O que está acontecendo com a Raízen?
18-08-2025

Tanques de combustível da Raízen em Rondonópolis — Foto: Divulgação
Tanques de combustível da Raízen em Rondonópolis — Foto: Divulgação

Balanço do primeiro trimestre fiscal mostra uma situação financeira desconfortável para a gigante dos biocombustíveis

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

Na quarta-feira (13/8), a Raízen - que tem como sócias a brasileira Cosan e a anglo-holandesa Shell - que é a maior produtora de açúcar e etanol do mundo e uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, divulgou seus resultados financeiros do primeiro trimestre do exercício de 2025/26, de abril a junho. Os dados reforçaram a indicação de que a empresa vive uma crise financeira, após um ciclo de forte crescimento orgânico e inorgânico, interrompido pela elevação dos juros no Brasil.

Na quinta-feira (14/8), as ações preferenciais da Raízen negociadas na B3 sofreram um tombo de 12,5%. A companhia já vem apresentando um desempenho financeiro mais fraco desde novembro do ano passado. Os controladores decidiram mudar o pessoal-chave em sua gestão. Porém, a situação continuou se agravando.

A empresa informou em seu último balanço um prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão, uma receita líquida de R$ 54 bilhões, e uma dívida líquida de R$ 49 bilhões, que representava 4,5 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 12 meses - um índice acima do que o mercado considera como "saudável", de até 3 vezes.

No relatório de resultados, a empresa publicou que estava buscando uma alternativa de atração de capital, o que poderia incluir a capitalização por parte dos sócios controladores ou ainda a entrada de um terceiro sócio, como informou a Globo Rural. Atualmente, a Cosan, do empresário Rubens Ometto, tem 44% da Raízen, mesma participação da Shell, enquanto os demais 12% de participação estão na mão dos acionistas minoritários.

Nesta sexta-feira (15/8), o CEO da Cosan, Marcelo Martins, descartou a possibilidade de um aporte na Raizen, e disse que o foco é atrair um novo sócio estratégico para o negócio. Segundo o Valor Econômico, a empresa contratou o Itaú para assessorá-la no processo, enquanto a Shell contratou o Lazard.

Movimentos de expansão

A companhia começou a investir na diversificação de seus negócios em 2019, sob a batuta do então CEO Ricardo Mussa. Naquele ano, começou a construir uma planta de biogás e inaugurou outra, solar fotovoltaica. No mesmo ano, criou o Grupo Nós, uma joint venture com a Femsa para operar a rede de minimercados Oxxo, cum plano agressivo de expanão, abrindo uma loja por dia.

Em 2021, a Raízen iniciou um investimento de R$ 1,2 bilhão em sua segunda planta de etanol de segunda geração (E2G), feito do bagaço e da palha da cana. A empresa já operava há anos de forma piloto sua primeira planta, em Piracicaba (SP), e havia, então, conseguido a patente de processos industriais que desenvolveu por conta para destravar gargalos tecnológicos do E2G.

Na mesma época, a companhia já testava projetos de pelletização da biomassa da cana. Dois anos depois, anunciou novas construções de plantas de E2G, que acabaram resultando em um investimento total de R$ 6 bilhões apenas nessa tecnologia.

Também em 2021, a Raízen, que já liderava no mercado sucroalcooleiro, comprou a segunda maior empresa do ramo, a Biosev, que era controlada pela Louis Dreyfus Company (LDC). A companhia gastou R$ 3,6 bilhões, sem contar uma operação de troca de ações com os então minoritários.

Além desses casos de crescimento orgânico e inorgânico, a Raízen também tomou outras decisões estratégicas de atuação em novos negócios, como a decisão de deixar de vender açúcar através de tradings e negociar diretamente com os clientes globais. A empresa passou também a realizar operações de trading de açúcar de outras usinas do Brasil.

Para dar conta dos investimentos, a Raízen buscou uma capitalização via mercado, com um IPO que levantou R$ 7,78 bilhões. Porém, também teve que recorrer a instrumentos de financiamento, que acabaram aumentando o valor de sua dívida.

Isso não foi um problema até 2024. Naquele ano, porém, o Banco Central (BC) começou a aumentar de forma agressiva a taxa Selic para controlar a inflação, o que elevou o custo financeiro do endividamento da companhia.

Incêndios

Além disso, na safra 2024/25, a companhia viu-se no meio do fogo, literalmente. Seus canaviais focaram entre os mais afetados pela onda de incêndios entre agosto e setembro de 2024. No fim daquela temporada, a empresa informou que perdeu 6 milhões de tonelada de cana de lavouras próprias e de fornecedores. Porém, a estiagem do ano passado e as queimadas continuam gerando danos até agora, já que comprometeram a capacidade de crescimento das plantas para esta safra.

No primeiro trimestre da safra atual (2025/26), a moagem de cana da companhia ficou 21% abaixo do registrado um ano antes, enquanto a concentração de sacarose diminuiu 2,7%, o que fez a companhia produzir menos açúcar, menos etanol e gerar menos energia do que um ano atrás.

Venda de ativos

Para gerar caixa mais rapidamente, a companhia vem vendendo alguns ativos. A Raízen já vendeu lavouras de cana das usinas MB e da Santa Elisa para indústrias concorrentes, além de ativos de energia, mas os valores ainda não entraram em caixa. Até o fim desta safra, a companhia espera receber R$ 2,6 bilhões das vendas realizadas.

A companhia também decidiu parar de realizar atividades de trading de açúcar e etanol para simplificar suas operações.

Fonte: Globo Rural