Petróleo volta a superar US$90/barril com conflito no Oriente Médio
25-10-2023

Boletim Cana 30: Reflexões dos fatos e números da cana em setembro/outubro e o que acompanhar em novembro

Por: Marcos Fava Neves

Na cana, a moagem alcançou o valor acumulado de 493,09 milhões de t desde o início do ciclo 2023/24 até 1° de outubro, variação positiva de 14,24% em relação ao mesmo período de 2022 (431,63 milhões de t), de acordo com o levantamento da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). Apenas na segunda metade de setembro, 44,78 milhões de t foram processadas ( 77,0%). Esse cenário reflete a maior quantidade de matéria-prima disponível nesta temporada.

Ao todo, 260 unidades estão em operação até então nesta safra: 243 processando cana-de-açúcar, 8 de milho e 9 são "flex". No ano anterior, o total de usinas em atividade era 242. Com relação à qualidade da matéria-prima, o ATR acumulado registrou valor de 140,13 kg/t (-0,58%). Enquanto isso, o mix de produção desde o início da safra está em 50,46% para o etanol e 49,54% para o açúcar. Mais uma vez, a variação continua subindo para o adoçante e caindo para o biocombustível.

No monitoramento do mercado de Créditos de Descarbonização (CBios), até o dia 06 de outubro, as distribuidoras adquiriram 24,91 milhões de títulos. Até o prazo final para cumprir a meta de 2022 (30 de setembro) a parte obrigada já havia emitido 38,66 milhões de créditos, ou seja, um excedente de quase 2 milhões da meta. Agora, o foco está na meta de 2023, de 37,47 milhões de CBios, que deve ser cumprida até março de 2024.

Segundo a consultoria StoneX, a temporada 2024/25 na região Centro-Sul do Brasil está prevista para registrar uma marca histórica na moagem de cana-de-açúcar, com uma produção estimada de 629,3 milhões de t, representando um incremento anual de quase 1%. Esse resultado supera o recorde projetado para a safra atual, que foi revisado para cima, atingindo 623,6 milhões de t. É importante notar que essa projeção de crescimento ocorre mesmo com a expectativa de uma redução na produtividade dos canaviais. O aumento da área colhida, que deve abranger 6% a mais, totalizando 7,78 milhões de ha, é um dos fatores que impulsionam esse cenário otimista. Além disso, a consultoria prevê que a concentração de açúcares na cana (ATR) aumentará cerca de 0,6%, atingindo 138,5 quilos por t, influenciada pelas condições climáticas previstas para 2024, com previsões de menor pluviosidade e temperaturas mais baixas.

Um estudo feito pela Organização das Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil (Orplana) revelou que os custos de produção estão excedendo as receitas. A pesquisa indica que os prejuízos são de R$ 17,3/t para os produtores, com custo estimado de R$ 182,2/t e receita em R$ 164,9/t, o que totaliza mais de R$ 1 bilhão em perdas, na área de atuação da Orplana.

No açúcar, a fabricação acumulada de 2023/24 fechou setembro em 32,62 milhões de t, um aumento de 23,77% frente as 26,35 milhões de t do ciclo anterior, ainda de acordo com a Unica. Olhando apenas para a segunda metade de setembro, a produção de açúcar foi de 3,36 milhões de t, o que representa um aumento significativo de 98,02% em relação ao observado na temporada anterior (1,70 milhão de t).

Em setembro, o Brasil exportou 3,2 milhões de t de açúcar, 6,3% a mais do que no mesmo mês de 2022, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Em receitas, foram US$ 1,60 bilhão arrecadados com o adoçante, 29,4% a mais, o que resultou em preço médio mensal de US$ 498,59/t ( 21,7%). No acumulado de 2023 (janeiro a setembro), já exportamos 21,0 milhões de t de açúcar ( 13,2%) e arrecadamos US$ 10,2 bilhões ( 38,5%). Na média acumulada, os preços da t do adoçante estão em US$ 485,66/t.

A Índia prolongou suas restrições às exportações de açúcar para além de outubro, visando reduzir os preços domésticos antes das eleições estaduais. A medida impacta os preços internacionais que já estão em níveis elevados, alimentando preocupações com a inflação global dos alimentos. Essas restrições já estão em vigor há dois anos, com cotas de exportação para usinas. Na última temporada, a Índia permitiu a exportação de apenas 6,2 milhões de t de açúcar, em comparação com 11,1 milhões de t na temporada anterior.

Em relação aos preços o contrato de mar/2024 na bolsa de Nova York estava em 27,29 cents/lb na data de fechamento da nossa coluna. Em Londres, as negociações para o mesmo período (mar/2024) fecharam em 731,10/t. A manutenção dos preços do açúcar em níveis elevados pode ser explicada pelo atraso dos embarques do açúcar no Brasil e pelas expectativas mais baixas de oferta na Índia e Tailândia.

Segundo a Archer, as usinas brasileiras já fixaram cerca de 10 milhões de t de açúcar para 2024/25, a preços médios de 21,80 cents/lb. Estima-se que as exportações girem em torno de 26 milhões de t no próximo ciclo, o que indica que 38,75% do volume já fora fixado. Há um ano, o avanço era bem próximo, de 39,0%, mas os preços médios foram de 17,31 cents/lb.

Já o Açúcar Cristal Branco em São Paulo (Cepea/Esalq) estava cotado em R$ 156,72/sc (50kg) em 19/10, uma leve alta mensal de 0,63%. Em agosto, a média mensal de preços foi de R$ 135,27/sc, subimos a R$ 151,20/sc em setembro e nas parciais de outubro, estamos com R$156,44/sc.

No etanol, segundo a Unica, a produção acumulada de etanol do começo de abril até 1° de outubro alcançou 23,43 bilhões de litros ( 8,83%). Deste total, 13,81 bilhões de litros são de hidratado ( 6,56%) e 9,62 bilhão correspondem ao anidro ( 12,26%). O biocombustível produzido a partir do milho já totaliza 2,99 bilhões de litros, um avanço significativo de 44,21% em comparação ao mesmo período do ciclo passado.

Por sua vez, as vendas de etanol somaram 2,76 bilhões de litros em setembro, aumento de 3,15% em relação ao mesmo mês de 2022. Desse volume, 1,00 bilhão de litros se referem ao tipo anidro (-12,22%) e 1,76 bilhão de litros do hidratado ( 14,64%). No mercado interno, o consumo mensal do hidratado atingiu um pico para o mês (1,65 bilhão de litros), marcando um aumento anual significativo de 18,45%.

A Indonésia planeja retomar seu programa de mistura de etanol na gasolina como parte de sua estratégia para promover fontes de energia renovável. Recentemente o país iniciou as vendas de gasolina com 5% de etanol em duas cidades e agora planeja estudar a possibilidade de aumentar a mistura para 7%, visando a redução de emissões.
A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) projeta um crescimento significativo para o etanol de milho nos próximos anos, chegando a 10,9 bilhões de litros até 2031/32. Além disso, o etanol de milho desempenha um papel essencial para manter a robustez do mercado de etanol no Brasil, especialmente em momentos em que o açúcar tem remuneração mais alta para as usinas sucroenergéticas.

A Yara planeja substituir o gás natural de origem fóssil por biometano em sua unidade de Cubatão (SP), onde é produzida amônia, tornando-a "amônia verde" ou "amônia de baixo carbono". A transição será gradual, começando com 3% do consumo total, com o objetivo de alcançar a totalidade até 2030. Essa mudança tem o propósito de descarbonização, não resultando, por enquanto, em redução de custos. A empresa acredita que o biometano permitirá uma redução de 80% nas emissões de gases de efeito estufa na unidade.

Em relação aos preços, os dados disponibilizados pela SCA em 19 de outubro apontam que o hidratado estava em R$ 2,710/l e o anidro em R$ 2,570/l na cidade de Ribeirão Preto (SP), com impostos já contabilizados.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em novembro na cadeia da cana:

1. A guerra entre Israel e o Hamas e uma possível escalada do conflito no Oriente Médio, o que tem afetado de forma expressiva o mercado do petróleo. Um dia antes dos bombardeios, em 06 de outubro, o barril do Brent era cotado em US$ 84,07 e chegou a US$ 93,76 em 20 de outubro. Alguns especialistas já afirmam a possibilidade de os preços ultrapassarem os US$ 100/barril, a depender dos próximos episódios.

2. Avaliar os impactos que a alta no petróleo poderão trazer nos preços de diesel (custos de produção) e da gasolina, podendo estimular a escolha do etanol hidratado vis-à-vis a fonte fóssil. Em setembro, as vendas do hidratado cresceram 14,6%.

3. Reta final na moagem da safra 2023/24 no Centro-Sul e a avaliação dos números finais. Novembro é um mês em que muitas usinas finalizam as operações.

4. Os efeitos que o El Niño podem trazer para as lavouras, já pensando em 2024/25. Apesar da previsão de alta na moagem, a produtividade deve ser inferior (previsão de momento), considerando a expectativa de menores chuvas e temperaturas mais baixas em 2024.

5. Por fim, seguir de olho no mercado global de açúcar, com destaque para: as novas restrições da Índia para exportações do produto em período pré-eleitoral; os atrasos no transporte (logística e chuvas) e no embarque (portos sobrecarregados) do açúcar brasileiro; a previsão de baixa na moagem de cana-de-açúcar em 2023/24 na Ásia (destaque para China e Tailândia); e as movimentações das usinas em relação a fixação de preços para o próximo ciclo.

Valor do ATR

Em setembro, o Açúcar Total Recuperável (ATR), divulgado pelo Consecana, fechou o mês com preços em R$ 1,2051/kg, 1,0% a mais do que em agosto. Resgatando aqui o histórico da safra 2023/24: abril estava em R$ 1,2129/kg; maio fomos a R$ 1,1943/kg; junho pulamos para R$ 1,2223/kg; julho ficou com R$ 1,2153/kg; agosto, nova queda, fechando em R$ 1,1930/kg; e em setembro, voltamos a R$ 1,2051/kg. Com o resultado de setembro, o ATR acumulado está em R$ 1,2107/kg. Nossa previsão é de que fique entre R$ 1,20 e R$ 1,23/kg até o término da safra 2023/24, em abril do próximo ano.

Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto - SP) da FGV (São Paulo -- SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto -- SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio.

Vinícius Cambaúva
Associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor "In Company" na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande
Consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Fonte: Udop