Porto de Santos deixa de arrecadar mais de R$ 40 milhões para estimular práticas verdes em navios e terminais
14-11-2025

Iniciativas de eficiência, energia renovável e gestão climática baseada em dados fortalecem a transição energética no complexo santista.

Enquanto o Brasil ganha protagonismo na agenda climática global durante a COP30, o Porto de Santos avança para se firmar como referência nacional em logística de baixo carbono. A Autoridade Portuária de Santos (APS) vem adotando um conjunto de ações voltadas à transição energética e à redução de emissões, alinhadas às diretrizes da Organização Marítima Internacional (IMO) e aos compromissos climáticos assumidos no Acordo de Paris.

Desde 2023, a APS já concedeu cerca de R$ 40,6 milhões em descontos tarifários para navios e terminais que adotam práticas sustentáveis. Somente em 2025, os incentivos somam R$ 16,8 milhões. A renúncia fiscal é direcionada a operações que apresentam inventários completos de emissões, detalhamento da matriz energética ou que utilizam embarcações enquadradas em padrões internacionais mais rigorosos de ruído e carbono.

Segundo o presidente da APS, Anderson Pomini, a política faz parte de uma visão estratégica: incentivar a modernização ambiental da cadeia portuária. “Não tratamos como perda de receita, mas como investimento no futuro do Porto. A sustentabilidade se tornou diferencial competitivo e posiciona Santos entre os portos mais alinhados às exigências globais”, afirma.

O setor marítimo responde por 80% do comércio mundial e cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, o que torna os portos peças centrais na agenda climática. Em outubro, a APS firmou contrato com a Fundação Valenciaport para elaborar o Plano de Descarbonização e o Plano Diretor Energético (PDE) do complexo santista. Os estudos, com prazo de 22 meses, irão definir metas e ações para reduzir emissões nas operações portuárias, incluindo atividades terrestres, ferroviárias e marítimas.

O PDE, por sua vez, definirá caminhos para substituir gradualmente combustíveis fósseis por fontes mais limpas, fortalecendo a infraestrutura energética necessária para operações de baixo carbono.

Uma das iniciativas em andamento é a eletrificação do cais, que utiliza energia renovável gerada pela Usina Hidrelétrica de Itatinga para abastecer rebocadores que operam no porto. A APS negocia a ampliação do fornecimento, e estudos avaliam a repotencialização da própria usina, que pode futuramente produzir hidrogênio verde e ampliar o atendimento direto às operações portuárias.

A eficiência logística também integra o processo de descarbonização. Em parceria com o Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (PIT), soluções de gerenciamento do fluxo de caminhões e navios estão sendo desenvolvidas para reduzir tempos de espera e evitar emissões desnecessárias. Outro projeto estruturante é o VTMIS, sistema de monitoramento do tráfego marítimo que deve otimizar o fluxo de embarcações no canal de navegação.

Na transição energética, a APS também aposta na infraestrutura de gás natural da Baixada Santista como elemento estratégico para o abastecimento de embarcações que utilizam combustíveis de menor impacto ambiental.

Desde 2021, a APS elabora anualmente seu inventário de emissões de gases de efeito estufa com base no Programa Brasileiro GHG Protocol, metodologia reconhecida pela CETESB. O levantamento cobre áreas operacionais em Santos, Guarujá e Bertioga, além de mais de 19 milhões de m² de vegetação sob responsabilidade da autarquia.

Para Sidnei Aranha, superintendente de Meio Ambiente da APS, a integração de dados e iniciativas estruturais permite ao Porto de Santos avançar na construção de corredores marítimos verdes. “O inventário é a ferramenta que orienta nossas decisões. Ao conhecer nossa pegada de carbono, direcionamos investimentos para onde podem gerar mais impacto climático positivo”, afirma. Os relatórios são públicos e podem ser consultados no site da APS.