consolidação, com novos players e maior competição regional. Por isso, a Inpasa cresce com eficiência, sustentabilidade e disciplina financeira, expandindo operações na Bahia e em Goiás e consolidando sua liderança na América Latina.
Quais são os principais mercados externos hoje e quais novos mercados estão no radar até 2027?
Atualmente, mantemos relações comerciais consolidadas com países da América Latina e parcerias estratégicas em mercados europeus e asiáticos. Até 2027, o foco está em ampliar a presença internacional da companhia, acompanhando o avanço de marcos regulatórios de descarbonização — como o Net-Zero Framework da IMO e o Fit for 55 europeu.
Quais barreiras comerciais e sanitárias mais impactam a empresa e como estão sendo tratadas?
As principais barreiras enfrentadas hoje são de natureza regulatória e tarifária, relacionadas à padronização de critérios de sustentabilidade e à definição de parâmetros internacionais de emissões de carbono.
Por isso, a Inpasa atua de forma colaborativa com associações, entidades setoriais e órgãos governamentais, para contribuir tecnicamente no desenvolvimento desses marcos regulatórios. Justamente como o Net-Zero Framework da IMO, que reconhecem o etanol de origem brasileira como combustível de baixo carbono.
Se pudesse mudar um marco regulatório hoje, qual seria e por qual razão?
Seria o reconhecimento internacional do etanol brasileiro como combustível de baixo carbono, com padrões harmonizados de certificação entre países e blocos econômicos. Essa mudança ampliaria o acesso a mercados estratégicos e valorizaria o modelo produtivo sustentável do Brasil, que já apresenta menor intensidade de carbono e alta eficiência agrícola e industrial.
Uma transição energética acelerada
Segundo Eder Lopes, a Inpasa aposta que o Brasil pode ocupar um lugar central na convergência entre alimento e energia. A combinação de matriz energética mais limpa, ampla oferta de biomassa e eficiência do agronegócio cria um terreno fértil para o modelo Food + Fuel, no qual o etanol de grãos se torna um ator estratégico. É um recorte que ajuda a entender como o setor projeta seu futuro em um contexto de transição energética acelerada.
Como a Inpasa avalia o papel do Brasil nas cadeias globais de alimentos e energia até 2030?
A Inpasa acredita que o Brasil é protagonista natural na construção de uma economia de baixo carbono, graças à sua matriz energética limpa, à disponibilidade de biomassa e à eficiência produtiva do agronegócio. O país reúne condições únicas para liderar cadeias globais integradas de alimento e energia.
Qual é o papel da empresa no debate sobre segurança alimentar global?
Acreditamos que o futuro da segurança alimentar global passa pela integração eficiente entre bioenergia e produção de alimentos, com responsabilidade, tecnologia e impacto social positivo.
Fonte: Forbes

