Polo canavieiro busca opções para crescer e não ficar dependente da RB 867515
19-04-2023
Setor bioenergético da região que abrange o Espírito Santo, Nordeste de Minas, Sul da Bahia e Rio de Janeiro, busca a diversificação de variedades e o uso de novas tecnologias para o aumento da produtividade
Por Renato Anselmi
Fotos cedidas pelos pesquisadores
A necessidade de diminuir o plantio da variedade RB867515 na área de cana da região que abrange o Espírito Santo, Nordeste de Minas, Sul da Bahia e Rio de Janeiro, tem mobilizado usinas, produtores e pesquisadores. Eles estão empenhados em alterar essa situação e criar possibilidades para o aumento da produtividade. O índice de plantio da RB867514 está em 63% nesse polo canavieiro, com exceção do Rio de Janeiro, que tem percentual ainda mais elevado.
A preocupação é realizar a substituição com qualidade, utilizando variedades que tenham o mesmo potencial da RB867515 – afirma Josil de Barros Carneiro Júnior, que é coordenador técnico do programa de melhoramento genético de cana-de-açúcar - PMGCA/Ridesa, da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). As novas variedades devem ter condições de suportar o déficit hídrico da região, que é muito seca e tem uma baixa precipitação média anual.
Alguns materiais já começam a apresentar perspectivas promissoras, como as variedades RB108519 e RB108544, além dos clones RB128519 e RB127825. “Todas essas variedades possuem boa tolerância ao déficit hídrico. Elas sentem a falta de umidade. Mas, têm um bom comportamento de superação. Quando chove, recuperam. Aproveitam a umidade. Crescem de maneira rápida”, comenta Josil de Barros.
Segundo ele, o plantio dessas variedades, que são muito novas, está entre 1% a 2%. No total, ocupam em torno de 5% da área de aproximadamente 8 milhões de hectares dos canaviais pertencentes às unidades dessa região que têm convênio com a Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético). “Todo mundo está procurando muda. Quem tem, está multiplicando”, observa.
“A preocupação é realizar a substituição com qualidade, utilizando variedades que tenham o mesmo potencial da RB867515”, afirma Josil de Barros Carneiro Júnior
A busca pela diversificação de materiais, que faz parte dos esforços dos setores de pesquisa e produção da região, foi inclusive um dos principais assuntos abordados no XX Encontro Técnico da ERES da UFRRJ (Estação Experimental Regional do Espírito Santo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), realizado em outubro de 2023 em Conceição da Barra, ES.
“A cultura da cana-de-açúcar tende a crescer na região, que tem área para expansão. A questão é fazer isso de maneira sustentável por meio de variedades e práticas, como irrigação”, afirma Josil de Barros, que foi um dos coordenadores e palestrante do evento.
Segundo ele, o setor está se recompondo, se reestruturando, nos últimos anos, na região. Houve o fechamento de unidades. Mas, agora, o momento é outro. “O pessoal está animado. Produtores e usinas estão buscando novas tecnologias, inclusive em outras regiões, atentos ao que está acontecendo”, comenta.
No Nordeste de Minas Gerais e no Sul da Bahia, existe a possibilidade de
instalação de novas unidades – observa o engenheiro agrônomo Luís Cláudio Inácio da Silveira, do PMGCA/UFV (Programa de Melhoramento Genético de Cana-de-Açúcar da Universidade Federal de Viçosa), de Viçosa, MG. Há ainda expectativa do retorno de operação da Alcana, localizada em Nanuque, MG, o que possibilitará a incorporação de aproximadamente 15 mil hectares de cana-de-açúcar à região – diz o pesquisador.
Outros materiais – No evento realizado no Espírito Santo, foram também apresentados variedades e clones potenciais desenvolvidos pelo PMGCA/UFV, que já estão sendo multiplicados no Nordeste de Minas Gerais, Espírito Santo e Sul da Bahia, a partir do intercâmbio que ocorre entre as universidades.
“Esta estratégia possibilita melhor conhecimento dos clones e variedades quanto à resposta de adaptabilidade e estabilidade em condições edafoclímaticas diversificadas”, afirma Silveira.
“Todo esse material bem manejado torna-se alternativa interessante para produtores e usinas”, salienta Silveira
Entre as variedades liberadas pelo programa da Universidade Federal de Viçosa, Silvera informa que as RB987935, RB988082 e RB937570 e os clones RB127825, RB097217, RB977526, que têm apresentado bom desempenho. Como a Ridesa trabalha com a integração de universidades, outros clones e variedades foram disponibilizados – detalha – e estão apresentando também resultados satisfatórios, como: RB975242, RB975053, RB975201, RB97818, RB005014, R041443, RB036152.
“Todo esse material bem manejado torna-se alternativa interessante para produtores e usinas. Quando é precoce, a variedade RB937570 deve ser alocada em solos leves, apresenta florescimento, não tem chochamento nos entrenós, mantém peso e excelente ATR”, exemplifica.
A substituição da RB867515 tem que ocorrer, no entanto, com segurança. Além de considerar os resultados experimentais, é preciso conhecer melhor o comportamento das novas variedades em área comercial para consolidar a substituição – alerta Luís Cláudio. Dessa forma, é possível evitar falhas no manejo que ocasionariam o mau aproveitamento de uma variedade comercial com potencial – observa.
Clone RB128519 - cana planta com 14 meses
Manejo varietal – “Os produtores e as usinas estão conscientes de que precisam buscar outras opções. Em 2023 haverá um plantio maior de variedades mais novas e promissoras”, prevê Josil de Barros, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. De acordo com ele, a falta de alternativas limita o manejo varietal na região. “A RB867515 é uma variedade média a tardia na maturação. Com índice elevado de plantio, essa variedade é colhida o ano todo. A partir do momento que aumentar o uso de outros materiais, vai haver opções para o manejo”, observa.
Em muitas áreas de produção de cana-de-açúcar dessa região, a RB867515 é colhida o ano todo. Como consequência disso, cai o ATR (Açúcar Total Recuperável) no início de safra, pois ela não foi desenvolvida para ser colhida nesse período – explica o coordenador técnico do programa de melhoramento genético da UFRRJ.
A produtividade no Sul da Bahia, que oscila entre 75 e 80 TCH (toneladas de cana por hectare), está acima da média da região. No Espírito Santo, fica entre 65 a 70 TCH. No Rio de Janeiro, o resultado é abaixo desses índices. Os produtores desse estado estão investindo em viveiros para ampliar a renovação dos canaviais e na diversificação de variedades – informa Josil de Barros.
A irrigação é outro assunto que começa a fazer parte da agenda dos produtores e usinas da região. “O déficit hídrico é um desafio. A nossa região é bastante seca. Mas, a área irrigada é muito pequena. Agora, o pessoal está vendo a necessidade de investir nessa tecnologia, pois é preciso ter estabilidade de produção. Em 2022, a safra no Rio de Janeiro acabou em setembro”, comenta.
A sobrevivência da RB867515 – Enquanto a substituição da RB867515 não ocorre em áreas maiores em algumas regiões canavieiras, é preciso utilizá-la da melhor maneira possível devido à necessidade do plantio de variedades que possam apresentar respostas a ambientes restritivos.
Para melhorar o desempenho da RB867515, além do uso de mudas de qualidade – o que vale também para as demais variedades –, é preciso usar maior número de gemas por metro linear de sulco, na faixa de 18 gemas, recomenda Silveira. E ele faz isto com conhecimento no assunto, pois participou diretamente do desenvolvimento da RB867515. “Foi uma experiência fantástica”, afirma.
De acordo com o pesquisador, no decorrer das fases de seleção já foi constatado o bom desempenho do clone RB867515. “Passamos a multiplicá-lo paralelamente aos demais, confiantes que seria uma variedade futura devido às características observadas e seu desempenho em áreas de baixa fertilidade. Já demonstrava também boa tolerância à seca”, destaca.
Além da realização de trabalhos experimentais, houve a expansão em campos semicomerciais nas unidades de Minas Gerais. “Cresceu rapidamente em áreas do Paraná, sendo até os dias atuais variedade de destaque no estado de São Paulo”, relata.
Clone RB127825 com sete meses - cana planta
Essa variedade teve problemas com a estria vermelha, o que inicialmente segurou sua expansão. “Mas, isto foi por pouco tempo, pois a RB867515 era recomendada para ambientes restritivos e no início foi alocada em solos de alta fertilidade. A variedade venceu desafios e ainda continua vencendo”, afirma
A RB867515 surgiu em uma situação de transição, sendo a ponte entre a extinção do Planalsucar e o início da Ridesa – recorda. “Foi a variedade que atendeu a expansão do setor no momento que mais precisava devido a expansão da cana para áreas restritivas”, observa.
Microorganismos benéficos - A irrigação, a diversificação e o manejo de variedades não são os únicos recursos tecnológicos que estão despertando interesse de produtores e usinas da região que inclui o Espírito Santo, Nordeste de Minas, Sul da Bahia e Rio de Janeiro. Eles estão atentos a novas tecnologias e procedimentos no campo, entre os quais, o uso de microorganismos benéficos e substâncias húmicas na cultura da cana-de-açúcar, que foi inclusive tema da palestra do professor da UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro), Fábio Lopes Olivares, no XX Encontro Técnico da ERES da UFRRJ, realizado em Conceição da Barra, ES.
“Os produtos industriais e biológicos são importantes como estratégias para a agricultura”, diz Olivares
“Os produtos industriais e biológicos são importantes como estratégias para a agricultura. Mas, se a gente puder incorporar cada vez mais insumo biológico na propriedade agrícola ficaremos menos dependentes das crises mundiais”, ressalta. Segundo ele, essa medida vai trazer segurança, soberania e emancipação ao agronegócio em relação ao preço desses insumos, basicamente fertilizantes e insumos agrícolas, que impactam muito os custos de produção, a ponto de o próprio agronegócio começar a procurar alternativas de produtos biológicos.
“O Brasil é uma potência agrícola. Mas, paradoxalmente, depende dos meios de produção. Importa quase que a maioria dos fertilizantes que precisa para manter as plantas crescendo no campo: 90% do nitrogênio, 85% do fósforo, 85% do potássio. Sob o ponto de vista estratégico, isso é muito ruim para o Brasil”, comenta. De acordo com ele, qualquer problema mundial, como reserva de mercado da China, a guerra da Ucrânia, provoca um aumento significativo nos preços dos insumos, que são cotados em dólar.
Em decorrência dessa situação, a comercialização de bioinsumos cresce de forma exponencial – constata. Enquanto o mercado mundial desses produtos registra um aumento em torno de 15% a 19%, no Brasil está crescendo 40% – compara. Muitas empresas estão começando a produzir e comercializar produtos biológicos.
Outros materiais com perspectivas promissoras: variedade RB108519 (à esquerda) e clone RB127825 (à direita)
“Microrganismos benéficos e substâncias húmicas são partes importantes dos bioinsumos, que estão realizando uma revolução no campo nos últimos cinco anos”, ressalta. Fábio Olivares, que é PhD em Ciência do Solo, apresentou no encontro de Conceição da Barra algumas soluções biológicas que são desenvolvidas a partir de microorganismos. A cana naturalmente já possui microorganismos benéficos. “As pessoas sempre associam bactérias e fungos a malefícios. Mas, 99% das relações entre os micróbios e os homens e as plantas são benéficas”, afirma.
O trabalho do pesquisador da UENF é desvendar essas relações. Ele faz prospecção no campo, coletando e isolando microorganismos para recuperar as frações que estão vivas e caracterizá-los. Esses microorganimos são testados em condições de laboratório, na casa de vegetação, em pequenas parcelas no campo. “Seleciono os melhores”, observa.
Dessa seleção, é feito o inoculante microbiano, que gera um produto formulado, adquirido pelo produtor em uma casa de agricultura e aplicado no campo – diz Olivares. “Assim como tem o sulfato de amônio, a ureia, a fonte de fósforo, existem microorganismos capazes de fornecer nutrientes na forma de inoculante microbiano. A gente chama de efeito biofertilizante”, explica.
Um dos principais microorganismos utilizado na agricultura para gramíneas e cana-de-açúcar é o Azospirillum brasilense – exemplifica. “Essa é uma bactéria do solo, capaz de fixar nitrogênio biologicamente. Um importantíssimo processo na agricultura é o fornecimento de nitrogênio de uma forma natural, a partir de um processo microbiano natural. Além de fixar nitrogênio, essa bactéria secreta compostos bioativos com atividade hormonal, que ajudam no enraizamento e no crescimento da cana”, afirma.
Outro produto importante para cana é desenvolvido a partir da Gluconacetobacter, bactéria endofítica que vive dentro do colmo da cana. “Se uma pessoa tomar um caldo de cana, está ingerindo essa bactéria. Não haverá consequência negativa. Ela é, de fato, benéfica”, enfatiza. Há ainda outra bactéria muito conhecida, que fixa nitrogênio, produz hormônios e induz tolerância à seca, chamada Herbaspirillum.
A Gluconacetobacter fixa nitrogênio e produz hormônios. Age por dentro do corpo da planta. É muito parecida com a Azospirillun brasiliensi, que fica mais fora do corpo da planta – explica. “Desempenham funções ecológicas complementares. A gente combina microorganismos rizosféricos e endofíticos para melhorar a eficiência do processo”, diz. Bacilos também são muito usados para controle de nematóides – informa. Há microorganismos para diversos papéis. “Os inoculantes microbianos podem ser formulados para diferentes fins. Por isso, não existe um inoculante universal, que vai resolver todas as questões no campo da cultura da cana”, esclarece.
Para cada produto químico industrial, tem uma alternativa biológica – enfatiza Olivares. Entre as diversas soluções de bioinsumos, incluem-se: biofertilizante, bioestimulador, bioprotetores para controle de fungo, nematoide, ácaros, além de produtos para déficit hídrico, térmico. “Existem soluções biológicas complementares ao que já existe na agricultura convencional baseado na indústria moderna. Há alternativas, dependendo da espécie de bactéria, que podem ser aplicadas para cana, sempre com esse espírito de redução de custos de produção, diminuição dos impactos ambientais locais e globais”, comenta.
Substâncias húmicas – Substância húmica é a matéria orgânica estabilizada. Daquela terra preta, bonita, que veio, por exemplo, de uma compostagem, é possível extrair frações, com base em tratamento base ou ácido – explica Fábio Olivares. O ácido húmico é essa fração da terra preta, que é solúvel em base, por exemplo, hidróxido de potássio, hidróxido de sódio, e depois é precipitada com ácido. É um bioestimulante, com elevada atividade indutora do crescimento da planta – destaca Olivares.
Há também o ácido fúlvico, que é solúvel em base. O mais utilizado é o ácido húmico. Esse é também é um mercado muito pujante – observa o professor da UENF. As principais fontes são as reservas de turfas e de leonarditas (não existentes no Brasil). “A extração do ácido húmico no país ocorre nas turfeiras, aquela terra preta de baixada. Após a realização do tratamento químico, há estabilização do produto, o envasamento e, seguida, a comercialização”, diz.
A aplicação de ácidos húmicos, em altas doses, na cultura da cana é voltada para o condicionamento do solo. Esse procedimento aumenta o conteúdo de matéria orgânica, que organiza melhor a estrutura do solo, formando poros que podem conservar mais água e aerar o solo – detalha. A matéria orgânica retém os nutrientes, impedindo que eles sejam perdidos para a atmosfera ou para o lençol freático, formando uma espécie de esponja que os absorve. É fonte de carbono e outros nutrientes. “Matéria orgânica tem um impacto na química, na física e na biologia do solo”, ressalta.
Outra vertente do ácido húmico, apresentada por Olivares, é a utilização em pequenas dosagens, de 4 a 20 miligramas por litro. Nesse caso, ele é o indutor de processos de estimulação na planta, melhorando o enraizamento e, consequentemente, a exploração de nutrientes do solo – diz. “O ácido húmico trabalha de uma forma sinérgica com microorganismos. “Essa foi uma patente do nosso grupo. Eu e o professor Luciano Canellas, especialista em química das substâncias húmicas, depositamos essa patente em 2006 no INPI, que já foi quebrada, porque passaram mais de dez anos”, conta.
O interesse pela tecnologia, salienta Olivares, sobre a utilização combinada de bactérias benéficas e ácidos húmicos, tem aumentado. O uso dessa combinação já ocorre, por exemplo, nos estados de São Paulo, Paraná e Espírito Santo. “Produtores combinam substâncias húmicas com os nutrientes. formulam com fertilizantes, com aminoácidos. Tem muita gente usando substância húmica como veículo, aplicando a ureia com a substância húmica. Essa medida melhora o aproveitamento da ureia, porque reduz perdas e aumenta a capacidade da raiz absorver esses nutrientes”, afirma.
A utilização conjunta de bactéria e substâncias húmicas ainda é um processo que poucos adotaram – esclarece o pesquisador. A tendência é aumentar. O uso isolado de substâncias húmicas, no território nacional, é muito grande, não só como condicionador, mas também como bioestimulante – destaca. Essas tecnologias podem ser aplicadas para todas as culturas.
O Brasil tem muita maturidade nas pesquisas de bioinsumos – comenta Olivares –, incluindo as que são baseadas em microorganismos benéficos e substâncias húmicas. O próprio Fábio Olivares fundou em 2009 um grupo científico, tecnológico e de inovação conhecido pela sigla Nudiba (Núcleo de Desenvolvimento de Insumos Biológicos para a Agricultura).
MicroNIR – Outra tecnologia que começa a despertar o interesse de produtores e pesquisadores é o MicroNIR – também conhecido como NIR Portátil –, que permite analisar a cana no próprio campo, sem a necessidade da destruição do material (colmo da cana) e uso de reagentes para avaliações em laboratório, como ocorre no sistema convencional. O tema foi também abordado no XX Encontro Técnico da ERES da UFRRJ pelo pesquisador Thiago Balsalobre, integrante da equipe do programa de melhoramento genético de cana-de-açúcar (PMGCA/Ridesa), da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), campus de Araras, SP.
“Após ser consolidada, essa tecnologia diminuirá o custo operacional, pois não envolve o laboratório nas análises e reduz mão de obra”, informa Balsalobre
É preciso ‘ensinar’ o equipamento (com tamanho similar a de um microfone) sobre o que é teor de sacarose e outros parâmetros para que não haja variabilidade de dados – exemplifica Balsalobre. É uma calibragem “Os parâmetros – os mesmos avaliados no sistema convencional –, medidos pelo equipamento, são: teor de sacarose, açúcar redutor, açúcar total recuperável, Pol da cana, Pol do caldo”, detalha Thiago Balsalobre, que realizou a palestra “Validação do NIR Portátil como ferramenta de avaliação de parâmetros tecnológicos da cana-de-açúcar para uso pelo melhoramento genético” no evento de Conceição da Barra.
Após ser consolidada, essa tecnologia diminuirá o custo operacional, pois não envolve o laboratório nas análises e reduz mão de obra. O uso desse equipamento não exigirá também um maior desenvolvimento da planta no campo, durante o experimento, para fazer alguns levantamentos e avaliações sobre o comportamento de variedades e clones. A tecnologia de análise por infravermelho próximo (NIR – Near Infrared), que é usada nessa ferramenta, não requer equipamentos grandes de bancada, de alto custo e operação complexa, utilizados no laboratório.
“Vai permitir maior eficiência no processo de melhoramento genético. Avalia um maior número de plantas em menor tempo”, salienta Thiago Balsalobre, que faz parte da equipe da PMGCA/Ridesa, da UFSCar, que realiza a pesquisa voltada ao desenvolvimento dessa ferramenta.
Outra possibilidade de uso NIR Portátil é no dia a dia da atividade agrícola para avaliação de parâmetros da cana-de-açúcar de maneira mais ágil e com redução de custo. “Isto pode ser vislumbrado para o futuro, não nesse momento. Exige investimento”, esclarece.
Um exemplo de utilização do NIR Portátil no campo é a verificação da maturação no talhão para a colheita. “Requer uma curva de calibração pensada para isto. Para ter uma curva bem-feita, demora em torno de cinco anos, com recalibração”, calcula
Segundo Balsalobre, a prioridade tem sido a viabilização desse equipamento para contribuir e aprimorar as avaliações requeridas no processo de desenvolvimento de novas variedades. Para isto, a construção da curva de calibração do NIR Portátil exige muitas repetições e amostragens. “Não é um trabalho simples”, afirma.
O equipamento faz dois tipos de validação: uma interna e outra, externamente. “Essa validação externa é a que estamos fazendo nesse momento. Depois que a gente concluir a validação externa, poderemos acertar alguns pontos no sentido de diminuir algum erro”, afirma.
A previsão é que no final de 2023 algumas fases estejam integradas no programa de melhoramento. “Os resultados são positivos e promissores. Entendemos que a estratégia que adotamos para a construção da curva foi bem-sucedida”, avalia.
Participantes do XX Encontro Técnico da ERES da UFRRJ realizado em outubro de 2023
Usinas e produtores - O XX Encontro Técnico da ERES da UFRRJ contou com a participação de aproximadamente 80 pessoas, entre as quais, representantes da Coagro (Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro) e da Asflucan (Associação Fluminense dos Plantadores de Cana), ambas de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro; das usinas Paineiras, de Itapemirim, Lasa Bioenergia (Grupo JB), de Linhares, e Alcon, de Conceição da Barra, do Espírito Santo; da BEL (Bahia Etanol), de Ibirapuã, e da Usina Santa Maria, de Medeiros Neto, da Agro Unione (unidade produtora de cana) do Sul da Bahia e da Dasa (Destilaria de Álcool de Serra dos Aimorés), de Serra dos Aimorés, do Nordeste de Minas Gerais, além de pesquisadores e produtores de cana.

