Pesquisa avança em captura de CO₂ na produção de etanol e reforça potencial do biocombustível na agenda climática
26-11-2025
Tecnologia desenvolvida por USP e UFC promete reduzir em até 95% as emissões da queima de biomassa
Por Andréia Vital
Uma pesquisa conduzida por uma equipe multidisciplinar liderada pelo engenheiro químico Marcelo Seckler, professor da Escola Politécnica da USP, abre caminho para um salto na sustentabilidade do etanol brasileiro. O grupo desenvolve uma tecnologia capaz de capturar até 95% do CO₂ emitido na queima do bagaço de cana durante a produção do biocombustível. Os resultados preliminares, divulgados pelo Jornal da USP, indicam que o método pode reduzir significativamente as emissões e até gerar “carbono negativo” quando aplicado à biomassa.
A iniciativa integra uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) e do INCT Capicua. O projeto combina modelagem matemática avançada, experimentos de bancada e a construção de equipamentos com geometria otimizada — uma solução que, segundo Seckler, melhora o escoamento dos gases e aumenta a eficiência da captura.
A tecnologia se distingue por utilizar adsorção em leito fluidizado com zeólita 13X, alternativa considerada mais econômica e menos intensiva em energia do que sistemas tradicionais de absorção líquida. “Estamos desenvolvendo um processo que pode ter menor consumo energético e menor custo que outras alternativas, o que facilita sua implementação em larga escala”, afirmou Seckler ao Jornal da USP.
Embora ainda na fase conceitual, o sistema demonstrou potencial competitivo, com custo estimado de US$ 55 por tonelada de CO₂ capturado. A equipe também estuda formas de mitigar limitações operacionais, como a interferência de vapor d’água e dióxido de enxofre nos gases, propondo etapas de pré-tratamento e a inclusão de trocadores de calor para reduzir o gasto energético da regeneração do adsorvente.
Além de fortalecer a descarbonização do etanol, a tecnologia poderia ser aplicada a outras biomassas, ampliando seu alcance no setor energético. Pesquisadores destacam que a captura de CO₂ proveniente de biomassa, considerada neutra em carbono, abre a possibilidade de emissões negativas — cenário relevante em um momento em que a COP30 discute a aceleração da mitigação global.
O RCGI, sediado na Poli-USP e financiado pela Fapesp e por recursos de P&D da indústria de petróleo e gás, conduz atualmente cerca de 60 projetos voltados à transição energética. O centro conta com cerca de 600 pesquisadores e mantém parcerias com instituições como Oxford, Imperial College, Princeton e NREL.

