Plásticos, poder e política: o que o INC-5.2 sinaliza para a COP-30 e o futuro da economia verde
14-08-2025
As discussões acaloradas desta semana em Genebra, durante o INC-5.2, expõem uma fratura geopolítica que vai muito além do combate à poluição plástica.
Por Edmundo Barbosa
O encontro que será encerrado nesta quinta-feira 14 de agosto, convocado para fechar um tratado global juridicamente vinculante sobre o tema, tornou-se palco de um embate previsível: de um lado, países e blocos que defendem metas claras para redução da produção de plástico virgem e eliminação de químicos nocivos; do outro, uma frente articulada de nações petroquímicas e seus aliados corporativos, empenhada em esvaziar o texto final e limitar compromissos à reciclagem e ao redesenho de produtos.
O memorando do governo Trump, vazado dias antes do encontro, cristaliza a estratégia dessa ala: rejeitar qualquer teto de produção e deslocar o debate para a gestão de resíduos, área que transfere custos e responsabilidades para países importadores e comunidades locais. A presença de mais de 230 lobistas da indústria na conferência evidencia o peso político e econômico por trás dessa resistência.
Impactos para a COP-30
O impasse em Genebra não é um episódio isolado. A COP-30, marcada para 2025 em Belém, herdará inevitavelmente as tensões e alianças que se cristalizam agora. A forma como o tratado sobre plásticos for ou não assinado moldará a narrativa climática e ambiental que chegará à Amazônia. Se o texto final for diluído, a COP-30 corre o risco de se transformar em mais um palco de promessas, com avanços mínimos frente à escala do problema.
O Brasil, anfitrião da COP-30, está numa encruzilhada. Com tradição diplomática de mediador e credenciais ambientais — especialmente no campo dos biocombustíveis e da química verde — o país pode usar sua posição para propor compromissos equilibrados que conciliem justiça climática, inovação tecnológica e viabilidade econômica. Mas isso exigirá clareza estratégica e coragem política para enfrentar interesses de exportadores e importadores de resinas petroquímicas.
O custo crescente dos resíduos
Enquanto as negociações se arrastam, o custo de processar resíduos plásticos cresce exponencialmente. Segundo dados internacionais, o manejo, reciclagem e descarte seguro representam centenas de bilhões de dólares anuais no mundo — e essa conta é paga majoritariamente por governos locais e contribuintes. No Brasil, o custo médio de destinar resíduos sólidos urbanos a aterros sanitários ou usinas de triagem varia entre R$ 350 e R$ 500 por tonelada, sem incluir os custos ambientais e de saúde pública da poluição por microplásticos.
O modelo atual — de produzir, consumir, descartar e transferir custos — é economicamente insustentável. Apenas 9% do plástico produzido globalmente é reciclado; o restante segue para aterros, incineração ou, pior, para rios e mares.

O papel dos plásticos verdes
Nesse cenário, o plástico verde brasileiro, derivado da cana-de-açúcar, desponta como alternativa estratégica. Produzido a partir de etanol, é quimicamente idêntico ao polietileno convencional, mas captura CO₂ durante a produção da matéria-prima e é reciclável nas cadeias já existentes. A líder mundial Braskem mantém capacidade de 200 mil toneladas/ano grande parte destinada à exportação. (menor que 1% do volume de produção global),
O desafio, porém, é de escala e custo. Embora ambientalmente vantajoso, o Green Polietileno ainda é mais caro que o polietileno petroquímico, especialmente em períodos de petróleo barato. Para competir globalmente, será necessário ampliar a produção, otimizar processos, criar incentivos fiscais e, principalmente, internalizar os custos ambientais do plástico convencional — algo que as nações petroquímicas relutam em aceitar.
Entre o atraso e a oportunidade
O que está em jogo no INC-5.2 vai muito além da gestão de resíduos: trata-se de decidir quem paga a conta e quem lucra na transição para uma economia de baixo carbono. A resistência dos grandes produtores de petróleo e resinas é compreensível do ponto de vista econômico, mas insustentável do ponto de vista planetário.
Se o Brasil assumir liderança e articular uma coalizão de países produtores de bioplásticos e matérias-primas renováveis, poderá chegar à COP-30 com uma agenda positiva e concreta — alinhando desenvolvimento econômico, inovação industrial e compromisso ambiental. O fracasso em Genebra, por outro lado, não apenas comprometerá o tratado sobre plásticos, mas também sinalizará que, mesmo diante de riscos claros e custos crescentes, a política global ainda prefere adiar soluções. Qual a sua posição sobre esse tema?
Edmundo Barbosa - presidente-executivo do Sindalcool
Kiara Duarte
Fonte: Sindalcool

