O que vem acontecendo fisiologicamente com a cana?
30-10-2024

Prof. Dr. Paulo Alexandre M. Figueiredo analisa fatores celulares e ambientais que afetam o desenvolvimento da planta
Em palestra na 2ª Reunião da Canaplam 2024, realizada no dia 25 de outubro, em Ribeirão Preto-SP, o Prof. Dr. Paulo Alexandre M. Figueiredo, da UNESP - Dracena, abordou os desafios fisiológicos enfrentados pela cana-de-açúcar, principalmente sob condições de estresse ambiental, como alta radiação UV-B e temperaturas elevadas. Ele enfatizou que a compreensão dos processos celulares é crucial para entender as manifestações externas da planta.
Segundo o professor, os processos de crescimento e desenvolvimento da cana-de-açúcar dependem diretamente da fotossíntese, responsável pela produção de glicose, um componente essencial para o crescimento das células. “Com qualquer redução na fotossíntese, ocorre um impacto direto na formação de moléculas orgânicas e, consequentemente, no desenvolvimento da planta”, explicou. O estresse ambiental, como calor excessivo e alta radiação UV-B, afeta severamente essa produção, exigindo da planta um gasto energético adicional para gerar mecanismos de defesa.
Figueiredo detalhou que o custo energético do estresse é significativo: para produzir um grama de material de defesa, a planta precisa gastar até três gramas de glicose, redirecionando recursos que, em condições normais, iriam para o desenvolvimento celular. Sob essas condições, a construção da parede celular e outros processos vitais são comprometidos, levando à redução no crescimento e à aparição de sinais como clorose e necrose foliar, que se manifestam devido à degradação da clorofila.
O professor também destacou o impacto das temperaturas elevadas. Ele explicou que, embora a cana-de-açúcar (uma planta C4) suporte temperaturas mais altas que plantas C3, o limite para a fotossíntese eficiente se situa entre 35°C e 40°C. Acima desse intervalo, a planta sofre com senescência foliar precoce e encurtamento dos entrenós, reduzindo sua massa fresca e afetando o rendimento da lavoura.
Uma das soluções propostas para mitigar o impacto da radiação solar e das altas temperaturas é o uso de protetores solares agrícolas, que visam oferecer conforto térmico e reduzir o estresse oxidativo nas plantações. “Ainda não temos muitas ferramentas avançadas, mas tem os chamados protetores solares. Recentemente, avaliamos no Nordeste que a exposição à radiação muitas vezes ultrapassa níveis suportáveis, causando estresse oxidativo. Protetores solares, aliados à hidratação, mostram-se promissores para melhorar a condição das plantas e aumentar a produção de biomassa”, finalizou Figueiredo.