Pernambuco terá a primeira usina do mundo a gerar energia elétrica com etanol

07-07-2025

Projeto pioneiro da Suape Energia testa biocombustível em larga escala com tecnologia finlandesa e pode abastecer até 2 milhões de residências

O Brasil deve liderar mais um marco na transição energética global. A Usina Térmica Suape II, localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco, será a primeira planta do mundo a gerar energia elétrica utilizando etanol como combustível principal. A iniciativa, capitaneada pela Suape Energia, em parceria com a multinacional finlandesa Wärtsilä, busca substituir o óleo combustível por uma alternativa renovável, mais limpa e de menor emissão de carbono.

A primeira fase do projeto, batizada de Projeto Etanol, consistirá na instalação de um motor W32M da Wärtsilä, especialmente adaptado para funcionar com etanol. O equipamento será transportado para a unidade térmica por meio do Porto de Suape, com chegada prevista para setembro de 2025. Os testes de desempenho em escala real começam em fevereiro de 2026, com duração estimada de 4.000 horas — cerca de cinco meses e meio de operação contínua. A meta é avaliar a eficiência do etanol frente ao modelo tradicional de geração térmica.

Atualmente, a capacidade instalada da térmica Suape II é de 381 megawatts (MW), mas os planos da Suape Energia são ambiciosos. Com a aprovação dos testes e habilitação no leilão de capacidade, que pode ocorrer ainda em novembro de 2025, a planta poderá ser ampliada para até 600 MW, o suficiente para abastecer cerca de 2 milhões de residências brasileiras. O fornecimento será integrado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), auxiliando na segurança energética do país em momentos de baixa geração hídrica ou eólica.

Segundo a empresa, o projeto representa uma virada de chave ambiental e tecnológica, pois cada 100 MW de potência gerada com etanol evita o lançamento de 60 toneladas de CO₂ na atmosfera por hora. Com uma planta de 600 MW, isso equivale a uma economia de 3.600 toneladas de CO₂ por hora. É um ganho imenso para o meio ambiente e para a transição energética brasileira.

Além do impacto ambiental positivo, o projeto também deve gerar benefícios econômicos e sociais para a região. A expectativa da Suape Energia é empregar cerca de 2 mil profissionais na fase de implantação da nova planta. Outro ponto destacado é a possível redução do custo da energia para o consumidor final, já que o etanol tende a ser mais barato que o óleo diesel e o óleo combustível atualmente utilizados na geração térmica.

O fornecimento do biocombustível será prioritariamente feito com etanol produzido no próprio estado de Pernambuco e no restante do Nordeste, aproveitando a forte produção de cana-de-açúcar da Zona da Mata e a infraestrutura logística já disponível no entorno do porto. A proposta também está alinhada à estratégia de fortalecimento da cadeia produtiva local e à valorização de combustíveis de origem renovável e nacional.

O motor W32M faz parte do programa global de Pesquisa & Desenvolvimento da Wärtsilä, que contou com um investimento de € 296 milhões em 2024, com apoio da Business Finland, por meio do programa WISE – Wide and Intelligent Sustainable Energy. A Wärtsilä, apesar de fornecer a tecnologia, não possui participação acionária na usina, que tem como principais acionistas a Suape Energia (Grupo 4M), com 80% de participação, e a Petrobras, com os 20% restantes.

Se os testes forem bem-sucedidos e a planta for autorizada, a operação regular deve ser iniciada em janeiro de 2027, abrindo caminho para que a tecnologia seja replicada em outras regiões do país.