O uso de águas residuárias para irrigação
04-07-2023
“A irrigação de culturas com efluentes é uma excelente alternativa para substituir água de melhor qualidade, preservando a mesma para usos mais nobres”, diz pesquisadora
Grande parte da água utilizada para irrigação vem de rios, córregos, represas e/ou barragens. Porém, para utilizá-la, não basta a usina simplesmente abrir o registro. Primeiramente, é necessário solicitar uma autorização para o uso desse bem. A permissão, chamada de outorga, é dada pelo órgão público que gere os recursos hídricos, que pode ser a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) ou algum outro de ordem estadual. É importante ressaltar que essa autorização é dada apenas quando o órgão tem certeza de que o consumo não irá impactar o abastecimento de outros grupos.
Visando diminuir ainda mais o consumo de água dessas fontes, tem crescido o número de usinas que está optando por águas residuárias para a irrigação. É o que explica a Professora Associada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP), Tamara Maria Gomes, que dentre várias pesquisas, estuda o uso de efluentes de esgoto doméstico para irrigação por gotejamento enterrado na cana-de-açúcar. “O reúso da água é uma técnica milenar. Sua aplicação pode acontecer tanto no setor urbano e industrial, quanto na agricultura. Nesse último caso, a irrigação de culturas com efluentes é uma excelente alternativa para substituir água de melhor qualidade, preservando a mesma para usos mais nobres, como o consumo humano.”
Ela ressalta que os efluentes com potencial de reúso para os cultivos agrícolas são principalmente os ricos em matéria orgânica, sem a presença de metais pesados, como os esgotos domésticos e as águas residuárias da agroindústria. “Esses efluentes, além de fornecer água às plantas, em muitos casos podem prover nutrientes, reduzindo também o consumo de fertilizantes.”
De acordo com Tamara, essas águas podem ser aplicadas nas lavouras em volumes que atendam totalmente a necessidade hídrica da cultura ou de forma diluída, principalmente quando há em sua composição algum elemento em excesso. Ela pontua, no entanto, que os efluentes para serem reutilizados precisam, de maneira geral, passar por tratamento, mesmo porque em determinados momentos haverá a necessidade de disposição nos corpos d’água e, para isso, será necessário atender padrões de lançamento definidos pela legislação.

