O SAF está pronto para voar no Brasil
11-11-2025

Caminhão da BR Aviation abastecido com diesel verde para as operações no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, no Rio (Foto Divulgação)
Caminhão da BR Aviation abastecido com diesel verde para as operações no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, no Rio (Foto Divulgação)

Produção comercial de SAF por coprocessamento marca avanço do Brasil rumo a uma transição mais justa e competitiva, escreve Marcelo Gauto

Por Marcelo Gauto

Imagine um avião cruzando os céus do Brasil, impulsionado não apenas por turbinas potentes, mas por uma ideia transformadora: voar com combustível sustentável, produzido em solo nacional, com tecnologia brasileira e respeito ao meio ambiente. Esse cenário está prestes a se tornar realidade.

A produção comercial de Sustainable Aviation Fuel (SAF), produzido pela rota de coprocessamento, marca um novo capítulo na transição energética justa do país.

O que é SAF e por que ele importa

Se você ainda não ouviu falar, saiba que o SAF é um combustível alternativo ao querosene de aviação convencional, em que parte do produto é produzido a partir de fontes renováveis como óleos vegetais, resíduos orgânicos e até mesmo CO2 capturado do ar ou de processos industriais.

Seu principal atrativo está na redução significativa das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor aéreo, um dos mais difíceis de se atingir a neutralidade em carbono.

Mas nem todo SAF é igual. Atualmente, existem várias rotas para a produção individual de componentes renováveis, que são misturados ao combustível mineral para atingir as propriedades requeridas para um combustível de aviação.

E rotas em que matérias-primas renováveis são processadas em conjunto com os derivados em refinarias de petróleo para a produção da mistura de combustível mineral e renovável já de acordo com a qualidade necessária.

O coprocessamento é uma rota importante para produção de SAF no mundo todo, especialmente nos momentos iniciais dos mandatos, quando o percentual de redução de emissões de GEE exigida é pequena e o mercado incerto pelas alternativas existentes.

Coprocessamento: eficiência e competitividade

O coprocessamento consiste em inserir matérias-primas renováveis, como óleos vegetais ou gorduras residuais, diretamente nas unidades de refino de petróleo.

É o pontapé inicial para transformar refinarias em biorrefinarias, misturando cargas sustentáveis com derivados de petróleo, produzindo combustíveis com o mesmo rigor técnico que as normativas internacionais exigem. 

O resultado disso é um combustível que mantém as propriedades exigidas pela aviação comercial, mas com uma pegada de carbono menor. Essa abordagem permite a produção em escala com ajustes operacionais mínimos, fazendo uso da infraestrutura de refino existente, produzindo SAF de forma bastante competitiva.

No Brasil, a Petrobras já domina a tecnologia de coprocessamento e está pronta para avançar na produção comercial de SAF.

O SAF e a transição energética justa

A transição energética justa não é apenas sobre trocar combustíveis fósseis por renováveis. É sobre trabalhar para que ninguém fique para trás. Isso inclui trabalhadores do setor de energia, comunidades vulneráveis e países em desenvolvimento, que precisam de soluções mais econômicas para reduzir suas emissões, mantendo a geração de emprego e renda.

Nesse contexto, a utilização do coprocessamento como porta de entrada para o SAF é uma peça-chave, porque otimiza o hardware existente, promove capacitação do capital humano presente no setor, além de gerar valor local pelo uso de matérias-primas renováveis brasileiras.

Ao ter SAF produzido por uma rota bastante competitiva, busca-se o acesso à aviação sustentável da forma mais justa possível para o momento. As turbinas estão apenas aquecendo, inevitavelmente, precisaremos de unidades exclusivas, dedicadas, de produção de SAF no processo de transição.

Pronto para decolar

Com uma matriz elétrica já majoritariamente renovável e um setor agroindustrial diversificado, o Brasil tem tudo para se tornar um líder global na produção de SAF.

O país pode se beneficiar de políticas internacionais como o Corsia (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que reconhece o SAF como principal ferramenta para redução de emissões de GEE na aviação civil.

O SAF produzido por coprocessamento de matérias-primas renováveis nas nossas refinarias é um símbolo de como a transição energética pode ser inteligente e competitiva.

Ao transformar unidades de refino em centros de produção de combustíveis mais sustentáveis, não apenas reduzimos emissões, mas construímos pontes entre o presente e o futuro, entre o petróleo e o biocombustível, entre o céu e a terra.

E assim, com turbinas abastecidas por esperança e tecnologia, o Brasil se prepara para voar mais alto com combustível mais limpo. Atenção tripulação: decolagem autorizada!

Fonte: Agência Eixos