Pesquisador do Instituto Biológico integra descoberta de novo gênero de nematoide no Brasil
19-12-2025
Espécie encontrada em folhas de corda-de-viola amplia conhecimento sobre a biodiversidade e homenageia referências da nematologia
Uma equipe de nematologistas brasileiros, com a participação do pesquisador Cláudio Marcelo Gonçalves Oliveira, do Instituto Biológico (IB-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, descreveu um novo gênero e uma nova espécie de nematoide foliar no país. Batizado de Monteironema caresi, o organismo foi identificado parasitando plantas do gênero Ipomoea, conhecidas popularmente como corda-de-viola.
A denominação da espécie presta homenagem a dois nomes centrais da nematologia brasileira, os professores Ailton Rocha Monteiro, da Esalq-USP, e Juvenil Enrique Cares, da Universidade de Brasília. A fusão dos sobrenomes simboliza a contribuição científica e o papel formador de ambos para diferentes gerações de pesquisadores.
O estudo teve início após o professor Robert Weingart Barreto identificar, no campus da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, folhas de Ipomoea cairica e I. syringifolia com sintomas típicos de nematoides foliares. O material foi encaminhado ao laboratório de nematologia da UFV, onde teve início a análise taxonômica.
A investigação foi conduzida por uma equipe liderada pela professora Dalila Sêni Buonicontro, da UFV, em colaboração com pesquisadores do Instituto Biológico e de outras instituições nacionais e internacionais. A caracterização do organismo envolveu análises morfológicas detalhadas e estudos moleculares, que demonstraram que o nematoide não se enquadrava em nenhum gênero conhecido da família Anguinidae.
Os resultados confirmaram tratar-se de uma linhagem independente, o que levou à criação formal de um novo gênero e espécie. O trabalho foi publicado no Russian Journal of Nematology.
Segundo Oliveira, a descoberta amplia o conhecimento sobre a biodiversidade de nematoides associados às plantas no Brasil e reforça a importância da taxonomia integrativa. “O estudo evidencia como a combinação de análises morfológicas e genéticas é fundamental para delimitar espécies com precisão e mostra que mesmo áreas amplamente estudadas ainda podem revelar organismos desconhecidos”, afirma.
Além do avanço científico, o pesquisador destaca que o trabalho contribui para o entendimento das interações entre nematoides e plantas hospedeiras. Esse conhecimento pode apoiar, no futuro, estratégias de manejo de espécies invasoras como a corda-de-viola, que compete com culturas agrícolas em diversas regiões tropicais. Os próximos passos incluem estudos em casa de vegetação para avaliar o potencial de parasitismo em outras plantas e verificar a distribuição geográfica do nematoide.
O nome Monteironema caresi sintetiza o reconhecimento à trajetória acadêmica e científica de Monteiro e Cares, ambos taxonomistas que tiveram papel decisivo na consolidação da nematologia no país. Para Oliveira, a escolha do nome representa mais do que uma reverência pessoal. “É uma forma de valorizar o legado de ensino, colaboração e rigor científico que sustenta a pesquisa brasileira na área”, observa.
Os indivíduos adultos de M. caresi medem entre 0,4 e 0,9 milímetro e apresentam três formas distintas, com fêmeas semi-obesas, fêmeas imaturas e machos delgados. O corpo é fusiforme, com cutícula finamente estriada e estilete curto e robusto, utilizado para perfurar os tecidos vegetais. O conjunto de características do sistema digestivo e reprodutivo diferencia o novo gênero de outros anguinídeos.
Ao contrário de muitas espécies da família, que provocam galhas e deformações, Monteironema caresi está associado a manchas foliares, um sintoma menos comum e de grande interesse para estudos ecológicos e de fitopatologia.
Redação com informações do IAC

