Papel estratégico das plantas de cobertura na agricultura moderna é destaque em Reunião do Grupo Fitotécnico
29-05-2025

Denizart Bolonhezi apresentou um panorama sobre os benefícios agronômicos das plantas de cobertura e as metodologias de avaliação de seus sistemas radiculares

Com a palestra “Benefícios e Metodologias de Avaliação de Raiz de Plantas de Cobertura”, Denizart Bolonhezi, engenheiro agrônomo e pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC), promoveu uma reflexão embasada e atual sobre a importância do sistema radicular no desempenho produtivo e na sustentabilidade dos sistemas agrícolas na 3ª Reunião do Grupo Fitotécnico realizada na terça-feira (27), em Ribeirão Preto – SP.

Bolonhezi defendeu que o uso estratégico de plantas de cobertura não deve ser considerado apenas uma prática complementar, mas sim um pilar essencial na construção de sistemas produtivos resilientes, sustentáveis e de alta performance. Segundo o pesquisador, compreender a fisiologia e o comportamento das raízes dessas espécies é fundamental para maximizar os benefícios agronômicos e ecológicos que elas oferecem.

A palestra apresentou dez principais benefícios proporcionados pelas plantas de cobertura, entre os quais se destacam:

Proteção do solo contra erosão e conservação da umidade;

Incremento da matéria orgânica, com efeitos significativos na capacidade de retenção de água;

Fixação biológica de nitrogênio, variável conforme a espécie;

Associação com microrganismos benéficos, como micorrizas, que favorecem a absorção de fósforo;

Ciclagem de nutrientes, principalmente por meio de raízes profundas que recuperam nutrientes lixiviados;

Melhoria da estrutura física do solo, com incremento da agregação e redução da compactação;

Estímulo à atividade biológica, incluindo a presença de nematoides de vida livre, indicativos de solo saudável;

Supressão natural de pragas e patógenos, além de efeitos de biorremediação;

Aumento de produtividade, com registros médios de 20% em leguminosas não comerciais;

Conservação e diversificação do sistema agrícola, com ênfase no conceito moderno de saúde do solo.

 

O pesquisador evidenciou que os benefícios promovidos pelas plantas de cobertura têm como fundamento o desenvolvimento radicular robusto e funcional. Raízes vivas são responsáveis por liberar exsudatos — compostos orgânicos de alto e baixo peso molecular — que interagem com a biota do solo, promovem solubilização de nutrientes e ativam mecanismos de defesa vegetal.

Nesse contexto, o palestrante argumentou que o sistema radicular deve ser compreendido como uma ferramenta ativa, e não apenas como uma estrutura de suporte físico. “Mais de 200 mil compostos já foram isolados de raízes, muitos deles com ação direta na ciclagem de nutrientes e na modulação da microbiota do solo”, destacou.

O pesquisador apresentou diversas metodologias para estudo de raízes, cada qual com suas aplicações e limitações como a hidroponia e vasos que são apropriados para estudos preliminares, com controle de variáveis; método da trincheira: visualmente demonstrativo, mas de alto custo operacional; monólitos de solo: permitem análise mais integral, mas exigem técnica apurada para separação de impurezas; Shovelomics, que é uma metodologia rápida para caracterização arquitetônica das raízes e mini-rizotron e tomografia 3D, técnicas avançadas, com aplicação promissora em pesquisas futuras.

Bolonhezi ressaltou também que a nova infraestrutura do IAC voltada para estudos de raiz amplia significativamente as possibilidades de colaboração científica e desenvolvimento tecnológico na área.

Ao apresentar dados de experimentos recentes, o palestrante demonstrou a correlação direta entre biomassa radicular e produtividade agrícola. Em ensaio conduzido em área de reforma de canavial, espécies de cobertura em mix produziram até 7 toneladas de matéria seca aérea e quase 1 tonelada de raízes, além de incremento significativo de micorrizas e nematoides benéficos.

Outro experimento revelou que cada tonelada adicional de carbono orgânico no solo resultou em um acréscimo de 1,2 tonelada de cana-de-açúcar, evidenciando o papel estratégico das raízes vivas na formação e manutenção da matéria orgânica.

“Alta produtividade é conhecimento aplicado por hectare”, sintetizou Bolonhezi, reiterando que o investimento em pesquisa, capacitação e práticas agronômicas baseadas em ciência são os principais motores de transformação da agricultura brasileira.